domingo, 27 de setembro de 2015

SOY LOCO POR TI, AMÉRICA!


EXPEDIÇÃO LA PAZ / Jeferson Rossi Furtado

SOY LOCO POR TI, AMÉRICA!




Ciclista. Escultor. Ele não define qual a virtude que prevalece. Como escultor suas obras se destacam pela criatividade e pelo aproveitamento de sucatas que dão forma à obra, dom que descobriu há cerca de 20 anos. No ciclismo já empreendeu inúmeras viagens e já conta com uma milhagem considerável.

Jeferson Rossi Furtado tem 48 anos e muitas histórias para contar.

Aos 14 anos pedalou até as Ruínas de São Miguel, esporte que descobriu cedo em inúmeras participações em campeonatos de bicicross. Retornou agora a pouco de roteiro até a Bolívia. São 2.800 km. Vinte e três dias na estrada com a bike. Entre as pedaladas até as Ruínas de São Miguel quando garoto e o projeto de ir até a Bolívia são extremos que dispenderam preparo físico, persistência e muitas reflexões.

Já pedalou até Montevidéo (Uruguai); São Pedro de Atacama (Chile); Buenos Aires (Argentina) através da costa uruguaia; e, até Valparaíso, na costa do Pacífico, Chile. Ele conta que na estrada os motoristas, geralmente, respeitam os ciclistas. No entanto, os motoristas brasileiros são conhecidos pela falta de educação e respeito aos atletas estradeiros.

- A bicicleta vai equipada com tudo que é preciso para enfrentar um desafio desses. Comida, água, roupas e ferramentas, caso sejam necessárias. Para dormir, uma pequena barraca, algum hotel ou pousada que esteja no roteiro - detalha.

16 de maio de 2015 é data do início de mais uma viagem de bicicleta pela América Latina.

Destino: LA PAZ/ Bolívia.


O INÍCIO





A expedição começa com chuva. Muita chuva até Possadas. Pela frente ainda, além da Argentina, Paraguai e Bolívia. A meta.

Passa por Encarnacion, Assuncion (capital), e outras cidades paraguaias. Chega à Bolívia, passando por Tarija, Potosi, Oruro, entre outras. Vinte e três dias. 2.800 km acima do mar. Desafio físico e mental. Até Possadas, Furtado teve a companhia de Jaime Kaefer. Daí em diante, segue sozinho. São 200 km até a fronteira com o Paraguai. Atravessa a ponte e vai adiante.

Em Encarnacion é hora de fazer câmbio de moedas. Do real para peso argentino. Para o guarani paraguaio. Para o peso boliviano. Dólar. “Haja dinheiro!” – reclama.

Tem o câmbio do tempo também. O fuso horário. Há uma diferença de uma hora no Paraguai e na Bolívia em relação ao Brasil.

Vamos pedalar! As longas, retas e planas estradas do Paraguai estimulam o ciclista a pedalar até 220 km em um dia. Com carga de 50 kg. 






- Conheci Asunción. Bela cidade às margens do Rio Paraguai. Povo paraguaio é gentil e receptivo, me sentia tranquilo, mesmo longe de casa. Voltou a chover e senti novamente, o calor do chaco paraguaio. Já havia pedalado no chaco argentino no verão, aonde a temperatura do asfalto chega a 50 graus. 

O Chaco é uma região semi-árida, muito quente, com baixa umidade e uma densidade populacional muito baixa.

As estradas paraguaias são perfeitas, exceto 120 km de muitas crateras onde levei 12 horas para cruzar, onde, normalmente, levaria 6 horas. A Trans Chaco é desafiadora: retas infinitas, poucos recursos ou quase nada. Água é difícil encontrar. Dizem,”se tiver água no chaco, tu tem tudo”.

Fato curioso ocorreu no Chaco quando, de repente, se viu envolvido numa nuvem de gafanhotos. “Parecia filme de ficção”. O fenômeno chegou a fazer sombra num dia ensolarado e quente, por cerca de 2 km, tal era a quantidade de gafanhotos. Foi uma mistura de espanto, medo e admiração de algo desconhecido – relata o viajante.

Chegou a um quartel do exército paraguaio onde pernoitou. Constatou que lá existe uma enorme pista de pouso que está sendo construída. As pessoas especulam muito sobre a obra. Comentam que pode ser uma base estratégica americana.


BOLÍVIA






Depois na Bolívia, logo no início, percorre uma reta de 50 km, estrada plana. Furtado destaca que as estradas do Chile, Bolívia, Argentina, Uruguai e Paraguai são excelentes, com asfalto de qualidade, poucas curvas. Irônico, diz “estranhar” porque as construtoras são... brasileiras!

Percorre mais de 200 km em estradas de chão, pela selva, montanhas.

- Foi difícil! Chuva, nevoeiro, barro, penhascos, abismos, mas valeu a pena ter conseguido transpor aquele trajeto. Lugares lindíssimos, nunca havia visto lugares tão fascinantes! Natureza exuberante!

As subidas fortes com até 35 km foram constantes em todo percurso. Chegou a 4.000 m de altitude. Falta ar, principalmente nas longas subidas. A respiração fica ofegante. Calor nas subidas e o frio nas descidas. Um desafio.

Problemas mecânicos na bike só ocorreu uma vez. Pneu furado. A valente bike é uma GT modelo All Terra, que está com 86 mil km.


LA PAZ

Ele conta que a capital La Paz é diferente de tudo! Tem um trânsito super caótico, “mas eles se entendem”, ri. Descreve a capital boliviana de uma beleza ímpar, principalmente à noite, quando a cidade desvela um brilho sobre sua superfície que parece ouro e prata, com a silhueta de um vulcão nevado, ao fundo.

Quatro dias em La Paz. Andou de teleférico. Conheceu muitos lugares. Foi bem recebido pelas pessoas. “Me senti em casa” – diz.

Nem tudo é tranquilidade. Certa ocasião quando estava nas montanhas bolivianas. Muito frio, principalmente pela manhã, ao escovar os dentes, notou que a água havia congelado. De retorno à estrada, viu gelo nos barrancos e as águas dos pequenos rios igualmente estavam congeladas.

- As montanhas bolivianas são encantadoras. Emocionante observar o dourado em contraste com o azul do céu. Motivos para parar e fotografar – argumenta. Foram mais de duas mil fotos desta expedição.






Encara agora uma rampa. Velocidade de 80 km por hora. Adrenalina. Fone no ouvido. Rock quebrando tudo. Curvas. Caminhões. Perigo. Calma.

- O cair da noite no altiplano é único! Emocionante! Lua cheia atrás das montanhas. Parece um gigantesco farol. Show!

Mesmo tendo à disposição uma barraca para dormir, Furtado revela que ficava imensamente grato quando conseguia um lugar com mais conforto para dormir, tomar banho e se alimentar. Hospedou-se em hotéis que encontrava na estrada, muitas vezes pousadas sem nenhuma estrutura. Exclusivamente para dormir. Só.

Sobre o hábito e a cultura boliviana de mascar as folhas de coca, conta que é bastante comum. Até o Papa quando esteve na Bolívia recentemente, tomou chá das folhas de coca.

Viagem de bike também é cultura. É conhecer patrimônio cultural. Igrejas centenárias, com uma arquitetura fantástica. A história das civilizações indígenas e a exploração europeia. Genocídio e saque de riquezas da terra. Ambição e religiosidade. A maioria do povo boliviano e paraguaio é católico. Mas Furtado conta que viu templos do Edir Macedo por lá. A IURD já fincou raízes por aquelas bandas.


ESCULTURAS






Além de ciclista, Furtado também é escultor. Descobriu o talento há cerca de 20 anos quando produziu uma estátua de um gaúcho estilizado, toda de sucata de ferro, encomendada por um centro de tradições gaúchas na Semana Farroupilha. A repercussão foi imediata. Logo, surgiram novas encomendas. 

Uma de suas obras mais conhecidas é a estátua do goleiro Taffarel na rotatória do Parcão, em Santa Rosa. Já foi premiado nacionalmente em concursos. Furtado contabiliza mais de mil obras já produzidas. É nos depósitos de ferros velhos que ele garimpa a matéria prima para suas obras. Ciclismo e arte. Uma mistura exótica, diferente, partes do DNA de Jeferson Rossi Furtado.


PREPARAÇÃO

Essas empreitadas exigem preparação. Furtado pedala 600 km por mês. Pode chegar até 1.000 km quando o roteiro a ser percorrido é longo.

- A condição física é adquirida com a regularidade dos treinamentos. É preciso ter disciplina e treinar toda semana para atingir um preparo que possibilite uma viagem - recomenda.

Esta é sua segunda longa viagem. Temia ter problemas para lidar com a solidão na estrada. Mas ele conta que encontrou muitas pessoas no trajeto, paisagens lindas, cidades interessantes, e afirma que o instinto de sobrevivência do ser humano é muito forte.

Além disso, fazia contatos frequentes com seus familiares e amigos, quando conseguia conectar a internet.

- Na estrada encontrei ainda ciclistas americanos e franceses. Tive a grata companhia do alemão Peter, de Munique. Ele já andou muito. Segundo ele, só não pedalou nos Estados Unidos, Canadá e no Alasca. Conheci José Rúbio, da cidade do México, trocamos informações e estivemos juntos na visita ao Lago Titicaca, o mais alto do mundo. Estivemos na Ilha del Sol, lugar místico onde viviam os Incas.

Cada dia na estrada era momento único. Tudo poderia ocorrer. E tudo aconteceu da melhor maneira. Gratidão por tudo. 






- Soy loco por ti, América! - finaliza.


*****


>> Reportagem publicada originalmente na edição #51 da Revista Afinal.


sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Mídias móveis reoxigenam a imprensa

 por Sérgio de Azevedo Redó* 




Um caso recente exemplifica bem o novo contexto de comunicação social no Brasil. Usando apenas um celular com câmera e falando com propriedade, a dona de casa Mirian Cristina Stein contestou veementemente a jornalista Cristiana Lobo e a apresentadora Ana Maria Braga no momento em que as duas defendiam a manutenção do fator previdenciário em programa vespertino da Rede Globo.

A telespectadora, que lavava a louça, interrompeu o serviço doméstico e gravou o vídeo, de 4 minutos e 32 segundos, na cozinha de casa enquanto assistia à reportagem pela TV. Postado por ela no Facebook, o vídeo se espalhou rapidamente nas redes sociais e em cinco dias já contabilizava milhares de acessos. Só no site Conversa Afiada, do jornalista Paulo Henrique Amorim, alcançou mais de 500 mil visualizações e centenas de comentários em menos de uma semana.

Apesar de previstos constitucionalmente, a garantia da liberdade de expressão de Mirian Stein e o seu direito de resposta imediatos só foram possíveis pelo advento da web, que trouxe instantaneidade na transmissão de notícias. Há uma década, se o público quisesse contestar alguma informação repassada pela imprensa, principalmente pela televisão, teria um longo caminho a percorrer.

Graças à tecnologia digital, um pequeno dispositivo móvel permitiu a Mirian Stein divulgar em menos de cinco minutos, para o Brasil e o mundo, o seu direito de discordar das informações que recebia das profissionais da TV Globo. O fato torna evidente que o webjornalismo – o jornalismo exercido na internet – cobra maior responsabilidade da imprensa no repasse de informações ao público.

O direito à informação

Para termos uma ideia melhor da importância desse avanço tecnológico na comunicação social, basta ressaltar que a dona de casa Mirian Stein exerceu instantaneamente o direito que o então governador Leonel Brizola, do Rio de Janeiro, levou três anos para conseguir, na mesma emissora de TV. E ele só obteve êxito porque acionou a Justiça.

Preocupada em acompanhar os novos e modernos caminhos da comunicação social, a Associação Paulista de Imprensa (A.P.I.), trouxe para integrar a sua equipe a jovem empreendedora Isabel Pesce Mattos. Sócia de Bill Gates – o fundador da Microsoft –, Bel Pesce é hoje vice-presidente, diretora de redes sociais da A.P.I. Dessa forma, a instituição está antenada com o webjornalismo e todas as suas variantes.

Na imprensa convencional, a caneta já foi considerada a maior arma do repórter. Mas a era digital, a era da informação, fixou o webjornalismo como uma poderosa ferramenta para sepultar a censura, praga proibida pela Constituição Federal de 1988, em seu artigo 220, parágrafo 2°. Consequentemente, ele fortalece a liberdade de expressão assegurada pela Carta Magna no artigo 5º, inciso IV.

O ciberjornalismo, que reúne as mídias sociais, modificou o comportamento do público que recebe a notícia, tornando-o mais participativo e mais criterioso. Por isso, ele cobra maior responsabilidade do profissional de imprensa na hora de exercer o direito à informação, afiançado constitucionalmente no artigo 5º, inciso XIV. Em contrapartida, o jornalismo online dá total liberdade de atuação aos profissionais de comunicação social.

Os direitos da comunicação social

Seja o público do jornal impresso ou online, da televisão ou do rádio, a interatividade que veio com o surgimento do webjornalismo garante o exercício do princípio do contraditório, do imediato direito de resposta, outro poder legitimado pela Constituição Federal – artigo 5º, inciso V.

Podemos dizer que o jornalismo multimídia é a mola propulsora que veio para fazer valerem os direitos previstos em cada uma das várias vertentes da comunicação social no Brasil, inseridas na Constituição Federal, tais como:

A liberdade de expressão – “É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato” (Artigo 5º, inciso IV); “Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social” (Artigo 220, parágrafo 1º).

A malfadada censura – “É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença” (Artigo 5º, inciso IX); “É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística” (Artigo 220, parágrafo 2º).

O direito a informação – É assegurado a todos o acesso a informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional” (Artigo 5º, inciso XIV). O princípio do contraditório (Artigo 5º, inciso LV) ou audiatur et altera pars, ou seja, “ouça-se também a outra parte”.

A globalização da notícia

A instantaneidade nas transmissões de notícias em mídias sociais, a exemplo de blogs e sites de informações, e a interatividade entre o público e o profissional de comunicação são tão intensas quanto os avanços que ocorrem na web. Prova disso é que enquanto muitos jornalistas estão ainda aprendendo como usar a mídia digital no computador, a telefonia móvel já se apresenta como um novo fenômeno de publicação de notícias instantâneas, como foi no caso de Mirian Stein, em sua resposta imediata a Rede Globo.

A rápida repercussão das notícias é outro fator importante no webjornalismo. Enquanto no jornal impresso o leitor espera até o dia seguinte para se informar, e na televisão precisa seguir a grade de programação; na internet a informação é difundida em minutos para o público e a repercussão é quase imediata.

Quem mantém blogs jornalísticos vê as suas reportagens, se forem de boa qualidade, lidas em todo o Brasil e em vários outros países em menos de uma hora depois de publicadas. O webjornalismo se sobressai por ser mais influente do que o tradicional; mais participativo e de alta credibilidade. Já se tornou comum jornal e televisão se pautarem pelas notícias divulgadas no universo online.

Por reconhecer a importância dessa moderna e dinâmica era da comunicação social, a A.P.I. abriu espaço para a filiação de blogueiros que mantêm sites de reportagens. Sabemos que a globalização da notícia por meio do universo online é um caminho sem retorno e extremamente saudável para a sociedade. Portanto, eu reafirmo, o webjornalismo é muito bem vindo, pois garante a nós, jornalistas, fazer valer os preceitos constitucionais da plena liberdade de expressão e da proibição da malfadada censura.


*Sérgio de Azevedo Redó é advogado, jornalista e presidente da Associação Paulista de Imprensa


fonte: FNDC/Observatório da Imprensa


Redes sociais são ferramentas essenciais

Por Vitor Peçanha*



Devido à ruptura e revolução da comunicação que temos vivido, os padrões do marketing, da publicidade e também os hábitos do comércio passaram por grandes mudanças. Porém, a transição dos negócios do mundo físico para o virtual não foi de fácil aceitação para as empresas. Muitas delas tiveram que se readequar diante do novo cenário e investir em novos canais, como as mídias sociais, para se manter relevantes no mercado.

Esses canais, que antes eram vistos puramente como entretenimento e redes de comunicação pessoal, acabaram se tornando essenciais em estratégias de marketing e um dos principais meios de comunicação das empresas. Segundo relatório da Pew Research, em 2014, entre os brasileiros que têm acesso à internet, 73% são usuários das redes sociais. Este dado confirma a importância de se investir neste meio, uma vez que grande parte do público está concentrada ali.

Explorar essas ferramentas de grande potencial, criar um relacionamento duradouro com as pessoas e obter um engajamento nas redes sociais por meio da produção de conteúdo para esses canais são passos importantes para aumentar a cartela de clientes e atingir um número maior de consumidores online e gerar negócios.

O Facebook, por exemplo, é uma das principais ferramentas de marketing digital nos dias atuais. Importante local para estabelecer estratégias de relacionamento online, com ações voltadas para o marketing, fixando a presença da marca no meio digital. Não é à toa que em 2014 as marcas gastaram US$11.4 bilhões somente nessa rede social

Destaco, por fim, que qualquer que seja sua estratégia, investir em novas ferramentas e canais requer também uma nova mentalidade. Não adianta somente ter orçamentos gigantes e contabilizar sua visibilidade. É necessário produzir conteúdo de qualidade, se engajar com o público e entender quais tipos de conteúdo funcionam melhor em cada canal.

*Vitor Peçanha, Co-Fundador da Rock Content, startup de Marketing de Conteúdo, que atua com o objetivo de ajudar empresas a gerar negócios por meio da geração de conteúdo estratégico.

fonte: Coletiva.net


quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Evento reúne grupos de saúde mental da região

XI Festa Regional da Saúde Mental reúne a região na SETREM


Evento contou com a presença e 350 profissionais e usuários da saúde mental dos municípios da região


Grupos de Saúde Mental da região prestigiaram a XI Festa Regional da Saúde Mental, realizada na Unidade Três de Maio nesta quarta-feira, 23. O tema do encontro foi Viva o Rio Grande do Sul Tchê!, alusivo à Semana Farroupilha. O evento foi promovido pelos acadêmicos do 6º e do 8º períodos do Bacharelado em Enfermagem da SETREM, desenvolvida no componente curricular Enfermagem no Cuidado Mental Coletivo. A Festa contou com a presença e 350 profissionais e usuários da saúde mental dos municípios de Três de Maio, Horizontina, Santa Rosa, Independência, Novo Machado, São Martinho, Tucunduva, Campina das Missões.

“Momentos como este contribuem para a reinserção social dos usuários dos serviços de saúde mental, proporcionam o compartilhar de alegrias, bem-estar e conhecimento”, afirma a coordenadora da atividade, Anelise Almeida, destacando que a presença e participação de todos colaborou para o sucesso da Festa.

Mais informações no site: www.setrem.com.br


SUICÍDIO: DO HORROR AO FASCÍNIO

por Tânia Maria de Souza*

Apesar do horror que circunda a cena de um suicídio, sua captura é inevitável, dada sua condição convocatória de querer saber mais sobre ela. Sobretudo é uma cena enigmática porque apresenta um sujeito desprezando a vida, diante de muitos que parecem certos em querer viver. Afinal, o homem investe a maior parte de seu tempo buscando melhores condições de vida. A ciência pretende superar seus limites prolongando o tempo de vida do homem. A máxima pretendida é vencer a morte.

Por isso se quer saber mais sobre a cena de um suicídio. Ela lança um enigma porque não há como explicar o que faz com que alguns, apenas alguns poucos, marchem de forma tão decisiva em direção contrária a todos os outros. Dizendo, talvez com um certo risco de exagero, parece que essa certeza presente na marcha de um suicida, não aparece na marcha dos demais. Nestes, ela está sempre permeada por alguns tropeços. De tempos em tempos, há um falsear de pés no qual a certeza se esvai, para novamente ser encontrada no passo seguinte, mesmo que essa pretensa certeza seja sempre provisória.

Em um suicídio a marcha é precisa, o passo não se interrompe e o ato se cumpre. Parece não haver dúvidas de que ele sabe o que quer. Saber esse reafirmado na certeza cruel de um ato que parece ser sem angústia. A angústia, conforme Lacan, não é feita de dúvida, mas ao contrário, a dúvida serve justamente para combater a angústia.[1]

Tomo a fala da esposa de um suicida para pensar como essas questões aparecem. Ela diz não conseguir entender seu ato, que há muito tempo vinha tentando se suicidar, mas alguém sempre conseguia chegar a tempo de impedi-lo. Ele dizia que queria morrer, pois somente assim sua família poderia ficar bem; não se sentia capaz de deixá-la bem, estando vivo. Conta que no dia do suicídio, ele estava tranqüilo como há muito não o via. Ele falou que se sentia bem, que tinha dormido bem a noite e que gostava muito dela e dos filhos. Saiu para seu trabalho e ela pensou aliviada que o perigo havia passado, pois parecia que ele estava realmente bem. Poucas horas depois, ela recebe a noticia de sua morte.

Esse fragmento é suficiente para demarcar os dois lados de um suicídio: o de “lá” e o de “cá”, ou seja, a posição daquele que vai e daquele que fica. O primeiro deles mostra a forma como alguns sujeitos lidam com sua castração[2], a qual nesse caso, aparece na relação que ele faz entre sua morte e o bem estar de sua família, ou seja, estando vivo não se reconhece em condições de deixá-los bem. Pelo menos não da forma como ele deveria imaginar, pois seu desabafo denuncia o que tem de insuportável em estar vivo e não conseguir... não conseguir seja lá o que for. Assim, a morte é a sua redenção, já que não foi possível fazer estando vivo, então é possível fazer estando morto. Escapa da castração de forma sacrificial, caindo fora da cena.

Esse deixar-se cair, conforme Lacan, é correlativo a passagem ao ato e encontra-se sempre do lado do sujeito quando se depara com o que ele é para o Outro[3]: objeto. E isso parece se dar em um momento de grande embaraço e de uma grande emoção, quando não se torna possível qualquer simbolização. O deixar-se cair então o lança para fora da cena, em um ato que o ejeta em um oferecimento ao Outro, como se Outro pudesse gozar (no sentido de usufruir) com sua morte. A passagem ao ato é, portanto, um agir impulsivo e inconsciente.

Certamente os que ficam, não ficarão melhores depois disso, mas aquele que foi, poderá ter sua falha perdoada, pelo menos é isso que um suicida espera, que seja reconhecido seu sacrifício e não sua inabilidade em viver e lidar com os percalços que a vida lhe deu.

O outro lado se refere a interpretação que os que ficam fazem desse ato. Quando, no caso referido, a esposa fala da tranqüilidade que seu marido demonstrava no dia do suicídio, entende-se que essa tranqüilidade advém da certeza que antecede ao ato. Como vimos anteriormente, essa certeza é própria da postura de um suicida, sendo causa de interrogações para quem deseja entender um suicídio, ou ainda de ter que se posicionar frente a tal evento trágico. Não podemos negar o fascínio com o qual somos todos envolvidos, mas por outro lado não podemos nos deixar engolfar por ele, o que resulta em um impasse: ascender ao gozo[4] do qual supostamente um suicida sabe (saber que os demais só conseguem imaginar em seus sonhos), ou salvar-se dos desígnios desse gozo pela via do horror.

Novamente nos vemos diante de um enigma que convoca a todos e o qual somente um suicida poderia decifrar. Somente ele, porque confessou sem medo das conseqüências, o seu desejo de morte como uma saída para sua vida. A tranqüilidade percebida pela esposa, conforme seu relato, talvez diga de um olhar que esteja atravessado por algo que não se encerra no limite da morte, mas que a transcende. Ou seja, é de um engano que estamos falando, o engano do suicida, que desesperançado de si mesmo busca um atalho para não ter que enfrentar os desatinos da vida. Talvez para ele este seja o caminho mais fácil. Talvez ..., talvez ..., suposições apenas, porque mais uma vez o saber permanece inapreensível, se perdendo a cada suicídio.

* Tânia Maria de Souza – Psicanalista, membro da Associação Espaço Psicanalítico e prfª do curso de Psicologia da Unijuí.

[1] Lacan, Jacques. Seminário X, lição VI, p. 10
[2] Em termos psicanalíticos, entende-se o termo castração pelas limitações, impossibilidades e fracassos que fazem parte da vida do sujeito e com os quais precisa lidar ao longo de sua vida. Alguns não conseguem.
[3] O Outro, enquanto um grande outro, não refere um outro sujeito, mas a relação de alteridade que um sujeito tem com os outros.
[4] Gozo é um termo que designa o desejo mais íntimo de todo sujeito: viver sem privações, sem frustrações, sem nenhum tipo de falta, dor ou sofrimento. Viver uma vida de plena e absoluta felicidade. Como isso é impossível para todos, o que resta ao sujeito vivo é tão somente o desejo dessa realização plena. O gozo seria então essa realização plena, o que só pode acontecer no plano da fantasia, dos sonhos.


>> Texto publicado originalmente, na Revista Afinal em janeiro/2013.


domingo, 20 de setembro de 2015

MULHERES: DIREITOS, PARTICIPAÇÃO E PODER

Desconstruir o conceito único de “modelo de mulher”


No momento que se discute com mais intensidade as ações para combater a violência contra a mulher, o editor conversa com a Solange Griza da Coordenadoria de Políticas para a Mulher que discorre sobre o funcionamento do setor e as conferências que serão realizadas.

O município de Santa Rosa mantém uma Rede de Atendimento à Mulher da qual fazem parte da Coordenadoria de Políticas para a Mulher, o Centro de Referência Regional de Atendimento à Mulher Dirce Grösz (CRRM) e a Casa de Abrigo e Passagem 8 de Março, mantidos com recursos municipais.
Solange Griza (foto ao lado) é licenciada em Educação Artística e faz parte do quadro de servidores do município de Santa Rosa. Em 2011 e 2012 atuou junto à equipe da Coordenadoria de Políticas para a Mulher. Desde dezembro de 2014 responde pela coordenação.A Coordenadoria de Políticas para a Mulher da Prefeitura Municipal de Santa Rosa foi criada em 2009, com objetivo de propor e elaborar projetos e programas para o desenvolvimento de políticas públicas para as mulheres, além de coordenar a articulação das ações voltadas para as mulheres, em conjunto com outras secretarias.

E, principalmente, realizar ações de enfrentamento a todas as formas de discriminação e preconceito praticados contra as mulheres, entre outros objetivos.


REVISTA AFINAL: Quais os principais problemas que a Coordenadoria se defronta cotidianamente?

Solange Griza: Os desafios de uma coordenadoria são muitos e diários, os quais são minimizados pelo apoio que a Coordenadoria tem do governo municipal nas ações, capacitações e atividades relacionadas à mulher, com o comprometimento e a vontade de avançar a cada dia. Acredito que as políticas voltadas à mulher avançarão com mais rapidez com a união de forças entre as três esferas, municipal, estadual e federal. O ideal seria que todas as esferas tivessem em suas estruturas institucionais uma Secretaria de Políticas para as Mulheres, estas têm mais autonomia e um orçamento maior, destinado especificamente a políticas públicas voltadas a mulher. Segundo pesquisa de Informações Básicas Municipais do IBGE (MUNIC/IBGE), em 2013 aproximadamente um terço (27,5%) dos municípios brasileiros possuíam estrutura para a formulação, coordenação e implementação de políticas para as mulheres.


TIPOS DE VIOLÊNCIAS

A violência mais frequente atendida é a psicológica, mas, o Centro de Referência atende todos os tipos de violência. Violência física: conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; Violência psicológica: dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões; Violência sexual: relação sexual não desejada; impedimento de utilização de métodos contraceptivos; matrimônio, gravidez ou aborto forçados; indução a prostituição; Violência patrimonial: retenção, subtração, destruição de seus objetos, documentos pessoais; Violência moral: calúnia, difamação ou injúria.

A maioria das mulheres atendidas está na faixa etária de 30 a 45 anos, pertencentes a todas as classes sociais. A violência não faz distinções de classe econômica, etnia ou cultura. Estas mulheres vivenciam diferentes formas de violência, de forma continuada, sendo cometida por homens que são pais de seus filhos, ou parceiros que elas escolheram para compartilhar suas vidas. Enfrentam esta situação, em geral, sem o apoio de seus familiares, e muitas vezes sendo as únicas responsáveis pelo sustento e cuidado da casa e dos filhos.



Até o mês de maio deste ano, 152 mulheres foram atendidas, 

com uma média mensal de 12 casos novos.



ESPAÇOS DE PROTEÇÃO OU PARA ONDE IR?

A Casa de Abrigo e Passagem 8 de Março é um espaço sigiloso que garante a integridade física e psicológica da mulher e seus filhos menores, quando os mesmos estiverem em iminente risco de morte. Todos recebem acolhimento, atendimento e acompanhamento dos profissionais do CRRM, e após a conclusão de todos os trâmites legais, estas voltam para suas casas com as Medidas Protetivas garantidas pela Lei Maria da Penha. Neste ano foram abrigadas 19 mulheres, sendo uma média de 4 abrigamentos/mês.


DELEGACIA ESPECIALIZADA

Também faz parte da rede de atendimento à mulher de Santa Rosa a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher. A DEAM é uma unidade especializada da Polícia Civil, que realiza ações de prevenção, proteção e investigação dos crimes de violência doméstica e violência sexual contra as mulheres, entre outros. Entre as ações, cabe citar: registro de Boletim de Ocorrência, solicitação ao juiz das medidas protetivas de urgência nos casos de violência doméstica e familiar contra as mulheres, realização da investigação dos crimes.


MÚLTIPLAS E DIVERSAS

“MODELO DE MULHER” – um conceito em extinção 


Este ano começam os preparativos para a 4ª Conferência Nacional de Políticas para Mulheres, “Mais direitos, participação e poder para as Mulheres”, a ser realizada em Brasília, no período de 15 a 18 de março de 2016.

Primeiramente são realizadas as Conferências Municipais e/ou Intermunicipais. Santa Rosa participou da 4ª Conferência Intermunicipal de Políticas para as Mulheres que ocorreu dia 21 de agosto de 2015, em Três de Maio;.

As propostas debatidas e aprovadas nesta conferência intermunicipal serão encaminhadas para debate na conferência estadual, que está prevista para os dias 06 e 07 de novembro de 2015, em Porto Alegre, da mesma forma, as propostas aprovadas na Conferência Estadual serão levadas para a Conferência Nacional.

Dentre os objetivos da 4ª Conferência, um dos fundamentais é desconstruir a visão de que há um “modelo de mulher”, as mulheres são múltiplas e diversas e as discriminações são específicas para cada marcador social: classe, raça/cor, etnia, orientação sexual, geração regionalidade, religiosidade, identidade de gênero, entre outras.


CENTRO DE REFERÊNCIA REGIONAL
O Centro de Referência Regional de Atendimento à Mulher Dirce Grösz é coordenado por Marta Elisa Rembold do Nascimento, assistente social do quadro de servidores do município. O Centro é um espaço de acolhimento/atendimento social, psicológico e jurídico à mulher e seus filhos em situação de violência, que proporcione à superação da situação dessa violência, contribuindo para o fortalecimento da mulher e o resgate da sua cidadania.

O objetivo primário da intervenção é cessar a situação de violência vivenciada pela mulher atendida, sem ferir o seu direito à autodeterminação e promovendo meios para que ela fortaleça sua autoestima e tome decisões relativas à situação de violência por ela vivenciada. Ressaltamos que o foco da intervenção do Centro de Referência é o de prevenir futuros atos de agressão e de promover a interrupção do ciclo de violência.


QUEM FOI DIRCE GRÖSZ?

Dirce Margarete Grösz era natural de Boa Vista do Buricá. Filha de pequenos agricultores era descendente de imigrantes alemães, com os quais aprendeu o idioma ancestral e adquiriu fluência. Faleceu vítima de acidente rodoviário em 2008. 

Servidora pública municipal na área de educação em Nova Candelária estava cedida para a Secretaria de Políticas para as Mulheres/Presidência da República desde 2003, onde atuava na gerência de projetos na área de educação e gênero. No início dos anos 1990, iniciou sua carreira como trabalhadora da educação em sala de aula como professora e diretora de ensino fundamental em escolas públicas estaduais da região natal. Entre 1993 a 1996, foi secretária municipal de Educação e Cultura de Boa Vista do Buricá e, no período de 2001 e 2002, secretária adjunta municipal de Educação em Porto Alegre.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa nº 51 da Revista Afinal.


sábado, 19 de setembro de 2015

PINCELADAS CULTURAIS

por Luciane Miranda*


Santa Rosa vive uma cena cultural efervescente, não apenas pela quantidade de eventos, mas também pela maturidade cultural que estamos adquirindo. Ações transversais, diálogo entre setores, pensar e se apropriar da cidade de forma independente têm sido realidade cada vez mais frequente e parece ser este o momento de instrumentalizar políticas culturais que permitam que este engajamento se fortaleça.

Então... Plano de Cultura pra quê?

Tudo fica mais claro quando sabemos onde estamos, para onde vamos e como faremos para chegar lá. Como imaginar a saúde ou a educação sem um plano contínuo? O caso da cultura não é diferente. Planejar a curto, médio e longo prazo, garante que as políticas culturais aplicadas sejam eficientes e correspondam às reais necessidades do setor, tendo como objetivos a garantia dos direitos culturais, o desenvolvimento equilibrado das diversas áreas de produção e o alinhamento às políticas nacionais de cultura.

Imprescindível pensar a cultura e a gestão cultural como parte efetiva da vida e planejamento político, de forma que a cultura encontre apoio não apenas no âmbito de uma secretaria específica, mas em todo o corpo administrativo.

O Conselho Municipal de Políticas Culturais com apoio de entidades culturais e Secretaria de Cultura e Turismo, após três anos de muito estudo, articulação e trabalho coletivo, concluiu no mês de julho, a elaboração do PLANO MUNICIPAL DE CULTURA. Para conclusão do processo falta apenas a aprovação pela Câmara de Vereadores e finalmente teremos um plano contínuo e independente de posições partidárias, ou seja, a concepção de cultura e suas políticas de gestão não mudarão a cada quatro anos com a mudança de governo. Acompanhemos atentos.

Preservar a história também é uma questão de cultura?!

Cada indivíduo é parte de um todo e constrói com os demais a história dessa sociedade, legando às futuras gerações registros capazes de propiciar a compreensão do desenvolvimento e da história humana, o rompimento desta corrente de conhecimento, acarreta uma sociedade que não conhece sua história e que por este motivo não se sente pertencente ao lugar onde vive e ao não se sentir parte, não aprende a reconhecer, amar e cuidar, ou seja, o indivíduo passa a ter dificuldades de integrar-se de forma humanizada ao mundo em que vive.

Antiga sede da Comissão de Terras.

Você conhece a cidade velha? A comissão de Terras? Logo ali na Praça da independência, local onde iniciou a cidade de Santa Rosa, lembra da Casa Zeni? Primeiro bolichão e que já foi ao chão sob os olhos coniventes de muitos. Sabe o Ginásio Moroni? Aquele que também corre risco de desaparecer? Pois o poder público está convencido de que deve demolir e vender o terreno. Parece que algo nos instiga a conhecer, amar e pertencer à nossa cidade, não chegamos até aqui nas asas de uma borboleta, há em nós muito daqueles que já se foram, assim como nós também iremos um dia. Preservar a história construída por nossos antepassados é dar um sentido de continuidade à nossa própria vida. 

Que a Constituição Federal e as demais leis de preservação sejam respeitadas!

Para refletir...

Como o espaço é curto e a pauta longa, vou me deter apenas à pergunta e retomamos sobre economia da cultura na próxima edição: remunerar o artista pra que? Nosso edital do Fundo Municipal de Cultura diz que NÃO, não é possível que o artista receba pela sua arte!

Posição veementemente contestada pela Secretaria de Cultura e Turismo e Conselho Municipal de Políticas Culturais. Que o próximo edital evolua a ponto de tratar a produção de arte como profissão. Sem mais.


*Luciana Miranda é artista plástica. Preside o Conselho Municipal de Políticas Culturais de Santa Rosa.