sábado, 20 de dezembro de 2014

CUBA VENCE QUEDA DE BRAÇO COM EUA



por Breno Altmann na Ópera Mundi

A decisão do presidente norte-americano, Barack Obama, de reatar relações diplomáticas com o Estado cubano e amenizar sanções econômicas, somente tem paralelo histórico com a Guerra do Vietnã.

Os Estados Unidos acreditaram, entre 1960 e 1975, que seu poderio militar e financeiro seria suficiente para subjugar os soldados de Ho Chi Minh e Giap. Mas as derrotas no campo de batalha, a mobilização pela paz dentro de suas próprias fronteiras e o desgaste internacional levaram o governo Nixon à capitulação.

A mesma soberba imperialista determinou o comportamento da Casa Branca frente à revolução cubana. Sucessivos presidentes, desde o triunfo liderado por Fidel Castro, acreditaram que seria possível estrangular o novo regime através da sabotagem, da intervenção armada e do bloqueio.

Há décadas era visível que esta estratégia, mais uma vez, estava fadada à derrota. Mas o peso da comunidade cubano-americana, associado às heranças ideológicas da Guerra Fria e à cultura hegemonista do capitalismo norte-americano, impedia o reconhecimento do fracasso.

Obama entrará para a história, com ajuda do papa Francisco, por ter tido a coragem de assinar rendição inevitável. Uma frase sua serve de síntese ao episódio: “estes cinquenta anos mostraram que o isolamento não funcionou, é tempo de outra atitude.”

Giro de Obama

Praticamente na metade de seu segundo mandato, sem preocupações eleitorais, o primeiro negro a ocupar o Salão Oval parece estar empenhado em reconstruir sua imagem junto aos setores progressistas que o apoiaram e se sentiam traídos por uma administração capturada pelo establishment.

O decreto que legaliza cinco milhões de imigrantes ilegais foi o primeiro passo relevante desta jornada de resgate biográfico. A declaração de reatamento das relações diplomáticas com Cuba, o segundo.

Lembremos que o bloqueio não está anulado, pois depende da decisão de um Congresso controlado pelos republicanos. Ser á batalha complicada e provavelmente prolongada. Obama optou, de toda forma, por ir ao limite de sua jurisdição política, como no caso dos imigrantes, peitando correlação desfavorável de forças no Parlamento.

Mesmo que o embargo ainda seja situação pendente, continuando a sufocar o funcionamento da economia cubana, é fato que o presidente norte-americano deu passo fundamental para enterrar a velha política de seu país acerca da ilha caribenha.

Os paradigmas imperialistas, registre-se, não foram alterados.

Basta ver a pressão que os Estados Unidos continuam a exercer, através do surrado cardápio de punições e sabotagens, contra governos que colidem com seus interesses, a exemplo da Venezuela.

No caso de Cuba, porém, a realidade se impôs.

Análises equivocadas

Não falta, é claro, quem prenuncie o colapso da revolução e seu sistema político-econômico em função do cenário de distensão: o socialismo cubano sucumbiria ao contato com recursos financeiros, valores e oportunidades oferecidos, a partir de agora, pelos Estados Unidos.

Repetem aposta feita no passado.

Diziam que Cuba não resistiria ao bloqueio e seus cidadãos, depois de alguns meses sob penúria e escassez, derrubariam Fidel Castro.

Quando o cavalo do embargo despontava como páreo perdido, veio o colapso da União Soviética. O regime liderado pelo Partido Comunista seria varrido logo mais, como ocorrera em outros países socialistas.

Outro erro dos clarividentes opositores, que deveriam ter aprendido a ser mais modestos em suas eloquentes previsões.

A revolução cubana, ainda que em meio a gigantescas dificuldades e graves erros, logrou sobreviver, construir alternativas e desenvolver notável capacidade de auto-reforma.

Aos poucos, com a vitória de partidos progressistas em diversas nações latino-americanas, o isolamento continental se reverteu e Cuba retornou a seu espaço natural, oxigenando a economia e a sociedade.

Os investimentos brasileiros e venezuelanos, entre recursos de diversas origens, são reveladores da capacidade cubana de erguer pontes e sair do casulo pós-soviético.

Talvez o porto de Mariel, financiado pelo BNDES, seja o empreendimento mais representativo e promissor desta etapa de reinserção. Poderá se constituir, com certa rapidez, na conexão do país e seus parceiros com o mercado mundial, além de pólo para a reindustrialização local e a consolidação de coalizão com a Am érica do Sul.

A despeito das sanções e arreganhos norte-americanos, a lenta recuperação cubana vem se afirmando através da integração regional, de forma autônoma e consistente.

Quem passou a ser assolado pela praga da solidão, a bem da verdade, foi o velho inimigo.

Os Estados Unidos, que no passado haviam colocado o subcontinente contra Fidel, passaram a conhecer forte tensão ao sul, abalando sua influência e alianças.

Uma das razões era exatamente a orientação discriminatória contra Cuba.

A gota d’água para a falência da geopolítica isolacionista materializou-se no impasse durante a preparação da Cúpula das Américas, prevista para julho de 2015, à qual os cubanos estavam convidados pelos Estados meridionais ao Rio Grande e vetados apenas pela Casa Branca.

Futuro

Os obstáculos no novo ciclo, é certo, serão imensos.

A ampliação dos fluxos comerciais e financeiros, além da disputa política e cultural, poderá afetar a estrutura do país mais igualitário da região, fundada sobre a universalização de direitos sociais.

Tradicionais adversários da revolução não pouparão esforços para minar a credibilidade e o funcionamento do sistema cubano, tentando impor mudanças que alterem profundamente a organização política e econômica.

Também buscarão se aproveitar da troca geracional, com o grupo dirigente de Sierra Maestra escrevendo o epílogo de sua jornada.

A direção castrista, vencido o bloqueio, paulatinamente terá que substituir o anti-imperialismo, como narrativa dominante, pelo convencimento prático e cultural, principalmente junto às gerações mais jovens, acerca da superioridade de seu sistema em comparação ao capitalismo.

A tarefa será complexa: não se trata apenas de provar que o socialismo à cubana tem maior capacidade de preservar inegáveis conquistas sociais, mas também sua permeabilidade a ajustes que permitam impulsionar um longo ciclo de desenvolvimento econômico e o aprofundamento da participação popular na política.

Apesar destes fantásticos desafios, os últimos acontecimentos, com Golias se curvando à resistência de Davi, deveriam servir de alerta para os oráculos do apocalipse cubano.

Há povos e dirigentes, em determinadas etapas da história, que não se curvam nem sequer diante dos mais duros sacrifícios para defender sonhos e projetos. Mesclam, ademais, vocação de resistir com inventividade para encontrar soluções adequadas.

A chegada dos últimos cubanos que estavam presos nos Estados Unidos desde 1998, julgados por espionagem, é recado humano e simbólico desta vontade nacional que a revolução, goste-se ou não de seus resultados, foi capaz de construir.

Não havia festa e alegria nas ruas pelos 53 prisioneiros que Raul Castro ordenara libertar, fruto da negociação com Obama, considerados de “interesse dos Estados Unidos”.

O júbilo era pelos compatriotas cujo retorno representa célebre vitória sobre o gigante que, há mais de cinqüenta anos, ameaça a autodeterminação de Cuba.


quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Acid Rock Festival em janeiro






Acid Rock Festival 2015

A 5ª Edição do Acid Rock Festival, Música & Artes Integradas acontece nos dias 10 e 11 de Janeiro no Sítio da Cascata na Cidade de Entre-Ijuís, região Noroeste do RS.

Para a Edição de 2015, além do camping, das peças teatrais e das oficinas, o festival preparou um cast explodidor de cabeças, com as melhores bandas do cenário independente do sul do país. Segue a lista:

Cuscobayo
Célula Soul
Los Cucarachos del Blues
Frida
Os Vespas Blues Rock
Cattarse
DR. HANK
Mar de Marte
Guantánamo Groove
Velho Hippie
Decoders
Marcus Manzoni
Maquinário Sonoro
Banda Os Guaipecas
Dones Primata
Bardoefada Banda
Luciano Alves

e preparem os corações que no meio de tudo isso aí ainda tem Frida Kahlo, à Revolução!

O segundo Lote de ingressos já está a venda, custando R$ 65,00 e deve ser feito via depósito bancário ou nos pontos de venda.

Além das atrações, o valor incluiu um copo personalizado do Festival.


Acid Rock no Facebook


Produtores do Noroeste recebem certificado de produção orgânica



Um marco na história de famílias rurais, que optaram por produzir alimentos com mais qualidade, e para os consumidores que buscam alimentação saudável e segurança alimentar foi registrado neste dia 16/12, com a entrega oficial dos certificados de conformidade orgânica a produtores do Noroeste gaúcho. O evento ocorreu com a presença de lideranças e agricultores de 18 municípios, durante Plenária da Rede Ecovida de Agroecologia, no município de Dezesseis de Novembro.

Os produtos certificados como orgânicos são produzidos em propriedades dos municípios de Porto Vera Cruz, Santa Rosa, Cândido Godói, Dezesseis de Novembro, Tucunduva, Campina das Missões, Santo Cristo, Alecrim, Porto Xavier, São Paulo das Missões, Bossoroca, São Luiz Gonzaga, São Miguel das Missões, Salvador das Missões, Três de Maio e Santiago. “Produzir de forma orgânica gera saúde, vida e futuro”, enfatizou o gerente regional da Emater/RS-Ascar Amauri Coracini. O prefeito de Dezesseis de Novembro, também agricultor, Ademir Gonzato saudou aos produtores pela “coragem de enfrentar, buscar conhecimentos e produzir alimentos saudáveis”.

O coordenador do Núcleo Missões da Rede Ecovida Ademir Amaral destacou os passos até a certificação solidária, um processo participativo que reúne os produtores em grupos e passa por etapas como a indicação, capacitação, organização de pares, visitas às propriedades, avaliação de conformidade e encaminhamento da certificação junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). “Eu vendi veneno por muitos anos em diferentes pontos do Mercosul, até ver o quanto estava fazendo mal para mim e para os outros. Decidi produzir alimentos, mas não de qualquer jeito, tinha que ser com qualidade. Agora mantenho com muito orgulho e tranquilidade a produção orgânica na propriedade, que está há 47 anos nas mãos da minha família”, relatou o produtor Luís César Rigo, de Porto Vera Cruz, emocionado com a entrega do certificado.

Para as famílias que receberam o certificado de conformidade orgânica foi uma conquista histórica, segundo o assistente técnico regional da Emater/RS-Ascar, na área de produção vegetal, Gilmar Francisco Vione. “Foi traçada uma caminhada desde a produção convencional, passando pela transição agroecológica com a substituição de insumos. Foi buscada, também, a construção de processos agroecológicos em suas unidades de produção familiar, em que os vários componentes dos agroecossistemas são utilizados, de maneira integrativa e harmônica, para a promoção da qualidade de vida tanto para os agricultores como para os consumidores”, destaca Vione.

Além da entrega dos certificados, a Plenária também contou em sua programação com relatos de experiência, organização de cronograma para o início de 2015, almoço com alimentos de base agroecológica na cozinha comunitária, oficinas e troca de mudas e sementes orgânicas.

A Plenária foi promovida pela ONG Arede e Núcleo Missões da Rede Ecovida de Agroecologia, com apoio da Emater/RS-Ascar, Central de Cooperativas Unicooper, Rede Missioneira da Agricultura Familiar (Remaf), Cooperluz, Embrapa, APL Missões de Agroindústria, Coopaden, Câmara de Vereadores de Dezesseis de Novembro e Prefeitura de Dezesseis de Novembro.


domingo, 14 de dezembro de 2014

Afinal de contas, o que quer a direita latino-americana?

por Emir Sader na Rede Brasil Atual

A direita latino-americana viveu momentos de euforia com a vitória dos Estados Unidos na guerra fria, com o fim da União Soviética, o triunfo da democracia liberal em uma parte majoritária do planeta e, igualmente, do modelo econômico neoliberal. A velha direita oligárquica buscava se renovar com teses liberais de mercado contra o Estado, os partidos e os movimentos populares.

O neoliberalismo tentava fazer com que a direita, que sempre havia representado o passado, tratasse de aparecer como “o novo”, o futuro, a superação de um passado em que a direita se sentia incômoda.

Para a América Latina todos esses fenômenos significaram a proliferação de governos que vinham da mais rançosa direita, assim como outros, originários de forças nacionalistas e da social democracia, assumindo o novo figurino representado pelo neoliberalismo.

Pretendiam, uma vez mais, apagar a demarcação entre direita e esquerda, fazendo convergir tudo para um modelo único ditadores como Pinochet, nacionalistas como Carlos Menem e social democratas como FHC. O pensamento único se traduzia em governos únicos.

As crise mexicana de 1994, brasileira de 1999 e argentina de 2001 liquidaram precocemente essa euforia da direita latino-americana, que foi seguida pela eleição de governos anti-neoliberais. A direita, que pretendia reinar soberana por muito tempo, deixou flancos abertos, a partir dos quais foi se reestruturando a esquerda latino-americana.

A crença que a retração do Estado da economia, a centralidade do mercado, o controle da inflação, seriam suficiente para a legitimidade dos novos tipos de governo no continente, fracassou. Não se davam conta que o principal problema dos países da região é a desigualdade social e que a falta de avanços neste tema impediria esses governos de consolidar-se.

Foi o que aconteceu com governos eleitos com a bandeira do controle da inflação, que em geral conseguiram se reeleger baseados neste mote, até se esgotarem e fracassarem. Foi assim na Argentina, Brasil, Uruguai, Venezuela, Equador e Bolívia, com particularidades em cada país.

Desprevenida, confiante na derrota da esquerda, a direita foi sendo derrotada naqueles países, porém, mais que isso, teve que se constituir, se consolidar e se reeleger a governos populares, que preencheram os vazios deixados pelos governos neoliberais. Sobretudo, privilegiaram o tema central do continente mais desigual do mundo, com suas políticas sociais.

Para isso, recuperaram o papel ativo do Estado, combatendo a centralidade do mercado, elaboraram políticas de integração regional e de intercâmbio Sul-Sul. Como resultado, países que vinham de profundas instabilidades políticas, como a Bolívia e o Equador, passaram a ter os governos mais estáveis e legítimos da sua história.

Um país como a Argentina, que havia sofrido a pior crise da sua história, na saída da política suicida de paridade da sua moeda com o dólar, pôde se recuperar, retomar o crescimento econômico, com grande distribuição de renda. O Brasil pôde sair de uma profunda e prolongada recessão provocada pelas políticas do governo de FHC, retomou um ciclo expansivo da sua economia, promovendo ao mesmo tempo o mais amplo processo de democratização social que o país já conheceu.

A direita, deslocada por esses governos, entrou em um desgastante processo de crise de identidade. O que fazer? Desconhecer os avanços realizados ou tentar incorporá-los? Prometer abandonar os cânones neoliberais ou voltar a promovê-los, contando com um eventual esquecimento que as pessoas pudessem ter do seu fracasso recente?

Ao que tudo indica pelo tipo de candidaturas que a direita promove em países como o Equador – um banqueiro –, a Bolívia e o Chile – grandes empresários –, ou jovens políticos que propõem o retorno ao neoliberalismo pura e simplesmente – como no Brasil, no Uruguai, na Venezuela – faltam ideias, imaginação e sobretudo compromisso com os avanços conquistados e com o futuro desses países.

O que quer a direita latino-americana, que se empenha tanto, valendo-se do que lhe resta – o monopólio dos meios de comunicação, o terrorismo econômico, as reiteradas denúncias de corrupção (dos outros) – para tentar retomar o governo? Está claro que a única coisa que a direita quer é desalojar as forças progressistas do governo, para abrir caminho para o retorno das grandes forças do poder econômico e midiático.

O que fariam no governo? Fica claro também que seriam processos de restauração conservadora, retomando os princípios do neoliberalismo – centralidade dos ajustes fiscais, diminuição do peso do Estado e de suas políticas sociais, rebaixamento do perfil dos processos de integração regional a favor de tratados de livre comércio com os Estados Unidos. Essas posições estão nos programas de todos os candidatos opositores nos países mencionados.

Tiveram, tem e seguirão tendo dificuldades para voltar a ganhar, justamente porque as profundas transformações postas em prática pelos governos que os sucederam, os diferenciam claramente da restauração conservadora. Podem encontrar carinhas lindas, jovens, aparentemente inovadores, mas que carregam o passado neoliberal, do qual não conseguem se livrar.


domingo, 7 de dezembro de 2014

Comunidades, a opção estratégica do jornalismo

por Carlos Castilho no Observatório da Imprensa

São cada vez menores as dúvidas sobre o fim da hegemonia da comunicação em massa na sociedade contemporânea. Até agora os recursos tecnológicos disponíveis viabilizavam apenas a comunicação tipo um para muitos, onde uma mesma notícia era produzida para atender muitos leitores, ouvintes ou telespectadores devido às limitações de distribuição impressa ou audiovisual.

Mas, com a chegada da internet e da computação passou a ser possível produzir notícias para públicos agrupados em torno de interesses ou necessidades específicas, os chamados nichos informativos, formados por comunidades sociais de todos os tipos. Entramos numa era em que haverá a coexistência entre projetos de comunicação em massa e iniciativas jornalísticas em comunidades, porque a sociedade como um todo também está se reorganizando com a valorização dos espaços locais e hiperlocais.

Este contexto abre perspectivas novas para o jornalismo, cujo principal diferencial em relação a outras formas de comunicação como teatro, cinema, música, literatura e oratória é o fato de trabalhar com dados inéditos de atualidade. A descentralização urbana provocada pelos problemas das megalópoles torna-se viável na medida em que as pessoas disponham de informações para criar novos relacionamentos sociais ou culturais e identificar condições de sustentabilidade financeira.

O jornalismo em comunidades torna-se assim uma opção estratégica no campo da comunicação porque passa a ser um elemento essencial no desenvolvimento e consolidação de um novo contexto social. Mas para atender às necessidades informativas de comunidades, o jornalismo precisa encontrar soluções para três grandes desafios:

1. Desenvolver um novo tipo de relacionamento com o público;

2. Pesquisar uma nova forma de contar histórias e transmitir notícias;

3. Encontrar um modelo de sustentabilidade econômica baseado na diversificação financeira.

Cada um desses três itens, por si só, já constitui numa exploração complexa da nova realidade provocada pelo uso das novas tecnologias digitais de comunicação e informação no âmbito social, político, cultural, científico e econômico. Os próximos textos ampliarão o detalhamento de cada item, visando ampliar o debate.

O jornalismo em comunidades se distingue do conceito usual de jornalismo local porque dá mais importância ao fator social do que ao empresarial. A imprensa local e regional está integrada ao modelo global de produção em massa, o que é lógico e inevitável levando em conta as tecnologias disponíveis até agora.

A chamada pequena imprensa está diante do desafio da sobrevivência porque precisa migrar para um novo modelo informativo de empresarial, por meio da administração da herança de instalações mecânicas e dependência da publicidade vinculada a audiências e circulação. Esta herança é suficientemente complexa para ocupar 24 horas do dia da maioria dos empresários do segmento da imprensa local e regional, o que acaba deixando pouco, ou nenhum tempo, para pensar no problema mais importante que é o da relação com o público.

O dilema é o que fazer com rotativas, prédios, sistemas de comunicação e de distribuição tanto impressa como audiovisual que perderam eficiência e valor de venda com a disseminação dos equipamentos digitais. O que fazer com leitores, ouvintes e telespectadores que estão envelhecendo enquanto os jovens abandonam os veículos tradicionais de comunicação? Como manter a fidelidade de anunciantes que estão perdendo a credibilidade na publicidade analógica, mas ainda não sabem como usar a digital?

Muitos empresários apostam que a tecnologia poderá lhes dar as respostas procuradas, mas é cada vez mais claro que o grande problema da imprensa não está na compra de novos equipamentos mas na relação com o cliente. O problema da migração para o ambiente digital não está na tecnologia, mas no fator humano. A aquisição ou aluguel de um novo software ou hardware pode produzir resultados rápidos, enquanto uma mudança de hábitos informativos geralmente consome anos. A pressa empresarial por resolver um impasse financeiro prejudica a percepção do problema humano.

A imprensa comunitária, que até agora era considerada uma proposta alternativa, quase subversiva, também tem os seus dilemas para sobreviver na era digital. Ela tem a vantagem de poder contar com novos equipamentos de baixo custo relativo e ampla capacidade de difusão de notícias jornalísticas, mas ainda deve superar os vícios deixados pela preocupação com a militância centralizada e com a defesa de causas ideológicas. As novas comunidades precisam de muita informação de serviços, produção coletiva de conhecimentos e interatividade social.


domingo, 23 de novembro de 2014

Nunca se roubou tão pouco

Por Ricardo Semler*


Nossa empresa deixou de vender equipamentos para a Petrobras nos anos 70. Era impossível vender diretamente sem propina. Tentamos de novo nos anos 80, 90 e até recentemente. Em 40 anos de persistentes tentativas, nada feito.

Não há no mundo dos negócios quem não saiba disso. Nem qualquer um dos 86 mil honrados funcionários que nada ganham com a bandalheira da cúpula.

Os porcentuais caíram, foi só isso que mudou. Até em Paris sabia-se dos “cochons des dix pour cent'', os porquinhos que cobravam 10% por fora sobre a totalidade de importação de barris de petróleo em décadas passadas.

Agora tem gente fazendo passeata pela volta dos militares ao poder e uma elite escandalizada com os desvios na Petrobras. Santa hipocrisia. Onde estavam os envergonhados do país nas décadas em que houve evasão de R$ 1 trilhão –cem vezes mais do que o caso Petrobras– pelos empresários?

Virou moda fugir disso tudo para Miami, mas é justamente a turma de Miami que compra lá com dinheiro sonegado daqui. Que fingimento é esse?

Vejo as pessoas vociferarem contra os nordestinos que garantiram a vitória da presidente Dilma Rousseff. Garantir renda para quem sempre foi preterido no desenvolvimento deveria ser motivo de princípio e de orgulho para um bom brasileiro. Tanto faz o partido.

Não sendo petista, e sim tucano, com ficha orgulhosamente assinada por Franco Montoro, Mário Covas, José Serra e FHC, sinto-me à vontade para constatar que essa onda de prisões de executivos é um passo histórico para este país.

É ingênuo quem acha que poderia ter acontecido com qualquer presidente. Com bandalheiras vastamente maiores, nunca a Polícia Federal teria tido autonomia para prender corruptos cujos tentáculos levam ao próprio governo.

Votei pelo fim de um longo ciclo do PT, porque Dilma e o partido dela enfiaram os pés pelas mãos em termos de postura, aceite do sistema corrupto e políticas econômicas.

Mas Dilma agora lidera a todos nós, e preside o país num momento de muito orgulho e esperança. Deixemos de ser hipócritas e reconheçamos que estamos a andar à frente, e velozmente, neste quesito.

A coisa não para na Petrobras. Há dezenas de outras estatais com esqueletos parecidos no armário. É raro ganhar uma concessão ou construir uma estrada sem os tentáculos sórdidos das empresas bandidas.

O que muitos não sabem é que é igualmente difícil vender para muitas montadoras e incontáveis multinacionais sem antes dar propina para o diretor de compras.

É lógico que a defesa desses executivos presos vão entrar novamente com habeas corpus, vários deles serão soltos, mas o susto e o passo à frente está dado. Daqui não se volta atrás como país.

A turma global que monitora a corrupção estima que 0,8% do PIB brasileiro é roubado. Esse número já foi de 3,1%, e estimam ter sido na casa de 5% há poucas décadas. O roubo está caindo, mas como a represa da Cantareira, em São Paulo, está a desnudar o volume barrento.

Boa parte sempre foi gasta com os partidos que se alugam por dinheiro vivo, e votos que são comprados no Congresso há décadas. E são os grandes partidos que os brasileiros reconduzem desde sempre.

Cada um de nós tem um dedão na lama. Afinal, quem de nós não aceitou um pagamento sem recibo para médico, deu uma cervejinha para um guarda ou passou escritura de casa por um valor menor?

Deixemos de cinismo. O antídoto contra esse veneno sistêmico é homeopático. Deixemos instalar o processo de cura, que é do país, e não de um partido.

O lodo desse veneno pode ser diluído, sim, com muita determinação e serenidade, e sem arroubos de vergonha ou repugnância cínicas. Não sejamos o volume morto, não permitamos que o barro triunfe novamente. Ninguém precisa ser alertado, cada de nós sabe o que precisa fazer em vez de resmungar.


*RICARDO SEMLER, 55, empresário, é sócio da Semco Partners. Foi professor visitante da Harvard Law School e professor de MBA no MIT – Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA).



terça-feira, 18 de novembro de 2014

PELADO, PELADO... NU COM A MÃO NO BOLSO

por Ângela Lângaro Becker*

Por baixo da etiqueta
É sempre tudo igual

Pelado todo mundo gosta
Todo mundo quer
Pelado todo mundo fica
Todo mundo é

Indecente
É você ter que ficar
Despido de cultura

Sem roupa, sem saúde
Sem casa, tudo é tão imoral
A barriga pelada
É que é a vergonha nacional

ULTRAJE A RIGOR (final dos anos 80)

Não pude deixar de aproveitar o espaço desta coluna para contribuir com mais uma tentativa de refletir sobre a nudez que insiste em surgir nas ruas da nossa cidade. Ainda neste fim de semana, enquanto debatíamos sobre o tema “Corpo e Discurso” numa Jornada de Psicanálise, mais algumas pessoas surgiram nuas em Porto Alegre e também no interior.

Que nudez é essa que quer ser vista e falada? Certamente a nudez tem a ver com todos nós. É a nossa verdade, escondida atrás das vestes. Ser visto nu não pode passar despercebido, justamente porque atinge aquele que olha nos seus valores éticos, morais. Alguns indignados, interpretam esta atitude como uma violência aos olhos, outros ficam fascinados com a liberdade que isto pode representar. Mas podemos pensar o nu como nossa natureza original. Mostrar-se como carne que veio do pó e lembrar que é para lá que voltaremos. Um corpo nu remete à nossa natureza de seres mortais.

De qualquer maneira, não é possível ignorar quando o nu se apresenta publicamente. Nosatinge naquilo que temos certeza que somos: seres civilizados. Aliás nossa vontade de progredirmos cada vez mais como civilização levou-nos, em muitos aspectos, bastante longe de nossa natureza original. De tal maneira, que não gostamos muito de lembrá-la. É bastante incômodo pensar que as fontes de energia podem se esgotar e que muito do que inventamos para tornar a vida mais confortável pode interferir nas condições de sobrevivência do próprio planeta. Gostamos da ilusão de que quanto mais pudermos inventar através do progresso científico e fizermos tudo isso circular pelas vias do capital, mais perto da realização de nossos sonhos iremos chegar. Quem sabe um dia conseguiremos ser imortais?

Freud já nos alertava em relação a esta ilusão. Enganamos-nos, dizia ele, quando negamos nossa condição de mortais. É da transitoriedade que a vida ganha sentido. É a brevidade que produz a beleza e o encantamento. Se nos lembrar disso estraga nossos sonhos, por outro lado é o que dá valor a eles. É a certeza deste limite que nos faz dar valor à vida.

Quando o progresso não considera nossa natureza original, acabamos esquecendo o que é real em nós e que insiste em surgir sem aviso, sem se submeter aos nossos sonhos. É interessante como um corpo nu diante de nossos olhos vem tirar o tapete de nossas certezas. Como assim? Que mundo é esse? Estamos numa selva? Tá todo mundo louco? Parece coisa de criança…

Talvez seja com olhos de brincadeira que possamos encarar esta manifestação. Mas estão protestando do que? Reivindincando o que? Talvez cada um dos manifestantes tenha suas razões particulares para estar participando disto. Assim como foram as manifestações de junho do ano passado, é possível que não haja uma única ideia a ser comunicada. Talvez nem se saiba bem o que se reivindica.

Se pensarmos na loucura, sempre há uma verdade nela que fica entre ser dita ou ser silenciada. O sintoma vem como essa zona de fronteira que testa nosso poder de resistência. Ele denuncia um sujeito submetido a pressões que o fazem transbordar. Mas talvez caiba a alguns, mais sensíveis e mais frágeis que outros, mostrar esse transbordamento. Por isso mesmo ganham adeptos. Algo faz sentido coletivamente nesta verdade exposta tão fora de lugar. Importante é que a forma de manifestação não visa agregar e sim propõe despir-se. Parece que nos é dada a chance de pensarmos nos excessos de nossa cultura civilizada para entendermos que vestes são estas que estão sendo deixadas pelo caminho.



Ângela Lângaro Becker é psicanalista; membro da APPOA; mestre em Psicologia Social e Institucional e doutora em Psicanálise e Dança pela Université Paris XIII. 

A NOVA CARA DO MUSICANTO

por Hélio Barcelos*


Em suas andanças pelos Estados Unidos onde morou por alguns anos, Érico Veríssimo dizia morar numa cidade que tinha uma orquestra sinfônica. Pouco adiantaria dizer que o nome era Porto Alegre, na época, uma região pouco conhecida. Mas uma Orquestra Sinfônica, esta sim, tinha – e ainda tem - status e referências culturais importantes. Afinal, quantas cidades do Brasil têm uma? Parece razoável afirmar que, as que possuem uma orquestra tem, também, uma visão diferenciada de cultura, além de um perfil empreendedor, uma vez que os instrumentos não são gratuitos. Mas, sabe-se, por exemplo, que uma vez formada, o grupo continua precisando de afagos e cuidados. Um público fiel para assistir aos seus concertos e zelar para que ela tenha vida longa já é alguma coisa.


Não temos aqui uma OSPA, mas quem sair de Santa Rosa pode dizer que mora numa cidade que, além de berço de Xuxa e Tafarel, é, com muito mais propriedade, a cidade com um grande festival de música com alcance nacional. Mais: que tem revelado talentos e criado uma comunidade apaixonada em sua volta. Sim, ele extrapolou como evento cultural para ser também um elemento agregador. Tem o poder de reunir numa grande festa os que aqui moram e os que já se bandearam para outras cidades e que neste dia retornam para confraternizarem. Tem disso. Ele parece ter adquirido vida própria. Mas, não esqueçamos que, mesmo com todos os cuidados, ele quase desapareceu. Não tinha afinal, sete vidas como se imaginava. As crises pelas quais passou, como falta de patrocínios, esgotamento a nível de propostas, cancelamento de edições, porém, não o enfraquecerem. Ao contrário, pareceram revitalizá-lo. “Um patrimônio dessa envergadura não podia morrer na praia”, se dizia. E eis que neste ano, tal Fênix teimosa, ele renasce em novo formato e mais dinâmico que nunca. Mudar para não perecer, talvez seja o mote mais apropriado. Ampliaram-se as propostas mantendo-se a música e os shows, acrescentou-se a dança, exposições artísticas, oficinas e tudo o que se relaciona à arte - ainda a melhor resposta para muitos de nossos traumas e manias. A arte humaniza. Faz-nos ver a realidade com outros olhos, linguagem e perspectivas. Melhor assim.


A variedade de atrações no novo Musicanto, é que me pareceu decisiva. Tal restaurante famoso, interessado em mostrar a tantos quanto possível os seus melhores pratos, receitas e forma diferente no atendimento, elaborou-se um cardápio para ninguém botar defeito. Essa aconteceu no sábado. Eis que os intervalos dos shows - feitos de pura muvuca - no saguão e asfalto, são interrompidos. A atração seguinte estava prestes a começar. Local: palco interno. Obediente, o público ruma para onde o prato mais suculento da noite seria servido. A orquestra, já a postos, aguardava os “degustadores”. Dessa vez, com um menu mais sofisticado. Casa lotada, só havia lugar na parte superior do teatro. O ponto alto de tudo o que se vira nos dias anteriores iniciaria em minutos. Prato principal: músicas premiadas do festival em outros anos, com arranjos de orquestra. Se o programa terminasse naquele instante, ninguém reclamaria de nada. Nota dez para o SESI. O nosso autor de O Tempo e o Vento tinha, enfim, boas razões para dizer que sua cidade tinha algo mais para oferecer.


No fim de tudo e inebriados por uma programação cultural variada e intensa, ficamos com a impressão de que nada faltara naquela maratona de eventos. Na verdade, um banquete de encher os olhos e ouvidos, com a impressão de que algo mudara na cidade após ele... E para melhor. O Musicanto – e agora é pra valer - continua vivo. E infinitamente melhor. Não podia ser de outra forma. Descobriu-se a fórmula do sucesso. Agora...Bem, agora será cada vez melhor.


*professor.

sábado, 8 de novembro de 2014

Procuram-se cidadãos



Thomaz Hood Jr. na Carta Capital

Um grande país sul-americano, formidável em recursos explorados e potenciais irrealizados, é lar de mais de 200 milhões de habitantes. Habitante, como se sabe, é quem reside ou vive em determinado lugar. Entretanto, para as sociedades modernas, o que mais interessa são os cidadãos. Cidadão é outra coisa. O cidadão também habita, é certo, mas o cidadão vai além: ele tem direitos, civis e políticos, e tem deveres, para com a comunidade e o Estado.

Consta que o conceito de cidadão surgiu nas Cidades-Estado da Grécia Antiga. Naquele tempo, ser cidadão não era para qualquer um. Estrangeiros, escravos e mulheres não podiam fazer parte da seleta casta. E um homem livre podia perder o privilégio e se tornar escravo, bastava contrair dívidas ou ser derrotado na guerra. A liberdade era, por isso, muito valorizada e possibilitava a participação na vida pública. Envolver-se nos negócios da comunidade era mandatório e implicava deveres. Cumprir tais obrigações fomentava a virtude, gerava respeito e conferia honra aos cidadãos.

Séculos e séculos transformaram a ideia de cidadania. Nas sociedades contemporâneas, o conceito varia de país a país, de cultura para cultura. Em alguns recantos, espera-se que os cidadãos paguem impostos, respeitem as leis, conduzam corretamente seus negócios e defendam a nação. Deles não se espera, porém, ação política. Noutras plagas, espera-se que os cidadãos sejam atores políticos, atuando em uma das múltiplas esferas públicas. Apesar da diversidade, a essência do conceito foi mantida, espera-se que os cidadãos se comprometam com deveres para fazer jus aos seus direitos. Em nações multifacetadas em termos de religiões, etnias e culturas, a cidadania pode ser o elo a sustentar a sociedade.

Enquanto isso, na citada nação sul-americana, o cidadão, como a ararajuba e o tamanduá-bandeira, animais pátrios, parece seguir uma trilha de extinção. Abundam os habitantes, desaparecem os cidadãos. Pois por lá o habitante tornou-se um ser de direitos, muitos direitos. Seu principal direito é tirar da sociedade tudo o que pode. É um extrativista compulsivo, pouco afeito a preocupações com os outros e com o meio.

O habitante da referida nação é essencialmente um reclamante. Ele reclama da corrupção, mas não perde chance de desembolsar vinténs para facilitar sua vida. Ele reclama do trânsito, mas não estaciona o carro. O carro, aliás, é uma extensão natural do corpo do residente. Ele, o carro, define sua personalidade. O habitante lava o carro quando falta água e transita pelo acostamento quando enfrenta congestionamento. Informatizado, o habitante adora o Waze, aplicativo que troca minutos de espera por atalhos sinuosos e momentos de velocidade e fúria no trânsito, corta coletivos, avança em ruas residenciais e ameaça ciclistas. O habitante é, em suma, um ser assimétrico, sempre acima de seus pares.

O habitante do tal país é fruto e coprodutor de um sistema que ampliou a participação formal (o voto) e comercializou e emburreceu o espaço público. Conformou-se a uma mídia que cobre a política como um show de frivolidades, privilegiando celebridades em detrimento de ideias, e escândalos em lugar de realizações. No caminho, a cidadania se esvaziou e cedeu lugar à simples habitação, e a virtude do dever deu espaço à cobiça do direito. O habitante reclamante ocupou a ribalta. O cidadão constrangido saiu de cena. E os tristes trópicos penhoraram seu futuro.

O pequeno cidadão é uma simpática composição de dois sensíveis artistas do desnorteado país. A dupla busca ouvintes de tenra idade e valores em gestação. A letra é simples e cativante: Agora pode tomar banho, Agora pode sentar para comer, Agora pode escovar os dentes, Agora pega o livro, pode ler... e assim segue, com pequenos prazeres e deveres: comer chocolate e fazer a lição, pular no sofá e arrumar o quarto, sujar-se de lama e amarrar o sapato. O refrão segue a receita, simples e direto: É sinal de educação, fazer sua obrigação, para ter o seu direito de pequeno cidadão. A singela canção representa a tênue esperança de que a nova geração do citado país sul-americano reverta o desalentador quadro criado pelas hordas que a antecederam.


sábado, 25 de outubro de 2014

MUSICANTO 2014


Palco de grandes expressões da Música brasileira, caracterizado como um festival de raiz, o Musicanto é um dos mais tradicionais e destacados festivais de música do Rio Grande do Sul, diferenciado pela multiplicidade de expressões, não só da música nativista, mas regional, Brasileira e internacional.

Volta, neste ano de 2014, com uma nova proposta, mais ampla e acessível aos artistas e à população. Inova-se, quebrando com o formato hegemônico dos festivais, o de competição, partindo para uma mostra artística, e traz um importante seminário para debater uma nova forma e dinâmica para os festivais no estado, debatendo e construindo com extremo louvor os caminhos trilhados pelos participantes no evento, do passado ao presente, buscando o seu resgate e para que o Rio Grande do Sul possa desfrutar de tamanho prestígio que este evento alcançou nestas quase três décadas de sua existência. Durante sua história houve o desgaste de edições canceladas, assim como os altos investimentos para um público reduzido. O evento deste ano busca a reaproximação da sociedade com o Musicanto, oportunizando um maior diálogo e participação do público, através das mostras, oficinas, seminário e o Musicanto vai à escola.

Quanto a sua importância não podemos deixar de destacar que este palco foi responsável por revelar nomes como o de Lenine, vencedor de uma das etapas do festival, além de oportunizar a presença de grandes artistas e grupos como: Raulito Barboza, Mercedes Sosa, Egberto Gismonti, Alceu Valença, João Bosco, João de Almeida Neto, Artur Moreira Lima, Argentino Luna, Ivan Lins, Nana Caymmi, Demônios da Garoa, Cordel do Fogo Encantado, Borghetinho, Yamandú Costa, Dominguinhos, Ballet Brandsen, Oswaldo Montenegro, Tambo do Bando, Olodum, Jean e Paulo Garfunkel, Teresa Parodi, Boca Livre, 14 Bis, Soledad Pastoruzzi, Telmo de Lima Freitas, Nelson Coelho de Castro, Antonio Tarragó Ros, entre outros.

O projeto MUSICANTO VAI A ESCOLA promove a integração comunitária, com apresentação de shows envolvendo pais, alunos e professores da rede pública de ensino.

O projeto atual tem o financiamento do Ministério da Cultura (Lei Rouanet) e do Pró-Cultura/RS, Governo do Estado do Rio Grande do Sul. É uma realização da Gaia Cultura e Arte, com patrocínio máster da GVT – Instituto Cultural GVT, patrocínio da Corsan e apoio da Prefeitura Municipal de Santa Rosa.

O novo modelo do Musicanto, em formato de Festival Multicultural com entrada gratuita em todas as suas atividades atendem ao princípio de democratização do acesso e tem o objetivo de aproximar a população local de um evento que estava sendo considerado elitista. O diferencial desta edição é o seminário acerca dos rumos do Musicanto, e, por conseguinte, fomentar o debate sobre os demais festivais congêneres que ocorrem no estado do Rio Grande do Sul, os quais têm passado por dificuldades financeiras, de atração de público cativo e crise de identidade.

Com esta ideia inovadora e um formato de multifeira cultural, a proposta do atual é valorizar e estimular a produção musical, criando espaço também para outras manifestações culturais dentro da "Cidade Musicanto”, que é o espaço externo no entorno do Centro Cultural Antônio Carlos Borges no qual, além de um espaço gastronômico e dos shows e tertúlia livre, o público poderá apreciar exposições de artes plásticas (AAPLAS, Faculdade de Artes de Oberá e Santa Arte), espaço literário com a participação dos escritores locais, Feira de Artesanato Local com o Brique da Praça de Santo Ângelo e o Brique de Santa Rosa, Arte Missioneira, espaço para mostra de trabalhos de entidades assistenciais, intervenções urbanas, presença do Coletivo Contorno de Porto Alegre, espetáculos de dança, oficinas e muito mais.

Saiba  mais, acesse: www.musicanto.com.br 

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Aberto prazo de inscrições para curso Técnico em Publicidade

Até o próximo dia 31/10, os interessados em estudar no único curso técnico em Publicidade público do Noroeste gaúcho, podem inscrever-se pelo site da Secretaria Estadual de Educação. Para ingressar no primeiro semestre de 2015, é necessário que o estudante tenha completado o Ensino Médio, uma vez que o curso é ofertado na modalidade subsequente, e preencha o Formulário de Inscrição disponível no site com uma única indicação de escola.

O curso técnico em Publicidade é oferecido pelo Instituto Estadual de Educação Visconde de Cairu, de Santa Rosa, e é reconhecido pelo significativo número de premiações no desenvolvimento de projetos de pesquisa. Ao longo de dois anos, os estudantes podem construir conhecimento em áreas como Publicidade e Marketing, Teoria e Técnica de Comunicação, Veículos de Comunicação, Introdução às Relações Públicas, Jornalismo, Informática, Edição, Artes, Filosofia, Psicologia, Português Instrumental, entre outros.

Outras informações e inscrições podem ser efetuadas no link ‘Matrícula na Escola Pública’ do site www.educacao.rs.gov.br ou pelo fone (55) 3512-1323. A matrícula dos candidatos designados ocorrerá entre os dias 5 e 13 de janeiro de 2015. O candidato deverá verificar no site da Seduc a escola para a qual foi designado, efetuar a pré-matrícula no site, imprimir o documento e leva-lo na escola para efetuar a matrícula presencial. Os documentos necessários para a matrícula estão no edital de abertura de vagas.


sábado, 11 de outubro de 2014

Ruínas de passagem (texto de Mariana Corteze)


                               PEQUENO EXPERIMENTO DE MUNDO

                                      Ruínas de passagem

por Mariana Corteze*


 A civilização ocidental tem como berço a Grécia, pois é visto que suas raízes mais profundas estão imersas na transformação cultural e civilizacional da antiguidade clássica, que acabou por afetar as extensões do conhecimento e pensamento humano e assim, transformando em definitivo o percurso evolutivo da sociedade atual. De tal modo, passados cerca de 2500 anos, ainda podemos perceber que a Grécia Antiga continua presente dentro da nossa realidade por meio da filosofia e da reflexão racional do homem sobre si próprio, procurando entendimentos que esclareçam a existência do ser, valores, virtudes individuais e coletivas. 

Atenas, capital da Grécia, é feita de ruínas da poderosa capital-estado da Antiguidade, sendo reconhecida como uma das mais antigas cidades do mundo pela sua fundação há mais de seis mil anos, que ainda é habitada em grande corpulência. Possui algumas das mais famosas edificações do mundo antigo, como o Partenon, o Erecteion e a Acrópole de Atenas que é sustentada por uma colina rochosa de topo plano com cerca de 150 metros acima do nível do mar, sendo construída por volta de 450 a.C. sob a administração do estadista Péricles e foi dedicada a Atena, a deusa padroeira da cidade. Sua função era originalmente entendida como proteção das cidades inimigas, porém com o tempo, passou a servir de sede administrativa civil e religiosa.

 

Percorrer tal espaço responsável por abrigar uma densa bagagem que ascendeu o trajeto humano, acabou por questionar a sociedade que experienciamos (será que apenas digerimos e evacuamos?). A condição líquida moderna contemporânea se desenvolve em grande escala através da blasfema da realidade terrena a favor de uma verdade transcendental, onde o mundo torna-se uma compensação aos fracos. Em grande maioria, os critérios existenciais acabam não sendo definidos através de estimas individuais e sim pela confortável base sólida de fórmulas idealizadoras. Em atmosfera transitória o que é solúvel rapidamente deixa de ser, é como se o mundo buscasse eternidade em um espaço de fugacidade, é uma busca de solidez em um ambiente escapadiço. Quiçá esteja aí as indagações deste planeta cheio de sufocamentos: o conflito entre o desejo de verdade e a fluidez do mundo.

Junto ao raciocínio transeunte, é simpático citar o clássico romance A insustentável leveza do ser (1984) do tcheco Milan Kundera que aborda questões análogas ao mundo feito de passagem. A problemática da leveza e do peso possui amparo na filosofia de Parmênides (530 a.C. – 460 a.C.) que discutiu as dualidades ontológicas do ser, nascidas a partir da presença e ausência de alguma entidade. Para Kundera, a leveza é uma vida levada sob uma liberdade descompromissada, porém a mesma despe a vida de seu sentido, pois é o peso quem finca a vida a uma razão de ser qualquer que se constrói. Uma noção nietzscheana de amor fati é personificada em um dos personagens principais (Tomas) e o argumento de Eterno Retorno assume um convite a vida crua, sem condicionantes muletas metafísicas. 

“O drama da sua vida pode ser sempre explicado na metáfora do peso. Seu drama não era o peso, mas a leveza (...) O que se absterá sobre ela não era o fardo, mas a insustentável leveza do ser." Milan Kundera

 
O valor da transitoriedade é o valor da escassez do tempo nos nossos dias. Portanto, como seria nossa vivência se o mundo fosse amputado daquilo que lhe dá permanência? Talvez, seja audaz que esqueçamos as pedras e as areias que percorrem os mares embutidas nas garrafas de socorro.





*Mariana Corteze

Licencianda em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pelotas, Brasil

Licencianda em Estudos Artísticos pela Universidade de Coimbra, Portugal

Bolsista do Programa de Licenciaturas Internacionais | CAPES

http://www.flickr.com/photos/maricorteze/

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

QUEM NÃO DANÇA, DANÇA!

10º Festival Santa Rosa em Dança dobrando a esquina










 Serão três noites de muito movimento, onde bailarinos de diversas procedências mostrarão sua arte para nosso fiel e sedento público. Eles competirão nos mais variados estilos e concorrerão a uma premiação total de R$ 8.200,00.

O 10º Festival Santa Rosa em Dança acontecerá nos dias 16, 17 e 18 de outubro (quinta, sexta e sábado), sempre a partir das 19h30min, no Centro Cívico Cultural Antônio Carlos Borges. Na tarde de sábado, a partir das 14h, mais uma atração: batalhas de freestyle e breaking (com premiação paralela de R$ 1.000,00 por estilo).

O júri do festival será formado pelos bailarinos e coreógrafos Carlla Bublitz, Carmen Hoffmann, Deny Ronaldo e Gabriel Woelke Santinho. As inscrições seguem abertas até o dia 10 (sexta-feira) e podem ser efetivadas pelo e-mail danca@santarosa.rs.gov.br


O regulamento e a ficha de inscrição podem ser encontrados no site do Festival: danca.santarosa.rs.gov.br.

O Santa Rosa em Dança é uma realização da Prefeitura de Santa Rosa, através da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.


sábado, 4 de outubro de 2014

Vitória coletiva


Neste texto, Ana Paula avalia os dois anos que está sobre uma cadeira de rodas, consequência de um AVC (acidente vascular cerebral) que a impede de se movimentar e falar. Um relato impressionante, dramático, mas que, ao mesmo tempo, expressa o seu esforço e dedicação ao tratamento médico e fisioterápico e, principalmente, o reconhecimento da onda de solidariedade em torno do seu restabelecimento.
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                                                                                                                         por Ana Paula Almeida

Fez dois anos que tive esse problema que não sei denominar, prefiro chamar de erros médicos, enfim, essa data mexeu comigo, nos dias anteriores tentei escrever e não consegui, escrevi muito e apagava, não gostava de nada, única coisa que eu pensava era na data, não me concentrava, pra piorar esses tempos um homem veio conversar com meu pai, eu virei um assunto, estava deitada escutando, ouvi o homem falar: VOCÊS ACHAM QUE ELA VAI ANDAR? Não prestei atenção em mais nada da conversa, a frase do homem foi carregada de negatividade, ele não acredita na minha cura, meu pai queria trazer aquele homem pra me ver, nunca recusei visita, mas essa sim, fiz sinal de não para o meu pai. 

A data dos dois anos ecoava na minha cabeça junto com as palavras do homem, tudo que vivi nesse tempo foi uma experiência, muito boa, por sinal, tentei mudar meu pensamento, olhar minhas fotos desse tempo, consegui ver o que em muitas fotos a felicidade não cabia ali, tudo que tem por trás da foto, histórias muitas vezes engraçadas, na primeira vez com o computador já escrevi minha senha do facebook, estava apenas conhecendo a tecnologia. 

Conhecer o estádio antigo e novo do Grêmio, eu não segurei as lágrimas, tentei não me emocionar, difícil isso, quando fui à segunda vez choveu muito, a água se acumulava em cima das capas de chuva que eu usava. No dia que recebi a cadeira com o computador, foi lindo, seis de setembro, por pura coincidência os jogadores do Grêmio foram se concentrar no hotel da entrega, eu quase pirei, estava muito feliz, ver o Zé Roberto foi maravilhoso, outro momento legal foi a festa surpresa de aniversário da minha mãe, me orgulho disso, tive a ideia e planejei tudo. Conhecer o Potter, eu mandei uma carta pra ele sem ninguém saber, soube que iria vê-lo e escondi isso por um mês, quando o vi fiquei paralisada, até ele se assustou, queria conhecê-lo desde 2009, todas as visitas maravilhosas que tive.

 Vi minhas evoluções, cada época lembra alguma mudança, lembranças boas e outras nem tanto, dores escondidas, sentimentos reprimidos, tantas recordações, meus aniversários, pessoas especiais que vieram, a tecnologia do computador que uso me aproxima de pessoas que não posso ter perto, me aproxima principalmente das pessoas que estão perto, fiz amigos novo, mais lembranças boas que ruins, se algo não tem um lado bom, invento, a vida fica bem mais leve, tem datas são ruins, mas considero dia 19/10/2012 outro nascimento meu também. 

Eu não sabia que as pessoas eram tão solidárias, tudo que fizeram, não tem como descrever o quanto foi e ainda está sendo importante, como sempre digo, minha cura completa é uma vitória coletiva. Olhei todas as fotos e cada uma tem uma história, olhei também fotos mais antigas, lembranças boas, histórias legais para contar, uma saudade gostosa, quero viver momentos tão bons como aqueles, nada que ouço de negativo fica muito tempo na minha memória, quero evoluir por mim e por tabela vou mostrar para os que não acreditavam na minha evolução.


                                                                                                                                  *Ana Paula Almeida.

 Ana Paula (dir.) com sua fisioterapeuta Betina Rigon Pereira.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

PRIMAVERA DOS MUSEUS


                                                        


Museu Municipal de Santa Rosa
apresenta
8ª Primavera dos Museus
de 02 a 09 de outubro de 2014






 Exibição do filme "Os Desbravadores", de Anderson Farias
Sessões às 8h, 10h, 14h e 16h
Após as sessões, visitas guiadas ao Museu
* Agendamento para turmas escolares pelo telefone 3511-7660






Roda de Memória: "O Caminho do Moinho"
Participação da ONG Defender - Defesa Civil do Patrimônio Histórico
Terça-feira, 30 de setembro, às 18h30min
Programação destinada aos integrantes do Conselho Municipal de Turismo de Santa Rosa



Roda de Memória: "O Caminho do Moinho"
Participação da ONG Defender - Defesa Civil do Patrimônio Histórico
Quarta-feira, 1º de outubro, às 18h30min
Programação aberta ao público em geral