terça-feira, 27 de abril de 2010

Quem "controla" a mídia?

Venício Lima

Você já ouviu falar em Alexander Lebedev, Alexander Pugachev, Rupert Murdoch, Carlos Slim ou Nuno Rocha dos Santos Vasconcelos? Talvez não, mas eles já “controlam” boa parte da informação e do entretenimento que circulam no planeta e, muito provavelmente, chegam diariamente até você, leitor(a).

Enquanto na América Latina, inclusive no Brasil, a grande mídia continua a “fazer de conta” que as ameaças à liberdade de expressão partem exclusivamente do Estado, em nível global, confirma-se a tendência de concentração da propriedade e controle da mídia por uns poucos mega empresários.

Na verdade, uma das conseqüências da crise internacional que atinge, sobretudo, a mídia impressa, tem sido a compra de títulos tradicionais por investidores – russos, árabes, australianos, latino-americanos, portugueses – cujo compromisso maior é exclusivamente o sucesso de seus negócios. Aparentemente, não há espaço para o interesse público.

Na Europa e nos Estados Unidos
Já aconteceu com os britânicos The Independent e The Evening Standard e com o France-Soir na França. Na Itália, rola uma briga de gigantes no mercado de televisão envolvendo o primeiro ministro e proprietário de mídia Silvio Berlusconi (Mediaset) e o australiano naturalizado americano Ropert Murdoch (Sky Itália). O mesmo acontece no leste europeu. Na Polônia, tanto o Fakt (o diário de maior tiragem), quanto o Polska (300 mil exemplares/dia) são controlados por grupos alemães.

Nos Estados Unidos, a News Corporation de Murdoch avança a passos largos: depois do New York Post, o principal tablóide do país, veio a Fox News, canal de notícias 24h na TV a cabo; o tradicionalíssimo The Wall Street Journal; o estúdio Fox Films e a editora Harper Collins. E o mexicano Carlos Slim é um dos novos acionistas do The New York Times.

E no Brasil?
Entre nós, anunciou-se recentemente que o Ongoing Media Group – apesar do nome, um grupo português – que edita o “Brasil Econômico” desde outubro, comprou o grupo “O Dia”, incluindo o “Meia Hora” e o jornal esportivo “Campeão”. O Ongoing detem 20% do grupo Impressa (português), é acionista da Portugal Telecom e controla o maior operador de TV a cabo de Portugal, o Zon Multimídia.

Aqui sempre tivemos concentração no controle da mídia, até porque , ao contrário do que acontece no resto do mundo, nunca houve preocupação do nosso legislador com a propriedade cruzada dos meios. Historicamente são poucos os grupos que controlam os principais veículos de comunicação, sejam eles impressos ou concessões do serviço público de radio e televisão. Além disso, ainda padecemos do mal histórico do coronelismo eletrônico que vincula a mídia às oligarquias políticas regionais e locais desde pelo menos a metade do século passado.

Desde que a Emenda Constitucional n. 36, de 2002, permitiu a participação de capital estrangeiro nas empresas brasileiras de mídia, investidores globais no campo do informação e do entretenimento, atuam aqui. Considerada a convergência tecnológica, pode-se afirmar que eles, na verdade, chegaram antes, isto é, desde a privatização das telecomunicações.

Apesar da dificuldade de se obter informações confiáveis nesse setor, são conhecidas as ligações do Grupo Abril com a sul-africana Naspers; da NET/Globo com a Telmex (do grupo controlado por Carlos Slim) e da Globo com a News Corporation/Sky.

Tudo indica, portanto, que, aos nossos problemas históricos, se acrescenta mais um, este contemporâneo.

Quem ameaça a liberdade de expressão?
Diante dessa tendência, aparentemente mundial, de onde partiria a verdadeira ameaça à liberdade de expressão?

Em matéria sobre o assunto publicada na revista Carta Capital n. 591 o conhecido professor da New York University, Crispin Miller, afirma em relação ao que vem ocorrendo nos Estados Unidos:

“O grande perigo para a democracia norte-americana não é a virtual morte dos jornais diários. É a concentração de donos da mídia no país. Ironicamente, há 15 anos, se dizia que era prematuro falar em uma crise cívica, com os conglomerados exercendo poder de censura sobre a imensidão de notícias disponíveis no mundo pós-internet (...)”.

Todas estas questões deveriam servir de contrapeso para equilibrar a pauta imposta pela grande mídia brasileira em torno das “ameaças” a liberdade de expressão. Afinal, diante das tendências mundiais, quem, de fato, “controla” a mídia e representa perigo para as liberdades democráticas?


Venício Lima é Pesquisador Sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília - NEMP - UNB




segunda-feira, 26 de abril de 2010

A campanha Globo-Serra


por Marcelo Salles

A campanha da TV Globo para o seu candidato do coração, José Serra, merece atenção especial ainda que já tenha sido retirada de circulação. Para quem não viu, um resumo: a pretexto de comemorar seus 45 anos de vida, um vídeo de trinta segundos reúne os principais “astros” da emissora que, com frases curtas, enviam uma mensagem na linha de “o Brasil pode mais”, slogan da campanha serrista, cuja legenda é a de número 45. “Muito mais vontade de querer ainda mais qualidade” e “é por você que a gente faz sempre mais”, dizem os “artistas” e “jornalistas” da empresa. Reparem a ênfase no “mais”, a que Serra tem se prendido para convencer os brasileiros de que é o “Pós-Lula”. No youtube: http://www.youtube.com/watch?v=qTf0SYnNMNk.

A Globo iniciou as transmissões, de fato, há 45 anos, no glorioso ano de 1965. Ou seja, apenas um ano depois do golpe de Estado que, sob a batuta da CIA, seqüestrou, torturou e assassinou milhares de brasileiros. A Globo apoiou a ditadura e foi apoiada por ela. Daí Armando Falcão, um dos ministro da Justiça da época, ter dito no documentário “Muito Além do Cidadão Kane”: “Roberto Marinho foi revolucionário de primeira hora”.

No entanto, vale ressaltar, em nome da História, que os primeiros dois contratos entre Roberto Marinho e o grupo Time Life foram assinados em 1962, em Nova York, segundo registra Daniel Herz no livro “A história secreta da Rede Globo”. No papel, a emissora tem, portanto, 48 anos.

Voltando à peça publicitária em favor de José Serra: o PT enxergou o óbvio e exigiu a retirada da campanha do ar. Foi atendido. Só que essa história não pode terminar aqui. Esse fato é extremamente grave e vai além, muito além, do uso de uma concessão pública para fins privados. Também vai além do uso de uma concessão pública em favor de um grupo político neoliberal que, em última análise, defende a exploração do povo brasileiro e legitima o assalto às riquezas do país.

A peça publicitária da TV Globo é uma poderosa arma simbólica, que só pôde ser percebida como tal porque contém elementos passíveis de serem relacionados à campanha de José Serra: o ano eleitoral, o número 45 e a repetição da palavra “mais”. Por isso, ela rompeu a fina barreira entre a programação regular da emissora e aquela destinada ao “horário eleitoral gratuito”, invariavelmente anunciado com fado por apresentadores de telejornal.

Agora, quem luta pela democracia no Brasil não pode achar que essa história termina aqui. E nem acreditar que essa batalha foi vencida só porque a peça Globo-Serra foi retirada do ar. O que devemos fazer é avançar. A esquerda, como um todo, deve compreender a importância das disputas simbólicas, entendendo, por exemplo, que toda a programação das emissoras comerciais está repleta de mensagens a serviço do projeto neoliberal: egoísmo, individualismo, racismo, preconceitos, segregacionismo, medo, Estado fraco. O sistema capitalista nunca é questionado – para as corporações de mídia, é como se não existisse outra maneira de organizar a vida.

Esse enfrentamento não pode ocorrer apenas nos períodos eleitorais. A mídia é, hoje, a instituição com maior poder de produzir e reproduzir subjetividades. Ou seja, a mídia é essencial para determinar formas de sentir, pensar, agir e viver tanto de indivíduos quanto de instituições. Se queremos formar uma sociedade democrática, todo o sistema midiático deve ser reformulado. E esta é uma batalha de todos os dias.

Marcelo Salles é jornalista, colaborador do www.fazendomedia.com e outros veículos de comunicação democráticos.

domingo, 11 de abril de 2010

A manipulação da Internet


Do Estado de Minas

MARCOS COIMBRA
A internet e seus usos

A tomar pelo interesse que desperta entre políticos e profissionais, a internet será a grande vedete das eleições este ano. Candidatos, jornalistas, marqueteiros, estudiosos, todos só pensam na rede e no que ela poderá representar.

Nas últimas eleições comparáveis, as de 2006, a internet teve papel modesto. Nenhuma campanha maior, de presidente ou governador, se preocupou muito com ela. De seu uso quatro anos atrás, a principal lembrança é dos vídeos de candidatos bizarros, ridicularizados sem piedade.

Em 2008, a internet subiu de patamar e se tornou destaque em algumas cidades. Entre as capitais, foi fundamental em pelo menos duas, Rio e Belo Horizonte, onde, apesar das restrições legais, assumiu suas feições contemporâneas: sites de relacionamento, comunidades virtuais, campanhas virais (direcionadas pelos comitês ou espontâneas). Para culminar, seu desfecho ocorreu sob o impacto da devastadora paródia de um candidato no YouTube, que, durante dias, permaneceu como campeã brasileira de visualizações.

2008 foi, também, o ano da vitória de Obama, naquela que foi saudada como a primeira grande eleição sob a égide da internet. Ela mexeu com a cabeça dos especialistas em todo o mundo e se tornou referência para a montagem das estratégias de candidatos nos quatro cantos do planeta. Quem quisesse ganhar uma eleição tinha que fazer como Obama: apostar na internet.

Nessa euforia, as particularidades de cada sociedade e de cada sistema político foram desconsideradas, entre as quais as nossas. Se funcionava lá, funcionaria aqui, mesmo que fôssemos diferentes em aspectos essenciais. Não se deu a devida atenção ao fato de que, na campanha de Obama, a internet tinha como metas básicas a ampliação do registro eleitoral (dos segmentos mais propensos a votar em sua candidatura) e o aumento da arrecadação (por meio da multiplicação de pequenos doadores). Duas coisas que fazem pouco sentido no Brasil, onde o voto é compulsório e o cidadão comum não pode ou não quer contribuir financeiramente com os candidatos.

Assim chegamos a 2010, com uma experiência própria relevante, mas ainda incipiente, e a imagem de que a internet é a modernidade, em função do maldigerido exemplo americano. Tornou-se consenso a ideia de que ela será fundamental nas eleições de outubro.

Quem acompanha o processo de organização das principais campanhas, sejam presidenciais ou estaduais, está vendo como cresceram os investimentos destinados à internet e às equipes que prometem milagres por meio dela. De itens secundários eles se transformaram em uma prioridade para quase todas.

Com que objetivos se destinam recursos cada vez maiores aos “projetos de internet”? De um lado, para sua finalidade oficial, montar o site do candidato, com todos os recursos (blogs, Twitter etc.) e as ferramentas para torná-lo agradável e útil ao internauta. De outro, no entanto, para ir além, fazendo algumas coisas pouco e outras nada legítimas.

O “pacote de internet” típico oferece diversos serviços: inventar sites de informação (para depois gerar “notícias”); fabricar blogs “espontâneos” de apoio ao candidato; participar de bate-papos e postar comentários em blogs verdadeiros, favoráveis ao cliente; manipular o tráfego de mecanismos de busca etc.. Sem esquecer que tudo isso pode ser feito em sentido negativo, contra os adversários reais ou imaginários do cliente: notícias falsas, blogs de acusação, postagens hostis, virais de ataque.

É bem possível que a própria internet tenha seus anticorpos para enfrentar a infestação que já estamos vendo e que aumentará até outubro. O antídoto contra as tentativas de manipulá-la não virá do aumento da intervenção de quem quer que seja, mas de seus usuários. Só eles mesmos é que conseguirão separar a informação verdadeira, a troca sincera de opiniões, a crítica honesta e a diversão autêntica que uma eleição pode trazer, da atuação dos profissionais que são pagos para fazer o inverso.

Olho vivo, portanto. Quem for navegar achando que a internet é o espaço da liberdade e da autonomia se pode ser fisgado quando menos espera.

fonte: Luís Nassif On Line http://migre.me/vABC

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Jornalismo é subversão

texto de Alexandre Haubrich


Enquanto grandes empresas de comunicação e as faculdades por elas coordenadas formal ou formalmente tentam fazer com que esqueçamos a função social do jornalismo, enquanto a prática jornalística adentra cada vez mais ao “mercado” e à sua lógica, espalhados por aí, geralmente desarticulados, às vezes sem nem cogitar a existência de seus semelhantes, estão jornalistas preocupados com o que fazer de sua arte.

O jornalismo tem um poder gigantesco. Esse poder está, portanto, nas mãos das empresas jornalísticas, mas os jornalistas independentes também podem se utilizar dele. É um poder que, como todos, pode ser usado de diversas formas. Pode ser usado pensando apenas no salário no fim do mês, trabalhando burocraticamente, e isso é legítimo. Porém, quem eu quero homenagear agora são os jornalistas que, mesmo precisando também manter-se economicamente, fazem do jornalismo uma luta, uma defesa de princípios, tentam usar o poder da comunicação para buscar mudanças sociais, de uma forma ou de outra, com todas as limitações impostas pelas dificuldades econômicas, políticas e logísticas, pelas dificuldades impostas por um sistema que não admite a igualdade e o respeito entre as pessoas ao mesmo tempo em que impede a divergência de pensamento.

São blogs, revistas, jornais e rádios críticos, independentes, comunitários que, mesmo contra os meios hegemônicos e contra o preconceito da sociedade, buscam seu espaço, constroem alternativas para essa mesma sociedade que prefere dar credibilidade para os grandes meios, que a tratam como massa de manobra.

Através da cultura, da política, da literatura ou seja lá do que for, esses jornalistas inconformados com qualquer coisa são os que realmente podem fazer o mundo se mexer. Ninguém muda nada sozinho, mas as ideias questionadoras, subversivas, fazem, sim, diferença. É uma batalha de ideias travada diariamente contra caladores de vozes, contra censores modernos, contra a ditadura do pensamento único.

Portanto, nesse Dia do Jornalista, há sim o que comemorar. Precisamos comemorar o fato de que nenhum de nós está sozinho na defesa de uma sociedade democrática e, por consequência óbvia e inseparável, de uma mídia democrática. A internet, através dos blogs e das mídias sociais, tem ajudado a unir quem já estava unido pelas ideias. O caminho está aí em direção a novos paradigmas está aí, o objetivo está lá, ainda muito longe. Que os jornalistas – com ou sem diploma – interessados nesses objetivos saibam encontrar-se pelo caminho, ou ao menos trilhar caminhos paralelos que, juntos, levem todos até lá.

De qualquer forma, é preciso lembrar-se sempre, em especial nesse dia, da frase de Henfil: “Nós não vamos vencer nunca. Nosso prazer vai ser só o de saber que estamos lutando. Só.”


fonte: http://jornalismob.wordpress.com/

sábado, 3 de abril de 2010

Pedófilos, celibatários e infalíveis

texto de Contardo Calligaris

EM 2002, graças a uma série de artigos do "Boston Globe", estourou, nos EUA, o escândalo dos abusos sexuais de crianças por padres católicos. Desde então, uma onda de denúncias varre a Igreja Católica no mundo inteiro.
Última revelação, no "New York Times" da quinta passada: nos anos 1990, quando ele comandava a Congregação da Doutrina e da Fé, o atual papa, Bento 16, suspendeu o julgamento de um padre americano, acusado de molestar 200 meninos surdos, de cujos espíritos e almas, em princípio, ele devia cuidar.
Aos meus olhos, nesta história que não acaba, o escândalo maior talvez não seja o abuso das crianças, mas o comportamento oficial da igreja: de maneira consistente e repetida, ela parece colocar seu interesse institucional acima de qualquer consideração moral. Escândalo, mas sem surpresa alguma: em geral, o projeto dominante de qualquer instituição é o de durar para sempre.
Mas trégua: não escrevo esta coluna para me indignar. Prefiro contribuir ao debate do momento com duas observações, sugeridas pela psicopatologia e pela clínica.
1) Da conversa de botequim até o pronunciamento de um teólogo que admiro (Hans Küng, na Folha de 21 de março), os abusos sexuais de crianças por padres católicos reavivam as críticas contra o celibato dos padres.
Cuidado, não sou um defensor do celibato dos padres. Ao contrário, parece-me que a experiência de amar e conviver melhoraria a qualidade dos ministros da igreja, porque a tarefa de ser consorte ensina uma humildade que é difícil alcançar na solidão, seja ela orgulhosa e casta ou, então, envergonhada e masturbatória. No entanto, acho bizarro que o fim do celibato dos padres seja apresentado como remédio contra a pedofilia.
Essa ideia surge de uma visão hidráulica do desejo sexual, como se esse fosse um rio que, se for impedido de correr no seu leito natural, encontrará todo tipo de caminho torto e desviado. Por essa visão, na ausência de esposa, a libertinagem, não tendo para onde ir, transborda e acaba banhando (quem sabe, afogando) as crianças; portanto, os padres pedófilos não precisariam recorrer a meninos e meninas se dispusessem de uma mulher com quem saciar seus apetites.
É raro que eu me expresse de maneira tão direta, mas é preciso dizer: essa ideia é uma estupidez. Fantasias e orientações sexuais nunca são o efeito de acumulação de energia sexual insatisfeita. Um pedófilo poderá, eventualmente, desejar uma mulher e casar com ela, mas o fato de cumprir, mesmo com afinco, o dever conjugal não o livrará das fantasias pedofílicas. Teremos, simplesmente, pedófilos casados, em vez de solteiros.
Não vejo o que ganharíamos com isso, mas vejo, isso sim, na própria proposta, um desprezo inacreditável pelas mulheres que se casariam para servir de válvulas de escape para a "depravação" dos seus maridos. Ninguém merece.
A quem propõe o casamento como solução para a pedofilia dos padres, uma sugestão: proponha um programa compulsório de transa diária com a boneca inflável do Geraldão. Será tão ineficiente quanto o casamento, mas, ao menos, as mulheres serão poupadas.
2) Não é exato dizer que pedófilo é quem gosta de "carne" jovem. Pois o que importa ao pedófilo, o que é crucial na fantasia, é induzir a vítima a aceitar algo que ela desconhece e não entende. A jovem idade da vítima é sobretudo garantia de sua inocência e ignorância, ou seja, do fato de que a vítima não entenderá o que lhe será feito.
Por exemplo, um dos padres denunciados em Boston, em 2002, explicou que seu prazer consistia não tanto em ser satisfeito oralmente por um menino quanto em convencer o menino de que essa era uma forma especial de santa comunhão, que ele, o padre, ensinava e administrava.
Em suma, o pedófilo encontra seu prazer iniciando os ignaros e exercendo sobre eles um poder pedagógico absoluto. Agora, considere o jeito como a Igreja Católica tratou seu rebanho, até ser forçada a reconhecer a culpa de alguns de seus ministros. Considere a prática recorrente de camuflar decisões administrativas em dogmas divinos, considere a repressão teológica em lugar do diálogo e ainda considere a doutrina da pretensa infalibilidade do pontífice. Pois bem, aparentemente, os padres pedófilos são pequena minoria, mas a igreja como instituição trata mesmo seus fiéis como criancinhas.


fonte: Folha de São Paulo

sexta-feira, 2 de abril de 2010

A antiga imprensa, enfim, assume partido


por Jorge Furtado


Finalmente a antiga imprensa brasileira assumiu que virou um partido político. O anúncio foi feito pela presidente da Associação Nacional dos Jornais e executiva da Folha de S.Paulo, Maria Judith Brito: "Obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposiciobista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada". A presidente da associação/partido não questiona a moralidade de seus filiados assumirem a “posição oposicionista deste país” enquanto, aos seus leitores, alegam praticar jornalismo. O artigo é de Jorge Furtado


Artigo publicado no blog de Jorge Furtado/Casa de Cinema de Porto Alegre

Quem estava prestando atenção já percebeu faz tempo: a antiga imprensa brasileira virou um partido político, incorporando as sessões paulistas do PSDB (Serra) e do PMDB (Quércia), e o DEM (ex-PFL, ex-Arena).

A boa novidade é que finalmente eles admitiram ser o que são, através das palavras sinceras de Maria Judith Brito, presidente da Associação Nacional dos Jornais e executiva do jornal Folha de S. Paulo, em declaração ao jornal O Globo:

“Obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada.”

A presidente da Associação Nacional dos Jornais constata, como ela mesma assinala, o óbvio: seus associados “estão fazendo de fato a posição oposicionista (sic) deste país”. Por que agem assim? Porque “a oposição está profundamente fragilizada”.

A presidente da associação/partido não esclarece porque a oposição “deste país” estaria “profundamente fragilizada”, apesar de ter, como ela mesma reconhece, o irrestrito apoio dos seus associados (os jornais).

A presidente da associação/partido não questiona a moralidade de seus filiados assumirem a “posição oposicionista deste país” enquanto, aos seus leitores, alegam praticar jornalismo. Também não questiona o fato de serem a oposição ao governo “deste país” mas não aos governos do seu estado (São Paulo).

Propriedades privadas, gozando de muitas isenções de impostos para que possam melhor prestar um serviço público fundamental, o de informar a sociedade com a liberdade e o equilíbrio que o bom jornalismo exige, os jornais proclamam-se um partido, isto é, uma “organização social que se fundamenta numa concepção política ou em interesses políticos e sociais comuns e que se propõe alcançar o poder”.

O partido da imprensa se propõe a alcançar o poder com o seu candidato, José Serra. Trata-se, na verdade, de uma retomada: Serra, FHC e seu partido, a imprensa, estiveram no poder por oito anos. Deixaram o governo com desemprego, juros, dívida pública, inflação e carga tributária em alta, crescimento econômico pífio e índices muito baixos de aprovação popular. No governo do partido da imprensa, a criminosa desigualdade social brasileira permaneceu inalterada e os índices de criminalidade (homicídios) tiveram forte crescimento,

O partido da imprensa assumiu a “posição oposicionista” a um governo que hoje conta com enorme aprovação popular. A comparação de desempenho entre os governos do Partido dos Trabalhadores (Lula, Dilma) e do partido da imprensa (FHC, Serra), é extraordinariamente favorável ao primeiro: não há um único índice social ou econômico em que o governo Lula (Dilma) não seja muito superior ao governo FHC (Serra), a lista desta comparação chega a ser enfadonha
Serra é, portanto, o candidato do partido da imprensa, que reúne os interesses da direita brasileira e faz oposição ao governo Lula. Dilma é a candidata da situação, da esquerda, representando vários partidos, defendendo a continuidade do governo Lula.

Agora que tudo ficou bem claro, você pode continuar (ou não) lendo seu jornal, sabendo que ele trabalha explicitamente a favor de uma candidatura e de um partido que, como todo partido, almeja o poder.

X

Annita Dunn, diretora de Comunicações da Casa Branca, à rede de televisão CNN e aos repórteres do The New York Times:

"A rede Fox News opera, praticamente, ou como o setor de pesquisas ou como o setor de comunicações do Partido Republicano" (...) "não precisamos fingir que [a Fox] seria empresa comercial de comunicações do mesmo tipo que a CNN. A rede Fox está em guerra contra Barack Obama e a Casa Branca, [e] não precisamos fingir que o modo como essa organização trabalha seria o modo que dá legitimidade ao trabalho jornalístico. Quando o presidente [Barack Obama] fala à Fox, já sabe que não falará à imprensa, propriamente dita. O presidente já sabe que estará como num debate com o partido da oposição."

Fonte: www.cartamaior.com.br