terça-feira, 18 de novembro de 2014

PELADO, PELADO... NU COM A MÃO NO BOLSO

por Ângela Lângaro Becker*

Por baixo da etiqueta
É sempre tudo igual

Pelado todo mundo gosta
Todo mundo quer
Pelado todo mundo fica
Todo mundo é

Indecente
É você ter que ficar
Despido de cultura

Sem roupa, sem saúde
Sem casa, tudo é tão imoral
A barriga pelada
É que é a vergonha nacional

ULTRAJE A RIGOR (final dos anos 80)

Não pude deixar de aproveitar o espaço desta coluna para contribuir com mais uma tentativa de refletir sobre a nudez que insiste em surgir nas ruas da nossa cidade. Ainda neste fim de semana, enquanto debatíamos sobre o tema “Corpo e Discurso” numa Jornada de Psicanálise, mais algumas pessoas surgiram nuas em Porto Alegre e também no interior.

Que nudez é essa que quer ser vista e falada? Certamente a nudez tem a ver com todos nós. É a nossa verdade, escondida atrás das vestes. Ser visto nu não pode passar despercebido, justamente porque atinge aquele que olha nos seus valores éticos, morais. Alguns indignados, interpretam esta atitude como uma violência aos olhos, outros ficam fascinados com a liberdade que isto pode representar. Mas podemos pensar o nu como nossa natureza original. Mostrar-se como carne que veio do pó e lembrar que é para lá que voltaremos. Um corpo nu remete à nossa natureza de seres mortais.

De qualquer maneira, não é possível ignorar quando o nu se apresenta publicamente. Nosatinge naquilo que temos certeza que somos: seres civilizados. Aliás nossa vontade de progredirmos cada vez mais como civilização levou-nos, em muitos aspectos, bastante longe de nossa natureza original. De tal maneira, que não gostamos muito de lembrá-la. É bastante incômodo pensar que as fontes de energia podem se esgotar e que muito do que inventamos para tornar a vida mais confortável pode interferir nas condições de sobrevivência do próprio planeta. Gostamos da ilusão de que quanto mais pudermos inventar através do progresso científico e fizermos tudo isso circular pelas vias do capital, mais perto da realização de nossos sonhos iremos chegar. Quem sabe um dia conseguiremos ser imortais?

Freud já nos alertava em relação a esta ilusão. Enganamos-nos, dizia ele, quando negamos nossa condição de mortais. É da transitoriedade que a vida ganha sentido. É a brevidade que produz a beleza e o encantamento. Se nos lembrar disso estraga nossos sonhos, por outro lado é o que dá valor a eles. É a certeza deste limite que nos faz dar valor à vida.

Quando o progresso não considera nossa natureza original, acabamos esquecendo o que é real em nós e que insiste em surgir sem aviso, sem se submeter aos nossos sonhos. É interessante como um corpo nu diante de nossos olhos vem tirar o tapete de nossas certezas. Como assim? Que mundo é esse? Estamos numa selva? Tá todo mundo louco? Parece coisa de criança…

Talvez seja com olhos de brincadeira que possamos encarar esta manifestação. Mas estão protestando do que? Reivindincando o que? Talvez cada um dos manifestantes tenha suas razões particulares para estar participando disto. Assim como foram as manifestações de junho do ano passado, é possível que não haja uma única ideia a ser comunicada. Talvez nem se saiba bem o que se reivindica.

Se pensarmos na loucura, sempre há uma verdade nela que fica entre ser dita ou ser silenciada. O sintoma vem como essa zona de fronteira que testa nosso poder de resistência. Ele denuncia um sujeito submetido a pressões que o fazem transbordar. Mas talvez caiba a alguns, mais sensíveis e mais frágeis que outros, mostrar esse transbordamento. Por isso mesmo ganham adeptos. Algo faz sentido coletivamente nesta verdade exposta tão fora de lugar. Importante é que a forma de manifestação não visa agregar e sim propõe despir-se. Parece que nos é dada a chance de pensarmos nos excessos de nossa cultura civilizada para entendermos que vestes são estas que estão sendo deixadas pelo caminho.



Ângela Lângaro Becker é psicanalista; membro da APPOA; mestre em Psicologia Social e Institucional e doutora em Psicanálise e Dança pela Université Paris XIII. 

A NOVA CARA DO MUSICANTO

por Hélio Barcelos*


Em suas andanças pelos Estados Unidos onde morou por alguns anos, Érico Veríssimo dizia morar numa cidade que tinha uma orquestra sinfônica. Pouco adiantaria dizer que o nome era Porto Alegre, na época, uma região pouco conhecida. Mas uma Orquestra Sinfônica, esta sim, tinha – e ainda tem - status e referências culturais importantes. Afinal, quantas cidades do Brasil têm uma? Parece razoável afirmar que, as que possuem uma orquestra tem, também, uma visão diferenciada de cultura, além de um perfil empreendedor, uma vez que os instrumentos não são gratuitos. Mas, sabe-se, por exemplo, que uma vez formada, o grupo continua precisando de afagos e cuidados. Um público fiel para assistir aos seus concertos e zelar para que ela tenha vida longa já é alguma coisa.


Não temos aqui uma OSPA, mas quem sair de Santa Rosa pode dizer que mora numa cidade que, além de berço de Xuxa e Tafarel, é, com muito mais propriedade, a cidade com um grande festival de música com alcance nacional. Mais: que tem revelado talentos e criado uma comunidade apaixonada em sua volta. Sim, ele extrapolou como evento cultural para ser também um elemento agregador. Tem o poder de reunir numa grande festa os que aqui moram e os que já se bandearam para outras cidades e que neste dia retornam para confraternizarem. Tem disso. Ele parece ter adquirido vida própria. Mas, não esqueçamos que, mesmo com todos os cuidados, ele quase desapareceu. Não tinha afinal, sete vidas como se imaginava. As crises pelas quais passou, como falta de patrocínios, esgotamento a nível de propostas, cancelamento de edições, porém, não o enfraquecerem. Ao contrário, pareceram revitalizá-lo. “Um patrimônio dessa envergadura não podia morrer na praia”, se dizia. E eis que neste ano, tal Fênix teimosa, ele renasce em novo formato e mais dinâmico que nunca. Mudar para não perecer, talvez seja o mote mais apropriado. Ampliaram-se as propostas mantendo-se a música e os shows, acrescentou-se a dança, exposições artísticas, oficinas e tudo o que se relaciona à arte - ainda a melhor resposta para muitos de nossos traumas e manias. A arte humaniza. Faz-nos ver a realidade com outros olhos, linguagem e perspectivas. Melhor assim.


A variedade de atrações no novo Musicanto, é que me pareceu decisiva. Tal restaurante famoso, interessado em mostrar a tantos quanto possível os seus melhores pratos, receitas e forma diferente no atendimento, elaborou-se um cardápio para ninguém botar defeito. Essa aconteceu no sábado. Eis que os intervalos dos shows - feitos de pura muvuca - no saguão e asfalto, são interrompidos. A atração seguinte estava prestes a começar. Local: palco interno. Obediente, o público ruma para onde o prato mais suculento da noite seria servido. A orquestra, já a postos, aguardava os “degustadores”. Dessa vez, com um menu mais sofisticado. Casa lotada, só havia lugar na parte superior do teatro. O ponto alto de tudo o que se vira nos dias anteriores iniciaria em minutos. Prato principal: músicas premiadas do festival em outros anos, com arranjos de orquestra. Se o programa terminasse naquele instante, ninguém reclamaria de nada. Nota dez para o SESI. O nosso autor de O Tempo e o Vento tinha, enfim, boas razões para dizer que sua cidade tinha algo mais para oferecer.


No fim de tudo e inebriados por uma programação cultural variada e intensa, ficamos com a impressão de que nada faltara naquela maratona de eventos. Na verdade, um banquete de encher os olhos e ouvidos, com a impressão de que algo mudara na cidade após ele... E para melhor. O Musicanto – e agora é pra valer - continua vivo. E infinitamente melhor. Não podia ser de outra forma. Descobriu-se a fórmula do sucesso. Agora...Bem, agora será cada vez melhor.


*professor.

sábado, 8 de novembro de 2014

Procuram-se cidadãos



Thomaz Hood Jr. na Carta Capital

Um grande país sul-americano, formidável em recursos explorados e potenciais irrealizados, é lar de mais de 200 milhões de habitantes. Habitante, como se sabe, é quem reside ou vive em determinado lugar. Entretanto, para as sociedades modernas, o que mais interessa são os cidadãos. Cidadão é outra coisa. O cidadão também habita, é certo, mas o cidadão vai além: ele tem direitos, civis e políticos, e tem deveres, para com a comunidade e o Estado.

Consta que o conceito de cidadão surgiu nas Cidades-Estado da Grécia Antiga. Naquele tempo, ser cidadão não era para qualquer um. Estrangeiros, escravos e mulheres não podiam fazer parte da seleta casta. E um homem livre podia perder o privilégio e se tornar escravo, bastava contrair dívidas ou ser derrotado na guerra. A liberdade era, por isso, muito valorizada e possibilitava a participação na vida pública. Envolver-se nos negócios da comunidade era mandatório e implicava deveres. Cumprir tais obrigações fomentava a virtude, gerava respeito e conferia honra aos cidadãos.

Séculos e séculos transformaram a ideia de cidadania. Nas sociedades contemporâneas, o conceito varia de país a país, de cultura para cultura. Em alguns recantos, espera-se que os cidadãos paguem impostos, respeitem as leis, conduzam corretamente seus negócios e defendam a nação. Deles não se espera, porém, ação política. Noutras plagas, espera-se que os cidadãos sejam atores políticos, atuando em uma das múltiplas esferas públicas. Apesar da diversidade, a essência do conceito foi mantida, espera-se que os cidadãos se comprometam com deveres para fazer jus aos seus direitos. Em nações multifacetadas em termos de religiões, etnias e culturas, a cidadania pode ser o elo a sustentar a sociedade.

Enquanto isso, na citada nação sul-americana, o cidadão, como a ararajuba e o tamanduá-bandeira, animais pátrios, parece seguir uma trilha de extinção. Abundam os habitantes, desaparecem os cidadãos. Pois por lá o habitante tornou-se um ser de direitos, muitos direitos. Seu principal direito é tirar da sociedade tudo o que pode. É um extrativista compulsivo, pouco afeito a preocupações com os outros e com o meio.

O habitante da referida nação é essencialmente um reclamante. Ele reclama da corrupção, mas não perde chance de desembolsar vinténs para facilitar sua vida. Ele reclama do trânsito, mas não estaciona o carro. O carro, aliás, é uma extensão natural do corpo do residente. Ele, o carro, define sua personalidade. O habitante lava o carro quando falta água e transita pelo acostamento quando enfrenta congestionamento. Informatizado, o habitante adora o Waze, aplicativo que troca minutos de espera por atalhos sinuosos e momentos de velocidade e fúria no trânsito, corta coletivos, avança em ruas residenciais e ameaça ciclistas. O habitante é, em suma, um ser assimétrico, sempre acima de seus pares.

O habitante do tal país é fruto e coprodutor de um sistema que ampliou a participação formal (o voto) e comercializou e emburreceu o espaço público. Conformou-se a uma mídia que cobre a política como um show de frivolidades, privilegiando celebridades em detrimento de ideias, e escândalos em lugar de realizações. No caminho, a cidadania se esvaziou e cedeu lugar à simples habitação, e a virtude do dever deu espaço à cobiça do direito. O habitante reclamante ocupou a ribalta. O cidadão constrangido saiu de cena. E os tristes trópicos penhoraram seu futuro.

O pequeno cidadão é uma simpática composição de dois sensíveis artistas do desnorteado país. A dupla busca ouvintes de tenra idade e valores em gestação. A letra é simples e cativante: Agora pode tomar banho, Agora pode sentar para comer, Agora pode escovar os dentes, Agora pega o livro, pode ler... e assim segue, com pequenos prazeres e deveres: comer chocolate e fazer a lição, pular no sofá e arrumar o quarto, sujar-se de lama e amarrar o sapato. O refrão segue a receita, simples e direto: É sinal de educação, fazer sua obrigação, para ter o seu direito de pequeno cidadão. A singela canção representa a tênue esperança de que a nova geração do citado país sul-americano reverta o desalentador quadro criado pelas hordas que a antecederam.


sábado, 25 de outubro de 2014

MUSICANTO 2014


Palco de grandes expressões da Música brasileira, caracterizado como um festival de raiz, o Musicanto é um dos mais tradicionais e destacados festivais de música do Rio Grande do Sul, diferenciado pela multiplicidade de expressões, não só da música nativista, mas regional, Brasileira e internacional.

Volta, neste ano de 2014, com uma nova proposta, mais ampla e acessível aos artistas e à população. Inova-se, quebrando com o formato hegemônico dos festivais, o de competição, partindo para uma mostra artística, e traz um importante seminário para debater uma nova forma e dinâmica para os festivais no estado, debatendo e construindo com extremo louvor os caminhos trilhados pelos participantes no evento, do passado ao presente, buscando o seu resgate e para que o Rio Grande do Sul possa desfrutar de tamanho prestígio que este evento alcançou nestas quase três décadas de sua existência. Durante sua história houve o desgaste de edições canceladas, assim como os altos investimentos para um público reduzido. O evento deste ano busca a reaproximação da sociedade com o Musicanto, oportunizando um maior diálogo e participação do público, através das mostras, oficinas, seminário e o Musicanto vai à escola.

Quanto a sua importância não podemos deixar de destacar que este palco foi responsável por revelar nomes como o de Lenine, vencedor de uma das etapas do festival, além de oportunizar a presença de grandes artistas e grupos como: Raulito Barboza, Mercedes Sosa, Egberto Gismonti, Alceu Valença, João Bosco, João de Almeida Neto, Artur Moreira Lima, Argentino Luna, Ivan Lins, Nana Caymmi, Demônios da Garoa, Cordel do Fogo Encantado, Borghetinho, Yamandú Costa, Dominguinhos, Ballet Brandsen, Oswaldo Montenegro, Tambo do Bando, Olodum, Jean e Paulo Garfunkel, Teresa Parodi, Boca Livre, 14 Bis, Soledad Pastoruzzi, Telmo de Lima Freitas, Nelson Coelho de Castro, Antonio Tarragó Ros, entre outros.

O projeto MUSICANTO VAI A ESCOLA promove a integração comunitária, com apresentação de shows envolvendo pais, alunos e professores da rede pública de ensino.

O projeto atual tem o financiamento do Ministério da Cultura (Lei Rouanet) e do Pró-Cultura/RS, Governo do Estado do Rio Grande do Sul. É uma realização da Gaia Cultura e Arte, com patrocínio máster da GVT – Instituto Cultural GVT, patrocínio da Corsan e apoio da Prefeitura Municipal de Santa Rosa.

O novo modelo do Musicanto, em formato de Festival Multicultural com entrada gratuita em todas as suas atividades atendem ao princípio de democratização do acesso e tem o objetivo de aproximar a população local de um evento que estava sendo considerado elitista. O diferencial desta edição é o seminário acerca dos rumos do Musicanto, e, por conseguinte, fomentar o debate sobre os demais festivais congêneres que ocorrem no estado do Rio Grande do Sul, os quais têm passado por dificuldades financeiras, de atração de público cativo e crise de identidade.

Com esta ideia inovadora e um formato de multifeira cultural, a proposta do atual é valorizar e estimular a produção musical, criando espaço também para outras manifestações culturais dentro da "Cidade Musicanto”, que é o espaço externo no entorno do Centro Cultural Antônio Carlos Borges no qual, além de um espaço gastronômico e dos shows e tertúlia livre, o público poderá apreciar exposições de artes plásticas (AAPLAS, Faculdade de Artes de Oberá e Santa Arte), espaço literário com a participação dos escritores locais, Feira de Artesanato Local com o Brique da Praça de Santo Ângelo e o Brique de Santa Rosa, Arte Missioneira, espaço para mostra de trabalhos de entidades assistenciais, intervenções urbanas, presença do Coletivo Contorno de Porto Alegre, espetáculos de dança, oficinas e muito mais.

Saiba  mais, acesse: www.musicanto.com.br 

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Aberto prazo de inscrições para curso Técnico em Publicidade

Até o próximo dia 31/10, os interessados em estudar no único curso técnico em Publicidade público do Noroeste gaúcho, podem inscrever-se pelo site da Secretaria Estadual de Educação. Para ingressar no primeiro semestre de 2015, é necessário que o estudante tenha completado o Ensino Médio, uma vez que o curso é ofertado na modalidade subsequente, e preencha o Formulário de Inscrição disponível no site com uma única indicação de escola.

O curso técnico em Publicidade é oferecido pelo Instituto Estadual de Educação Visconde de Cairu, de Santa Rosa, e é reconhecido pelo significativo número de premiações no desenvolvimento de projetos de pesquisa. Ao longo de dois anos, os estudantes podem construir conhecimento em áreas como Publicidade e Marketing, Teoria e Técnica de Comunicação, Veículos de Comunicação, Introdução às Relações Públicas, Jornalismo, Informática, Edição, Artes, Filosofia, Psicologia, Português Instrumental, entre outros.

Outras informações e inscrições podem ser efetuadas no link ‘Matrícula na Escola Pública’ do site www.educacao.rs.gov.br ou pelo fone (55) 3512-1323. A matrícula dos candidatos designados ocorrerá entre os dias 5 e 13 de janeiro de 2015. O candidato deverá verificar no site da Seduc a escola para a qual foi designado, efetuar a pré-matrícula no site, imprimir o documento e leva-lo na escola para efetuar a matrícula presencial. Os documentos necessários para a matrícula estão no edital de abertura de vagas.


sábado, 11 de outubro de 2014

Ruínas de passagem (texto de Mariana Corteze)


                               PEQUENO EXPERIMENTO DE MUNDO

                                      Ruínas de passagem

por Mariana Corteze*


 A civilização ocidental tem como berço a Grécia, pois é visto que suas raízes mais profundas estão imersas na transformação cultural e civilizacional da antiguidade clássica, que acabou por afetar as extensões do conhecimento e pensamento humano e assim, transformando em definitivo o percurso evolutivo da sociedade atual. De tal modo, passados cerca de 2500 anos, ainda podemos perceber que a Grécia Antiga continua presente dentro da nossa realidade por meio da filosofia e da reflexão racional do homem sobre si próprio, procurando entendimentos que esclareçam a existência do ser, valores, virtudes individuais e coletivas. 

Atenas, capital da Grécia, é feita de ruínas da poderosa capital-estado da Antiguidade, sendo reconhecida como uma das mais antigas cidades do mundo pela sua fundação há mais de seis mil anos, que ainda é habitada em grande corpulência. Possui algumas das mais famosas edificações do mundo antigo, como o Partenon, o Erecteion e a Acrópole de Atenas que é sustentada por uma colina rochosa de topo plano com cerca de 150 metros acima do nível do mar, sendo construída por volta de 450 a.C. sob a administração do estadista Péricles e foi dedicada a Atena, a deusa padroeira da cidade. Sua função era originalmente entendida como proteção das cidades inimigas, porém com o tempo, passou a servir de sede administrativa civil e religiosa.

 

Percorrer tal espaço responsável por abrigar uma densa bagagem que ascendeu o trajeto humano, acabou por questionar a sociedade que experienciamos (será que apenas digerimos e evacuamos?). A condição líquida moderna contemporânea se desenvolve em grande escala através da blasfema da realidade terrena a favor de uma verdade transcendental, onde o mundo torna-se uma compensação aos fracos. Em grande maioria, os critérios existenciais acabam não sendo definidos através de estimas individuais e sim pela confortável base sólida de fórmulas idealizadoras. Em atmosfera transitória o que é solúvel rapidamente deixa de ser, é como se o mundo buscasse eternidade em um espaço de fugacidade, é uma busca de solidez em um ambiente escapadiço. Quiçá esteja aí as indagações deste planeta cheio de sufocamentos: o conflito entre o desejo de verdade e a fluidez do mundo.

Junto ao raciocínio transeunte, é simpático citar o clássico romance A insustentável leveza do ser (1984) do tcheco Milan Kundera que aborda questões análogas ao mundo feito de passagem. A problemática da leveza e do peso possui amparo na filosofia de Parmênides (530 a.C. – 460 a.C.) que discutiu as dualidades ontológicas do ser, nascidas a partir da presença e ausência de alguma entidade. Para Kundera, a leveza é uma vida levada sob uma liberdade descompromissada, porém a mesma despe a vida de seu sentido, pois é o peso quem finca a vida a uma razão de ser qualquer que se constrói. Uma noção nietzscheana de amor fati é personificada em um dos personagens principais (Tomas) e o argumento de Eterno Retorno assume um convite a vida crua, sem condicionantes muletas metafísicas. 

“O drama da sua vida pode ser sempre explicado na metáfora do peso. Seu drama não era o peso, mas a leveza (...) O que se absterá sobre ela não era o fardo, mas a insustentável leveza do ser." Milan Kundera

 
O valor da transitoriedade é o valor da escassez do tempo nos nossos dias. Portanto, como seria nossa vivência se o mundo fosse amputado daquilo que lhe dá permanência? Talvez, seja audaz que esqueçamos as pedras e as areias que percorrem os mares embutidas nas garrafas de socorro.





*Mariana Corteze

Licencianda em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pelotas, Brasil

Licencianda em Estudos Artísticos pela Universidade de Coimbra, Portugal

Bolsista do Programa de Licenciaturas Internacionais | CAPES

http://www.flickr.com/photos/maricorteze/

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

QUEM NÃO DANÇA, DANÇA!

10º Festival Santa Rosa em Dança dobrando a esquina










 Serão três noites de muito movimento, onde bailarinos de diversas procedências mostrarão sua arte para nosso fiel e sedento público. Eles competirão nos mais variados estilos e concorrerão a uma premiação total de R$ 8.200,00.

O 10º Festival Santa Rosa em Dança acontecerá nos dias 16, 17 e 18 de outubro (quinta, sexta e sábado), sempre a partir das 19h30min, no Centro Cívico Cultural Antônio Carlos Borges. Na tarde de sábado, a partir das 14h, mais uma atração: batalhas de freestyle e breaking (com premiação paralela de R$ 1.000,00 por estilo).

O júri do festival será formado pelos bailarinos e coreógrafos Carlla Bublitz, Carmen Hoffmann, Deny Ronaldo e Gabriel Woelke Santinho. As inscrições seguem abertas até o dia 10 (sexta-feira) e podem ser efetivadas pelo e-mail danca@santarosa.rs.gov.br


O regulamento e a ficha de inscrição podem ser encontrados no site do Festival: danca.santarosa.rs.gov.br.

O Santa Rosa em Dança é uma realização da Prefeitura de Santa Rosa, através da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.


sábado, 4 de outubro de 2014

Vitória coletiva


Neste texto, Ana Paula avalia os dois anos que está sobre uma cadeira de rodas, consequência de um AVC (acidente vascular cerebral) que a impede de se movimentar e falar. Um relato impressionante, dramático, mas que, ao mesmo tempo, expressa o seu esforço e dedicação ao tratamento médico e fisioterápico e, principalmente, o reconhecimento da onda de solidariedade em torno do seu restabelecimento.
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                                                                                                                         por Ana Paula Almeida

Fez dois anos que tive esse problema que não sei denominar, prefiro chamar de erros médicos, enfim, essa data mexeu comigo, nos dias anteriores tentei escrever e não consegui, escrevi muito e apagava, não gostava de nada, única coisa que eu pensava era na data, não me concentrava, pra piorar esses tempos um homem veio conversar com meu pai, eu virei um assunto, estava deitada escutando, ouvi o homem falar: VOCÊS ACHAM QUE ELA VAI ANDAR? Não prestei atenção em mais nada da conversa, a frase do homem foi carregada de negatividade, ele não acredita na minha cura, meu pai queria trazer aquele homem pra me ver, nunca recusei visita, mas essa sim, fiz sinal de não para o meu pai. 

A data dos dois anos ecoava na minha cabeça junto com as palavras do homem, tudo que vivi nesse tempo foi uma experiência, muito boa, por sinal, tentei mudar meu pensamento, olhar minhas fotos desse tempo, consegui ver o que em muitas fotos a felicidade não cabia ali, tudo que tem por trás da foto, histórias muitas vezes engraçadas, na primeira vez com o computador já escrevi minha senha do facebook, estava apenas conhecendo a tecnologia. 

Conhecer o estádio antigo e novo do Grêmio, eu não segurei as lágrimas, tentei não me emocionar, difícil isso, quando fui à segunda vez choveu muito, a água se acumulava em cima das capas de chuva que eu usava. No dia que recebi a cadeira com o computador, foi lindo, seis de setembro, por pura coincidência os jogadores do Grêmio foram se concentrar no hotel da entrega, eu quase pirei, estava muito feliz, ver o Zé Roberto foi maravilhoso, outro momento legal foi a festa surpresa de aniversário da minha mãe, me orgulho disso, tive a ideia e planejei tudo. Conhecer o Potter, eu mandei uma carta pra ele sem ninguém saber, soube que iria vê-lo e escondi isso por um mês, quando o vi fiquei paralisada, até ele se assustou, queria conhecê-lo desde 2009, todas as visitas maravilhosas que tive.

 Vi minhas evoluções, cada época lembra alguma mudança, lembranças boas e outras nem tanto, dores escondidas, sentimentos reprimidos, tantas recordações, meus aniversários, pessoas especiais que vieram, a tecnologia do computador que uso me aproxima de pessoas que não posso ter perto, me aproxima principalmente das pessoas que estão perto, fiz amigos novo, mais lembranças boas que ruins, se algo não tem um lado bom, invento, a vida fica bem mais leve, tem datas são ruins, mas considero dia 19/10/2012 outro nascimento meu também. 

Eu não sabia que as pessoas eram tão solidárias, tudo que fizeram, não tem como descrever o quanto foi e ainda está sendo importante, como sempre digo, minha cura completa é uma vitória coletiva. Olhei todas as fotos e cada uma tem uma história, olhei também fotos mais antigas, lembranças boas, histórias legais para contar, uma saudade gostosa, quero viver momentos tão bons como aqueles, nada que ouço de negativo fica muito tempo na minha memória, quero evoluir por mim e por tabela vou mostrar para os que não acreditavam na minha evolução.


                                                                                                                                  *Ana Paula Almeida.

 Ana Paula (dir.) com sua fisioterapeuta Betina Rigon Pereira.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

PRIMAVERA DOS MUSEUS


                                                        


Museu Municipal de Santa Rosa
apresenta
8ª Primavera dos Museus
de 02 a 09 de outubro de 2014






 Exibição do filme "Os Desbravadores", de Anderson Farias
Sessões às 8h, 10h, 14h e 16h
Após as sessões, visitas guiadas ao Museu
* Agendamento para turmas escolares pelo telefone 3511-7660






Roda de Memória: "O Caminho do Moinho"
Participação da ONG Defender - Defesa Civil do Patrimônio Histórico
Terça-feira, 30 de setembro, às 18h30min
Programação destinada aos integrantes do Conselho Municipal de Turismo de Santa Rosa



Roda de Memória: "O Caminho do Moinho"
Participação da ONG Defender - Defesa Civil do Patrimônio Histórico
Quarta-feira, 1º de outubro, às 18h30min
Programação aberta ao público em geral