sábado, 20 de dezembro de 2014

CUBA VENCE QUEDA DE BRAÇO COM EUA



por Breno Altmann na Ópera Mundi

A decisão do presidente norte-americano, Barack Obama, de reatar relações diplomáticas com o Estado cubano e amenizar sanções econômicas, somente tem paralelo histórico com a Guerra do Vietnã.

Os Estados Unidos acreditaram, entre 1960 e 1975, que seu poderio militar e financeiro seria suficiente para subjugar os soldados de Ho Chi Minh e Giap. Mas as derrotas no campo de batalha, a mobilização pela paz dentro de suas próprias fronteiras e o desgaste internacional levaram o governo Nixon à capitulação.

A mesma soberba imperialista determinou o comportamento da Casa Branca frente à revolução cubana. Sucessivos presidentes, desde o triunfo liderado por Fidel Castro, acreditaram que seria possível estrangular o novo regime através da sabotagem, da intervenção armada e do bloqueio.

Há décadas era visível que esta estratégia, mais uma vez, estava fadada à derrota. Mas o peso da comunidade cubano-americana, associado às heranças ideológicas da Guerra Fria e à cultura hegemonista do capitalismo norte-americano, impedia o reconhecimento do fracasso.

Obama entrará para a história, com ajuda do papa Francisco, por ter tido a coragem de assinar rendição inevitável. Uma frase sua serve de síntese ao episódio: “estes cinquenta anos mostraram que o isolamento não funcionou, é tempo de outra atitude.”

Giro de Obama

Praticamente na metade de seu segundo mandato, sem preocupações eleitorais, o primeiro negro a ocupar o Salão Oval parece estar empenhado em reconstruir sua imagem junto aos setores progressistas que o apoiaram e se sentiam traídos por uma administração capturada pelo establishment.

O decreto que legaliza cinco milhões de imigrantes ilegais foi o primeiro passo relevante desta jornada de resgate biográfico. A declaração de reatamento das relações diplomáticas com Cuba, o segundo.

Lembremos que o bloqueio não está anulado, pois depende da decisão de um Congresso controlado pelos republicanos. Ser á batalha complicada e provavelmente prolongada. Obama optou, de toda forma, por ir ao limite de sua jurisdição política, como no caso dos imigrantes, peitando correlação desfavorável de forças no Parlamento.

Mesmo que o embargo ainda seja situação pendente, continuando a sufocar o funcionamento da economia cubana, é fato que o presidente norte-americano deu passo fundamental para enterrar a velha política de seu país acerca da ilha caribenha.

Os paradigmas imperialistas, registre-se, não foram alterados.

Basta ver a pressão que os Estados Unidos continuam a exercer, através do surrado cardápio de punições e sabotagens, contra governos que colidem com seus interesses, a exemplo da Venezuela.

No caso de Cuba, porém, a realidade se impôs.

Análises equivocadas

Não falta, é claro, quem prenuncie o colapso da revolução e seu sistema político-econômico em função do cenário de distensão: o socialismo cubano sucumbiria ao contato com recursos financeiros, valores e oportunidades oferecidos, a partir de agora, pelos Estados Unidos.

Repetem aposta feita no passado.

Diziam que Cuba não resistiria ao bloqueio e seus cidadãos, depois de alguns meses sob penúria e escassez, derrubariam Fidel Castro.

Quando o cavalo do embargo despontava como páreo perdido, veio o colapso da União Soviética. O regime liderado pelo Partido Comunista seria varrido logo mais, como ocorrera em outros países socialistas.

Outro erro dos clarividentes opositores, que deveriam ter aprendido a ser mais modestos em suas eloquentes previsões.

A revolução cubana, ainda que em meio a gigantescas dificuldades e graves erros, logrou sobreviver, construir alternativas e desenvolver notável capacidade de auto-reforma.

Aos poucos, com a vitória de partidos progressistas em diversas nações latino-americanas, o isolamento continental se reverteu e Cuba retornou a seu espaço natural, oxigenando a economia e a sociedade.

Os investimentos brasileiros e venezuelanos, entre recursos de diversas origens, são reveladores da capacidade cubana de erguer pontes e sair do casulo pós-soviético.

Talvez o porto de Mariel, financiado pelo BNDES, seja o empreendimento mais representativo e promissor desta etapa de reinserção. Poderá se constituir, com certa rapidez, na conexão do país e seus parceiros com o mercado mundial, além de pólo para a reindustrialização local e a consolidação de coalizão com a Am érica do Sul.

A despeito das sanções e arreganhos norte-americanos, a lenta recuperação cubana vem se afirmando através da integração regional, de forma autônoma e consistente.

Quem passou a ser assolado pela praga da solidão, a bem da verdade, foi o velho inimigo.

Os Estados Unidos, que no passado haviam colocado o subcontinente contra Fidel, passaram a conhecer forte tensão ao sul, abalando sua influência e alianças.

Uma das razões era exatamente a orientação discriminatória contra Cuba.

A gota d’água para a falência da geopolítica isolacionista materializou-se no impasse durante a preparação da Cúpula das Américas, prevista para julho de 2015, à qual os cubanos estavam convidados pelos Estados meridionais ao Rio Grande e vetados apenas pela Casa Branca.

Futuro

Os obstáculos no novo ciclo, é certo, serão imensos.

A ampliação dos fluxos comerciais e financeiros, além da disputa política e cultural, poderá afetar a estrutura do país mais igualitário da região, fundada sobre a universalização de direitos sociais.

Tradicionais adversários da revolução não pouparão esforços para minar a credibilidade e o funcionamento do sistema cubano, tentando impor mudanças que alterem profundamente a organização política e econômica.

Também buscarão se aproveitar da troca geracional, com o grupo dirigente de Sierra Maestra escrevendo o epílogo de sua jornada.

A direção castrista, vencido o bloqueio, paulatinamente terá que substituir o anti-imperialismo, como narrativa dominante, pelo convencimento prático e cultural, principalmente junto às gerações mais jovens, acerca da superioridade de seu sistema em comparação ao capitalismo.

A tarefa será complexa: não se trata apenas de provar que o socialismo à cubana tem maior capacidade de preservar inegáveis conquistas sociais, mas também sua permeabilidade a ajustes que permitam impulsionar um longo ciclo de desenvolvimento econômico e o aprofundamento da participação popular na política.

Apesar destes fantásticos desafios, os últimos acontecimentos, com Golias se curvando à resistência de Davi, deveriam servir de alerta para os oráculos do apocalipse cubano.

Há povos e dirigentes, em determinadas etapas da história, que não se curvam nem sequer diante dos mais duros sacrifícios para defender sonhos e projetos. Mesclam, ademais, vocação de resistir com inventividade para encontrar soluções adequadas.

A chegada dos últimos cubanos que estavam presos nos Estados Unidos desde 1998, julgados por espionagem, é recado humano e simbólico desta vontade nacional que a revolução, goste-se ou não de seus resultados, foi capaz de construir.

Não havia festa e alegria nas ruas pelos 53 prisioneiros que Raul Castro ordenara libertar, fruto da negociação com Obama, considerados de “interesse dos Estados Unidos”.

O júbilo era pelos compatriotas cujo retorno representa célebre vitória sobre o gigante que, há mais de cinqüenta anos, ameaça a autodeterminação de Cuba.


quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Acid Rock Festival em janeiro






Acid Rock Festival 2015

A 5ª Edição do Acid Rock Festival, Música & Artes Integradas acontece nos dias 10 e 11 de Janeiro no Sítio da Cascata na Cidade de Entre-Ijuís, região Noroeste do RS.

Para a Edição de 2015, além do camping, das peças teatrais e das oficinas, o festival preparou um cast explodidor de cabeças, com as melhores bandas do cenário independente do sul do país. Segue a lista:

Cuscobayo
Célula Soul
Los Cucarachos del Blues
Frida
Os Vespas Blues Rock
Cattarse
DR. HANK
Mar de Marte
Guantánamo Groove
Velho Hippie
Decoders
Marcus Manzoni
Maquinário Sonoro
Banda Os Guaipecas
Dones Primata
Bardoefada Banda
Luciano Alves

e preparem os corações que no meio de tudo isso aí ainda tem Frida Kahlo, à Revolução!

O segundo Lote de ingressos já está a venda, custando R$ 65,00 e deve ser feito via depósito bancário ou nos pontos de venda.

Além das atrações, o valor incluiu um copo personalizado do Festival.


Acid Rock no Facebook


Produtores do Noroeste recebem certificado de produção orgânica



Um marco na história de famílias rurais, que optaram por produzir alimentos com mais qualidade, e para os consumidores que buscam alimentação saudável e segurança alimentar foi registrado neste dia 16/12, com a entrega oficial dos certificados de conformidade orgânica a produtores do Noroeste gaúcho. O evento ocorreu com a presença de lideranças e agricultores de 18 municípios, durante Plenária da Rede Ecovida de Agroecologia, no município de Dezesseis de Novembro.

Os produtos certificados como orgânicos são produzidos em propriedades dos municípios de Porto Vera Cruz, Santa Rosa, Cândido Godói, Dezesseis de Novembro, Tucunduva, Campina das Missões, Santo Cristo, Alecrim, Porto Xavier, São Paulo das Missões, Bossoroca, São Luiz Gonzaga, São Miguel das Missões, Salvador das Missões, Três de Maio e Santiago. “Produzir de forma orgânica gera saúde, vida e futuro”, enfatizou o gerente regional da Emater/RS-Ascar Amauri Coracini. O prefeito de Dezesseis de Novembro, também agricultor, Ademir Gonzato saudou aos produtores pela “coragem de enfrentar, buscar conhecimentos e produzir alimentos saudáveis”.

O coordenador do Núcleo Missões da Rede Ecovida Ademir Amaral destacou os passos até a certificação solidária, um processo participativo que reúne os produtores em grupos e passa por etapas como a indicação, capacitação, organização de pares, visitas às propriedades, avaliação de conformidade e encaminhamento da certificação junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). “Eu vendi veneno por muitos anos em diferentes pontos do Mercosul, até ver o quanto estava fazendo mal para mim e para os outros. Decidi produzir alimentos, mas não de qualquer jeito, tinha que ser com qualidade. Agora mantenho com muito orgulho e tranquilidade a produção orgânica na propriedade, que está há 47 anos nas mãos da minha família”, relatou o produtor Luís César Rigo, de Porto Vera Cruz, emocionado com a entrega do certificado.

Para as famílias que receberam o certificado de conformidade orgânica foi uma conquista histórica, segundo o assistente técnico regional da Emater/RS-Ascar, na área de produção vegetal, Gilmar Francisco Vione. “Foi traçada uma caminhada desde a produção convencional, passando pela transição agroecológica com a substituição de insumos. Foi buscada, também, a construção de processos agroecológicos em suas unidades de produção familiar, em que os vários componentes dos agroecossistemas são utilizados, de maneira integrativa e harmônica, para a promoção da qualidade de vida tanto para os agricultores como para os consumidores”, destaca Vione.

Além da entrega dos certificados, a Plenária também contou em sua programação com relatos de experiência, organização de cronograma para o início de 2015, almoço com alimentos de base agroecológica na cozinha comunitária, oficinas e troca de mudas e sementes orgânicas.

A Plenária foi promovida pela ONG Arede e Núcleo Missões da Rede Ecovida de Agroecologia, com apoio da Emater/RS-Ascar, Central de Cooperativas Unicooper, Rede Missioneira da Agricultura Familiar (Remaf), Cooperluz, Embrapa, APL Missões de Agroindústria, Coopaden, Câmara de Vereadores de Dezesseis de Novembro e Prefeitura de Dezesseis de Novembro.


domingo, 14 de dezembro de 2014

Afinal de contas, o que quer a direita latino-americana?

por Emir Sader na Rede Brasil Atual

A direita latino-americana viveu momentos de euforia com a vitória dos Estados Unidos na guerra fria, com o fim da União Soviética, o triunfo da democracia liberal em uma parte majoritária do planeta e, igualmente, do modelo econômico neoliberal. A velha direita oligárquica buscava se renovar com teses liberais de mercado contra o Estado, os partidos e os movimentos populares.

O neoliberalismo tentava fazer com que a direita, que sempre havia representado o passado, tratasse de aparecer como “o novo”, o futuro, a superação de um passado em que a direita se sentia incômoda.

Para a América Latina todos esses fenômenos significaram a proliferação de governos que vinham da mais rançosa direita, assim como outros, originários de forças nacionalistas e da social democracia, assumindo o novo figurino representado pelo neoliberalismo.

Pretendiam, uma vez mais, apagar a demarcação entre direita e esquerda, fazendo convergir tudo para um modelo único ditadores como Pinochet, nacionalistas como Carlos Menem e social democratas como FHC. O pensamento único se traduzia em governos únicos.

As crise mexicana de 1994, brasileira de 1999 e argentina de 2001 liquidaram precocemente essa euforia da direita latino-americana, que foi seguida pela eleição de governos anti-neoliberais. A direita, que pretendia reinar soberana por muito tempo, deixou flancos abertos, a partir dos quais foi se reestruturando a esquerda latino-americana.

A crença que a retração do Estado da economia, a centralidade do mercado, o controle da inflação, seriam suficiente para a legitimidade dos novos tipos de governo no continente, fracassou. Não se davam conta que o principal problema dos países da região é a desigualdade social e que a falta de avanços neste tema impediria esses governos de consolidar-se.

Foi o que aconteceu com governos eleitos com a bandeira do controle da inflação, que em geral conseguiram se reeleger baseados neste mote, até se esgotarem e fracassarem. Foi assim na Argentina, Brasil, Uruguai, Venezuela, Equador e Bolívia, com particularidades em cada país.

Desprevenida, confiante na derrota da esquerda, a direita foi sendo derrotada naqueles países, porém, mais que isso, teve que se constituir, se consolidar e se reeleger a governos populares, que preencheram os vazios deixados pelos governos neoliberais. Sobretudo, privilegiaram o tema central do continente mais desigual do mundo, com suas políticas sociais.

Para isso, recuperaram o papel ativo do Estado, combatendo a centralidade do mercado, elaboraram políticas de integração regional e de intercâmbio Sul-Sul. Como resultado, países que vinham de profundas instabilidades políticas, como a Bolívia e o Equador, passaram a ter os governos mais estáveis e legítimos da sua história.

Um país como a Argentina, que havia sofrido a pior crise da sua história, na saída da política suicida de paridade da sua moeda com o dólar, pôde se recuperar, retomar o crescimento econômico, com grande distribuição de renda. O Brasil pôde sair de uma profunda e prolongada recessão provocada pelas políticas do governo de FHC, retomou um ciclo expansivo da sua economia, promovendo ao mesmo tempo o mais amplo processo de democratização social que o país já conheceu.

A direita, deslocada por esses governos, entrou em um desgastante processo de crise de identidade. O que fazer? Desconhecer os avanços realizados ou tentar incorporá-los? Prometer abandonar os cânones neoliberais ou voltar a promovê-los, contando com um eventual esquecimento que as pessoas pudessem ter do seu fracasso recente?

Ao que tudo indica pelo tipo de candidaturas que a direita promove em países como o Equador – um banqueiro –, a Bolívia e o Chile – grandes empresários –, ou jovens políticos que propõem o retorno ao neoliberalismo pura e simplesmente – como no Brasil, no Uruguai, na Venezuela – faltam ideias, imaginação e sobretudo compromisso com os avanços conquistados e com o futuro desses países.

O que quer a direita latino-americana, que se empenha tanto, valendo-se do que lhe resta – o monopólio dos meios de comunicação, o terrorismo econômico, as reiteradas denúncias de corrupção (dos outros) – para tentar retomar o governo? Está claro que a única coisa que a direita quer é desalojar as forças progressistas do governo, para abrir caminho para o retorno das grandes forças do poder econômico e midiático.

O que fariam no governo? Fica claro também que seriam processos de restauração conservadora, retomando os princípios do neoliberalismo – centralidade dos ajustes fiscais, diminuição do peso do Estado e de suas políticas sociais, rebaixamento do perfil dos processos de integração regional a favor de tratados de livre comércio com os Estados Unidos. Essas posições estão nos programas de todos os candidatos opositores nos países mencionados.

Tiveram, tem e seguirão tendo dificuldades para voltar a ganhar, justamente porque as profundas transformações postas em prática pelos governos que os sucederam, os diferenciam claramente da restauração conservadora. Podem encontrar carinhas lindas, jovens, aparentemente inovadores, mas que carregam o passado neoliberal, do qual não conseguem se livrar.


domingo, 7 de dezembro de 2014

Comunidades, a opção estratégica do jornalismo

por Carlos Castilho no Observatório da Imprensa

São cada vez menores as dúvidas sobre o fim da hegemonia da comunicação em massa na sociedade contemporânea. Até agora os recursos tecnológicos disponíveis viabilizavam apenas a comunicação tipo um para muitos, onde uma mesma notícia era produzida para atender muitos leitores, ouvintes ou telespectadores devido às limitações de distribuição impressa ou audiovisual.

Mas, com a chegada da internet e da computação passou a ser possível produzir notícias para públicos agrupados em torno de interesses ou necessidades específicas, os chamados nichos informativos, formados por comunidades sociais de todos os tipos. Entramos numa era em que haverá a coexistência entre projetos de comunicação em massa e iniciativas jornalísticas em comunidades, porque a sociedade como um todo também está se reorganizando com a valorização dos espaços locais e hiperlocais.

Este contexto abre perspectivas novas para o jornalismo, cujo principal diferencial em relação a outras formas de comunicação como teatro, cinema, música, literatura e oratória é o fato de trabalhar com dados inéditos de atualidade. A descentralização urbana provocada pelos problemas das megalópoles torna-se viável na medida em que as pessoas disponham de informações para criar novos relacionamentos sociais ou culturais e identificar condições de sustentabilidade financeira.

O jornalismo em comunidades torna-se assim uma opção estratégica no campo da comunicação porque passa a ser um elemento essencial no desenvolvimento e consolidação de um novo contexto social. Mas para atender às necessidades informativas de comunidades, o jornalismo precisa encontrar soluções para três grandes desafios:

1. Desenvolver um novo tipo de relacionamento com o público;

2. Pesquisar uma nova forma de contar histórias e transmitir notícias;

3. Encontrar um modelo de sustentabilidade econômica baseado na diversificação financeira.

Cada um desses três itens, por si só, já constitui numa exploração complexa da nova realidade provocada pelo uso das novas tecnologias digitais de comunicação e informação no âmbito social, político, cultural, científico e econômico. Os próximos textos ampliarão o detalhamento de cada item, visando ampliar o debate.

O jornalismo em comunidades se distingue do conceito usual de jornalismo local porque dá mais importância ao fator social do que ao empresarial. A imprensa local e regional está integrada ao modelo global de produção em massa, o que é lógico e inevitável levando em conta as tecnologias disponíveis até agora.

A chamada pequena imprensa está diante do desafio da sobrevivência porque precisa migrar para um novo modelo informativo de empresarial, por meio da administração da herança de instalações mecânicas e dependência da publicidade vinculada a audiências e circulação. Esta herança é suficientemente complexa para ocupar 24 horas do dia da maioria dos empresários do segmento da imprensa local e regional, o que acaba deixando pouco, ou nenhum tempo, para pensar no problema mais importante que é o da relação com o público.

O dilema é o que fazer com rotativas, prédios, sistemas de comunicação e de distribuição tanto impressa como audiovisual que perderam eficiência e valor de venda com a disseminação dos equipamentos digitais. O que fazer com leitores, ouvintes e telespectadores que estão envelhecendo enquanto os jovens abandonam os veículos tradicionais de comunicação? Como manter a fidelidade de anunciantes que estão perdendo a credibilidade na publicidade analógica, mas ainda não sabem como usar a digital?

Muitos empresários apostam que a tecnologia poderá lhes dar as respostas procuradas, mas é cada vez mais claro que o grande problema da imprensa não está na compra de novos equipamentos mas na relação com o cliente. O problema da migração para o ambiente digital não está na tecnologia, mas no fator humano. A aquisição ou aluguel de um novo software ou hardware pode produzir resultados rápidos, enquanto uma mudança de hábitos informativos geralmente consome anos. A pressa empresarial por resolver um impasse financeiro prejudica a percepção do problema humano.

A imprensa comunitária, que até agora era considerada uma proposta alternativa, quase subversiva, também tem os seus dilemas para sobreviver na era digital. Ela tem a vantagem de poder contar com novos equipamentos de baixo custo relativo e ampla capacidade de difusão de notícias jornalísticas, mas ainda deve superar os vícios deixados pela preocupação com a militância centralizada e com a defesa de causas ideológicas. As novas comunidades precisam de muita informação de serviços, produção coletiva de conhecimentos e interatividade social.