sábado, 31 de janeiro de 2009

Sustentabilidade


Publicidade, crise e novas demandas sociais

Por João Roberto Vieira da Costa em 30/1/2009

Reproduzido da Folha de S.Paulo, 29/1/2009; intertítulos do OI

A indústria de alimentos decidiu não mais fazer propaganda de alimentos para crianças abaixo de seis anos de idade e vai investir na publicidade educativa para seus pais.

A medida se antecipa a eventuais restrições impostas pelo governo brasileiro a esse tipo de publicidade, em sintonia com ações semelhantes adotadas por governos do mundo todo. Tal decisão ocorre num momento em que muitos se apavoram com as possíveis repercussões da crise econômica global no negócio da propaganda e reforça a ideia correta de que, diante de dificuldades novas, são necessárias novas soluções.

Tradicionalmente, em face de crises de grande envergadura, governos apelam para soluções econômicas ortodoxas. Desta vez, não se limitaram a isso. Seguem alguns exemplos.

** O governo brasileiro anunciou recentemente o Plano Nacional de Combate às Mudanças Climáticas, com impacto desde os grandes empreendimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) até o dia-a-dia de quem desperdiça água lavando calçadas.

** Ao mesmo tempo, o governo da Coreia do Sul anunciou o investimento US$ 38,1 bilhões na proteção do meio ambiente e na geração de energia sustentável para ajudar o país a superar as condições de baixo crescimento. O plano foi chamado de "New Deal Verde".

** O presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou um projeto de mais de US$ 700 bilhões para recuperar a economia americana e, dentre os diversos focos, o plano prevê alto investimento na geração de energia limpa.

Exemplos práticos

E, como num prenúncio desse movimento na esfera privada, o economista Jeffrey Sachs, em artigo publicado em novembro passado, argumentou com excesso de razão que o que será cobrado da indústria, a de automóveis, por exemplo, serão saídas mais inovadoras – não a inovação que torna um carro ainda mais veloz, mas a que o faz mais econômico, menos emissor de gás carbônico.

Seu artigo colocou o dedo na ferida de um dos fundamentos da crise: não é o excesso de consumo puro e simples, mas é o excesso de consumo ruim. É como se o mundo não apenas se fartasse de comer ou de beber, mas ainda o fizesse com comida e bebida de má qualidade.

Há anos a pauta da sociedade civil em todo o planeta vem incorporando temas que antes eram secundários, como as bandeiras ambientais, sociais, igualitárias. Mais recentemente, os governos foram obrigados a institucionalizar conquistas e demandas sintonizadas com essas pautas.

E, por último, empresários e grandes corporações vão sendo sensibilizados por essa agenda, seja pelo impacto econômico da exigência dos consumidores, seja pela força das ideias ou da regulação legal.

Exemplos práticos desse processo no mundo empresarial podem ser vistos na internalização da sustentabilidade por algumas corporações, como Vodafone, Panasonic e Natura, que assumiram tanto no conteúdo de sua comunicação quanto na essência dos seus produtos esse conceito. Mas ainda são poucas.

Convencer clientes

Diante de uma situação tão indeterminada como a que vivemos atualmente, o engajamento nessa agenda pode ser o rumo a um porto seguro. Como vimos pelo descrito acima, a sociedade se movimenta, os governos regulam e, finalmente, o empresariado assume a nova agenda. Mas, infelizmente, em alguns segmentos essa situação nem sequer se completou.

No que diz respeito ao mundo da propaganda e da publicidade, essa mentalidade ainda não se espraiou. Tanto que a indústria de alimento, ao mudar suas estratégias, foi obrigada quase a treinar suas agências para fazerem propaganda responsável.

Poucas vezes vemos lideranças do setor publicitário empenhadas em identificar a importância dessa agenda, seja para o interesse geral da sociedade, seja para a consolidação das marcas que representam.

Na maioria das vezes, quando palavras como sustentabilidade, meio ambiente e responsabilidade social são utilizadas, aparecem como recursos retóricos, e não como tentativa real de fazer um esforço de internalização pelas marcas do vigoroso conteúdo daquelas palavras.

Nós dizemos que, diante da crise, a velha propaganda realmente precisa ser repensada. Não vai bastar o preço baixo, o produto mais soft, o modelo mais colorido. Tudo precisará ser mais amigável com o planeta, mais preocupado com as pessoas, menos poluente.

E a propaganda não só precisará estar preparada para comunicar isso, mas, desde hoje, seus criativos, seus diretores de planejamento, seus sócios e seus atendimentos devem internalizar o esforço de convencer seus clientes, privados ou públicos, de que o futuro é esse.

Fonte: Observatório da Imprensa - www.observatoriodaimprensa.com.br 

Debate aberto


Comunicações democráticas

A Conferência Nacional de Comunicação será realizada este ano, anunciou, em Belém, o ministro Luiz Dulci. Convocada a Conferência, a luta pela democratização das Comunicações passa a um outro patamar. Já não se trata mais de gerar críticas e denúncias, mas sim de produzir propostas.

O ministro Luis Dulci anunciou aqui em Belém que o governo Lula realizará a Conferência Nacional de Comunicação no correr deste ano. Não fixou data. Os acertos de detalhe serão feitos, numa reunião com o ministro Helio Costa, das Comunicações, no próximo dia 3 de fevereiro. Parece que Dulci será um protagonista importante no processo. E isso é bom sinal.

Convocada a Conferência, a luta pela democratização das Comunicações, no Brasil, passa a um outro patamar. Já não se trata mais de gerar críticas, denúncias, acusações. Trata-se de produzir propostas. Propostas que possam ser incorporadas a um projeto de lei a ser votado e aprovado no Congresso Nacional, derrogando e substituindo, para melhor, todo o marco legal que hoje regulamenta as comunicações brasileiras. No pacote, irão de roldão não apenas o Código de 1962 (que já não vale mais nada), mas também a Lei do Cabo de 1995 e a Lei Geral de Telecomunicações, de 1997.

A Conferência não se esgota nela mesma. É a consumação de um processo e início de outro. Conclui uma fase iniciada antes da Constituição de 1988, fase esta, no que interessa ao processo democrático, que pouco avançou desde então. Ao contrário. A regulamentação da Constituição no sentido de tornar realidade os princípios de seus artigos 220 e 221, jamais foi feita. O Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional não funciona há mais de dois anos e nunca chegou a ser, realmente, um organismo relevante. Por outro lado, nos últimos dez anos, avançaram várias reformas neo-liberais, como a Lei do Cabo e a Lei Geral de Telecomunicações, ao mesmo tempo em que permanece formalmente em vigor (salvo nos dispositivos expressamente revogados pela LGT – isto é, quase todos) o vetusto Código de 1962.

Se no passado, já não se explicava o tratamento fragmentário das Comunicações, em nossos tempos atuais, menos ainda tal se justifica. Precisamos tratar as Comunicações como uma totalidade, na qual não importa o meio, importará que a mensagem possa ser produzida por todos e todas, e ser acessada por todos e todas. Evidentemente, cada unidade desses todos e todas produzirá sua mensagem, ou a ela acessará, pelo meio que lhe seja mais conveniente ou esteja mais ao alcance. É muito provável que a internet e demais tecnologias digitais que barateiam a produção e reprodução da informação, venham a ser as principais ferramentas desse movimento radicalmente democratizante. Mas até por isso mesmo, a regulamentação (democrática) da internet e políticas públicas favorecendo e fomentando o acesso popular às tecnologias digitais de informação e comunicação (TICs) terão que ser colocadas no centro do debate democrático.

Assim, por exemplo, será a universalização e democratização do acesso às TICs que norteará o projeto democrático, não a competição e o mercado. Os recursos de acesso deverão ser considerados públicos, não importa se operados por agentes privados ou estatais (salvo, claro, os recursos evidentemente privativos, como redes de condomínios ou intranets empresariais). Entre esses recursos se encontram o espectro de freqüências, inclusive as operadas pelas operadoras de celular, e as redes de cabo que se destinam a atender indiferenciadamente a todas as residências, empresas e instalações públicas – hoje, ainda, as ultrapassadas redes de telefonia fixa, mas, a partir de agora as redes cabeadas de banda-larga, substitutas dessa velha telefonia. 

Nenhuma dessas idéias implica acabar com a mídia comercial. Apenas se pretende ampliar, e ampliar muito, o espaço social para a mídia não-comercial, seja a estatal, seja, sobretudo, a produzida pelos movimento populares. Em princípio, não deveria ser um projeto muito difícil de se consumar. Dadas as características da nossa sociedade, não se espera que a mídia comercial (inclusive as novas, via internet ou celular), possa se sentir economicamente muito ameaçada pela agenda democrática.

O problema é outro: informação é poder. A ameaça não é econômica, mas política, pois a democratização do acesso à informação é condição sine qua non da democratização da própria sociedade. Não são apenas as grandes redes de TV ou operadoras de telecom que se opõem ao projeto democratizante. É todo o sistema vigente de poder (do qual essas redes e operadoras são mediadoras e articuladores) que se opõe ao processo. Este sistema também participará da Conferência. Também colocará nela o seu projeto de sociedade e suas propostas de marco normativo.

O debate será duro. E não se esgota na Conferência. Esta deverá concluir-se no avanço possível, mas este avanço precisará vir a ser concretizado nas letras da lei. Será necessário, pois, que o movimento popular comece a construir um projeto político-legal que articule as suas múltiplas e diversificadas demandas, a muito reprimidas, num conjunto coerente e exeqüível que sirva de base para o debate, na Conferência, da nossa futura Lei Geral das Comunicações Democráticas.


Marcos Dantas é professor do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, doutor em Engenharia de Produção pela COPP-UFRJ e autor de “A lógica do capital-informação: da fragmentação dos monopólios à monopolização dos fragmentos num mundo de comunicações globais” (Ed. Contraponto).


Fonte: Carta Maior

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Por que a mídia privada não consegue ver o FSM?

A mídia mercantil é um caso perdido para a compreensão do mundo contemporâneo. Não por acaso a crise atual a afeta diretamente. Não tardará para que comecem as quebras de empresa de jornalismo por aqui também. E eles serão vitimas da sua própria cegueira, aquela que lhes impede de ver os projetos do futuro da humanidade, que passeiam pelas veredas de Belém.

Mais uma vez a mídia privada não consegue ver o FSM. Os leitores que dependerem dela ficarão sem saber o que acontece aqui em Belém. Por que? O que impede uma boa cobertura, se a riqueza de idéias, a diversidade de presenças, a força dos intercâmbios – como não se encontra em lugar algum do globo – estão todos aqui? Há jornalistas, algum espaço é dedicado pela imprensa ao evento, mas o fundamental passa despercebido. O fundamental não tem preço – diz um dos lemas melhores do FSM. Enquanto o neoliberalismo e o seu reino do mercado tentam fazer com que tudo tenha preço, tudo se venda, tudo se compre, ao estilo shoping-center, o FSM se opôs desde o seu começo a isso, opondo os direitos de todos ao privilégio de quem tem poder de compra, incrementando sempre mais as desigualdades. Um jornalista da FSP (Força Serra Presidente) se orgulha de ter ido a todos os Foros de Davos e, consequentemente, a nenhum Forum Social Mundial. A espetacular marcha de abertura do FSM retratada com belíssimas fotos por Carta Maior, foi inviabilizada pela mídia mercantil.  A cobertura se faz com a ótica com que essa imprensa se comporta, com os óculos escuros que a impedem de ver a realidade. O FSM, como tudo, é objeto das fofocas sobre eventuais desgastes do governo Lula – a obsessão dessa mídia. Não cobrem o dia do Forum PanAmazônico, não deram uma linha sobre o Forum da Mídia Alternativa, não ouvem os palestinos, nem os africanos ou os mexicanos. Nada lhes interessa. No máximo aguardam para ver se Brad Pitt e Angelina Jolie vão vir. Seu estilo e sua ótica está feita para Davos, para executivos, ex-ministros de economia. Lamenta a imprensa que a América Latina, a África e a China estejam tão pouco representados em Davos. Mas o que teriam a fazer por lá? Não se perguntam, nem querem saber. Seus jornalistas não são orientados senão para seguir os passos de Lula e seus ministros. Temas como os diagnósticos da crise e as alternativas, a guerra e as alternativas de paz, as propostas de desenvolvimento sustentável – fundamentais no FSM – estão fora da pauta. Nem falar da crise da própria mídia tradicional e das propostas de construção de mídias públicas e democráticas. A mídia mercantil é um caso perdido para a compreensão do mundo contemporâneo. Não por acaso a crise atual a afeta diretamente. Não tardará para que comecem as quebras de empresa de jornalismo por aqui também. E eles serão vitimas da sua própria cegueira, aquela que lhes impede de ver os projetos do futuro da humanidade, que passeiam pelas veredas de Belém.


Foto: Eduardo Seidl 

Fonte: Carta Maior

domingo, 25 de janeiro de 2009

Fórum Social Mundial começa 3ª feira em Belém


O Fórum Social Mundial está de volta... em Belém - De 27 de Janeiro a 1 de Fevereiro, no coração da Amazônia, milhares de delegados de movimentos sociais, povos indígenas, sindicatos, organizações, ONGs e grupos religiosos se encontrarão mais uma vez para confirmar que outro mundo é possível.

 

O Fórum Social Mundial 2009 será realizado na cidade de Belém, Pará (Brasil/Pan-Amazônia) nas Universidades Federal do Pará (UFPA) e Federal Rural da Amazônia. (UFRA)

Mais de 4.000 organizações sociais e indígenas vindas de mais de 150 países se encontrarão de 27 de janeiro a 1 de fevereiro de 2009 em Belém, na Amazônia brasileira, para celebrar a nona edição do Fórum Social Mundial, com cerca de 2.600 atividades, entre assembléias, seminários, oficinas, cerimonias e atividades culturais. Até o dia 9 de janeiro, mais de 80 mil pessoas já estavam inscritas para participar do FSM Amazônia.


O Fórum Social Mundial (FSM) é um espaço aberto, plural, horizontal e não governamental, nascido para estimular o debate descentralizado, a reflexão, a construção de propostas, a troca de experiencias e as alianças entre movimentos e organizações interessadas no desenvolvimento de ações concretas rumo a um mundo justo e democrático.


Fique por dentro do FSM. Acesse www.fsm2009amazonia.org.br

sábado, 24 de janeiro de 2009

Santa Rosa mostra Gramado

Projeto cultural é apresentado ao MinC

O secretário municipal de Cultura, Ângelo Zeni e o representante da OSCIP Cidade Interativa, Miguel Oliveira, reuniram-se na quinta-feira da semana passada, 15, em Porto Alegre, com Célio Turino, secretário de Programas e Projetos Culturais do Ministério da Cultura (MinC).

No encontro, articulado pela ex-deputada Jussara Cony, apresentaram o projeto “Santa Rosa mostra Gramado”, que almeja mostrar no Cinema Municipal de Santa Rosa filmes que se destacam no tradicional evento do cinema nacional realizado anualmente em Gramado. “A idéia é promovermos a nossa mostra paralelamente a de Gramado dentro de um projeto maior, também entregue na audiência, que prevê a realização do Festival de Vídeo e Mostra de Cinema e Vídeo”, explicou Zeni.

A parceria entre a Secretaria de Cultura e a OSCIP Cidade Interativa para alcançar os dois objetivos vem sendo tratada desde os primeiros dias de janeiro. O projeto do Festival já estava pronto, chegou a ser programado, mas foi suspenso, tendo sido retomado com o apoio manifestado pelo Governo Municipal.


Fonte: Jornal Noroeste / Santa Rosa - www.jornalnoroeste.com.br


sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Produtividade para os professores: um debate sem a presença dos educadores

do blog RS URGENTE www.rsurgente.blogspot.com 

Lupiscinio Pires escreve:

Já se passam várias semanas e para o jornal Zero Hora a questão da produtividade para os professores estaduais é praticamente pauta obrigatória do principal jornal do grupo RBS. É curioso que após a inconfidência do Sr. Lauro Quadros que relatou o almoço de Rosane de Oliveira com Mariza de Abreu às vesperas do famoso DIA DO FICO, a principal cronista política de ZH diminuiu considerávelmente as suas inserções nas questões das alterações do plano de carreira.

Mas tudo tem solução! Literalmente entrou em campo o jornalista esportivo David Coimbra para opinar sobre o plano de carreira em curso. Ao participar do Painel sobre Educação o referido jornalista optou por endereçar perguntas difíceis para a presidente do CPERS, deixando o campo livre para a secretária Mariza Abreu. Especialista em textos do cotidiano do amor e de futebol, David Coimbra escreveu, logo após o Painel sobre educação, um artigo intitulado Mariza X Rejane que atribui os problemas educacionais ao sectarismo do sindicato.

Hoje ao escrever o artigo, O PATRÃO elege um novo algoz : OS DIRETORES DE ESCOLA. Há algum tempo já tinha se manifestado contra as eleições diretas para diretores de escola. Enquanto isto, os pedagogos, as universidades, os professores, os alunos e os círculos de pais e mestres não existem para o jornal Zero Hora. A Zero Hora já transcreveu a opinião do mega-empresário Gerdau, do economista Ioschpe, de Rosane de Oliveira e agora por último de David Coimbra. Se seguir nesta trilha em breve leremos a opinião do responsável pela editoria de carros e motos, da página policial e por fim do editor do Caderno Donna. E os EDUCADORES? Pelo visto estes não existem no Rio Grande do Sul.


sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Uma ação contra o oligopólio

fonte: Observatório da Imprensa - www.observatoriodaimprensa.com.br


MPF vs. RBS

Por Última Instância / Agência Estado em 13/1/2009

Reproduzido do Última Instância, 11/1/2009, título original "MPF entra com ação contra oligopólio do Grupo RBS em SC"

O MPF (Ministério Público Federal) em Santa Catarina propôs ação civil pública contra a aquisição do jornal A Notícia pelo Grupo RBS, ou Rede Brasil Sul, que atualmente detém no Estado o controle de seis emissoras de televisão, os jornais Diário CatarinenseHora de Santa Catarina e Jornal de Santa Catarina, além de três emissoras de rádio.

Na ação, o MPF também busca reduzir o número de emissoras de televisão do grupo ao máximo permitido por lei – duas. Segundo a PGR (Procuradoria-Geral da República), as empresas são registradas em nome de diferentes pessoas da mesma família com o objetivo de não ultrapassar o limite estabelecido em lei, o que é feito com o conhecimento expresso do Ministério das Comunicações.

O pedido é assinado pelos procuradores da República Analúcia Hartmann, Celso Antônio Tres, Marcelo da Mota e Mário Sérgio Ghannagé Barbosa, mas ainda aguarda o recebimento pela Justiça Federal.

A ação foi proposta contra várias empresas do grupo, inclusive o jornal A Notícia, e as pessoas físicas Moacir Gervazzio Thomazi, antigo proprietário do jornal A Notícia, e Nelson Pacheco Sirotsky, controlador do grupo RBS. Também são citados a União e o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que aprovou a compra do jornal pelo grupo.

Alienação sem vínculo com o grupo

Para o MPF, há em Santa Catarina uma situação de oligopólio, onde um único grupo econômico possui quase a total hegemonia das comunicações no estado. Também se percebe uma situação de propriedade cruzada, uma vez que, novamente, um único grupo econômico possui a propriedade de todas as mídias: TV, rádio, jornal, internet, revista etc.

Na ação, os procuradores ressaltam a necessidade de pluralidade dos meios de comunicação social para garantir o direito de informação e expressão, e a manutenção da livre concorrência e da liberdade econômica, ameaçadas por práticas oligopolistas.

O documento cita dois casos de práticas do Grupo RBS que ferem os preceitos da livre concorrência: o caso de dumping praticado no lançamento do jornal Hora de Santa Catarina, que custava apenas R$ 0,25, com o objetivo de lançar o produto abaixo do custo para sabotar a concorrência; e a obrigação imposta aos distribuidores e vendedores de periódicos de não operarem com veículos que não sejam da RBS.

Caso a ação seja julgada procedente, as emissoras excedentes do grupo e o jornal A Notícia devem ser alienados a terceiros sem vínculo empresarial ou pessoal com a RBS. Também há a possibilidade de o jornal ser restituído aos antigos proprietários.

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MPF de SC questiona oligopólio de mídia do Grupo RBS

Solange Spigliatti # Agência Estado, 12/1/2009

São Paulo – Ação civil pública do Ministério Público Federal (MPF) de Santa Catarina quer anular a aquisição do jornal A Notícia pelo Grupo Rede Brasil Sul (RBS) e reduzir o número de emissoras de televisão da empresa ao máximo permitido em lei. O objetivo é defender o direito de informação e expressão dos cidadãos catarinenses, de acordo com o MPF. Atualmente, o grupo detém no Estado o controle de seis emissoras de televisão; os jornais Diário CatarinenseHora de Santa CatarinaJornal de Santa Catarina e, recentemente, o jornal A Notícia; além de três emissoras de rádio. O máximo permitido em lei são duas.

O pool de emissoras e jornais utiliza o nome fantasia Grupo RBS. Com o conhecimento expresso do Ministério das Comunicações, as empresas são registradas em nome de diferentes pessoas da mesma família com o objetivo de não ultrapassar o limite estabelecido em lei.

Caso a ação seja julgada procedente, a propriedade do jornal A Notícia deverá ser restabelecida aos antigos proprietários. Outra opção é a alienação do jornal para terceiros que não possuam qualquer vínculo empresarial ou pessoal com a RBS. O mesmo aconteceria com as emissoras de televisão que excedessem o máximo permitido em lei, que deveriam ser alienadas a terceiros sem vínculo empresarial ou pessoal com a RBS.

A ação foi proposta contra a TV Coligadas de Santa Catarina (com sede em Blumenau), RBS TV Chapecó, RBS TV Criciúma, RBS TV Florianópolis, RBS TV Joaçaba, CIA Catarinense de Rádio e Televisão (com sede em Joinville), RBS-Zero Hora, além do jornal e da empresa A Notícia. São também acusadas as pessoas físicas Moacir Gervazzio Thomazi, antigo proprietário do A Notícia, e Nelson Pacheco Sirotsky, controlador do grupo RBS. A ação também foi proposta contra a União e contra o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que, ao apreciar a aquisição doA Notícia pelo grupo RBS, aprovou o ato.

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"É a RBS que governa o estado" – Rafaela Mattevi e Cora Ribeiro entrevistam Celso Tres