sábado, 4 de outubro de 2014

Vitória coletiva


Neste texto, Ana Paula avalia os dois anos que está sobre uma cadeira de rodas, consequência de um AVC (acidente vascular cerebral) que a impede de se movimentar e falar. Um relato impressionante, dramático, mas que, ao mesmo tempo, expressa o seu esforço e dedicação ao tratamento médico e fisioterápico e, principalmente, o reconhecimento da onda de solidariedade em torno do seu restabelecimento.
--------------

                                                                                                                   
                                                                                                                         por Ana Paula Almeida

Fez dois anos que tive esse problema que não sei denominar, prefiro chamar de erros médicos, enfim, essa data mexeu comigo, nos dias anteriores tentei escrever e não consegui, escrevi muito e apagava, não gostava de nada, única coisa que eu pensava era na data, não me concentrava, pra piorar esses tempos um homem veio conversar com meu pai, eu virei um assunto, estava deitada escutando, ouvi o homem falar: VOCÊS ACHAM QUE ELA VAI ANDAR? Não prestei atenção em mais nada da conversa, a frase do homem foi carregada de negatividade, ele não acredita na minha cura, meu pai queria trazer aquele homem pra me ver, nunca recusei visita, mas essa sim, fiz sinal de não para o meu pai. 

A data dos dois anos ecoava na minha cabeça junto com as palavras do homem, tudo que vivi nesse tempo foi uma experiência, muito boa, por sinal, tentei mudar meu pensamento, olhar minhas fotos desse tempo, consegui ver o que em muitas fotos a felicidade não cabia ali, tudo que tem por trás da foto, histórias muitas vezes engraçadas, na primeira vez com o computador já escrevi minha senha do facebook, estava apenas conhecendo a tecnologia. 

Conhecer o estádio antigo e novo do Grêmio, eu não segurei as lágrimas, tentei não me emocionar, difícil isso, quando fui à segunda vez choveu muito, a água se acumulava em cima das capas de chuva que eu usava. No dia que recebi a cadeira com o computador, foi lindo, seis de setembro, por pura coincidência os jogadores do Grêmio foram se concentrar no hotel da entrega, eu quase pirei, estava muito feliz, ver o Zé Roberto foi maravilhoso, outro momento legal foi a festa surpresa de aniversário da minha mãe, me orgulho disso, tive a ideia e planejei tudo. Conhecer o Potter, eu mandei uma carta pra ele sem ninguém saber, soube que iria vê-lo e escondi isso por um mês, quando o vi fiquei paralisada, até ele se assustou, queria conhecê-lo desde 2009, todas as visitas maravilhosas que tive.

 Vi minhas evoluções, cada época lembra alguma mudança, lembranças boas e outras nem tanto, dores escondidas, sentimentos reprimidos, tantas recordações, meus aniversários, pessoas especiais que vieram, a tecnologia do computador que uso me aproxima de pessoas que não posso ter perto, me aproxima principalmente das pessoas que estão perto, fiz amigos novo, mais lembranças boas que ruins, se algo não tem um lado bom, invento, a vida fica bem mais leve, tem datas são ruins, mas considero dia 19/10/2012 outro nascimento meu também. 

Eu não sabia que as pessoas eram tão solidárias, tudo que fizeram, não tem como descrever o quanto foi e ainda está sendo importante, como sempre digo, minha cura completa é uma vitória coletiva. Olhei todas as fotos e cada uma tem uma história, olhei também fotos mais antigas, lembranças boas, histórias legais para contar, uma saudade gostosa, quero viver momentos tão bons como aqueles, nada que ouço de negativo fica muito tempo na minha memória, quero evoluir por mim e por tabela vou mostrar para os que não acreditavam na minha evolução.


                                                                                                                                  *Ana Paula Almeida.

 Ana Paula (dir.) com sua fisioterapeuta Betina Rigon Pereira.

Nenhum comentário: