sábado, 25 de agosto de 2012

Ato em Tres Passos denunciara prisoes e tortura durante a ditadura

por Vânia Barbosa, no RS Urgente



Na próxima terça-feira (28), lideranças do Comitê Popular Memória, Verdade e Justiça – CPMVJ e do Levante Popular da Juventude estarão em Três Passos, no Noroeste do Estado, para participar dos atos de denúncia sobre as prisões e torturas ocorridas na Região durante no período da ditadura no Brasil.

Participam da organização ex-presos políticos e familiares e militantes partidários e de movimentos sociais. As 17h está previsto um esculacho do Levante, em frente ao Hospital de Caridade, que na década de 70 abrigava um quartel que foi utilizado como centro de prisões e torturas de membros da Vanguarda Popular Revolucionária – VPR e moradores da Região. As 18h ocorre novo ato público na Concha Acústica, da Praça Reneu Geraldino Mertz, vereador da oposição e preso político na ditadura, e posteriormente prefeito da Cidade.

Os atos estão sendo organizados com base nos relatos de ex – presos de que agentes do DOPS se deslocaram para Três Passos, em 1970, sob a coordenação do atual Coronel Paulo Malhães, do DOI –CODI, o mesmo torturador que organizou a “Casa da Morte”, no RJ. Segundo eles, tanto os presos como os moradores da região ainda hoje recordam da noite em que todos foram coletivamente torturados, e que ficou conhecida como “A noite de São Bartolomeu”, em alusão ao massacre de protestantes ocorrido na França, em 1572.

Além de Reneu Geraldino Mertz, estavam, entre dezenas de presos, José Bueno Trindade, na época também vereador em Três Passos, o líder do grupo, o italiano Roberto de Fortini e sua companheira Nádia, além do estudante Antonio Alberti Maffi, eleito prefeito de Braga, em dois mandatos.

Na época a VPR, sob a liderança de Fortini – que atualmente reside na Argentina e deverá participar do ato – organizou em Três Passos uma empresa de pescas e uma loja de pescados, que serviam de fachada para suas atividades clandestinas. Posteriormente seriam deslocados para o município outros membros da organização, além do Capitão Carlos Lamarca que comandaria as operações para organizar o que para eles seria o principal centro irradiador da resistência contra a Ditadura. Para o grupo, o Rio Uruguai era o caminho que ligava três países e três estados, se configurando, portanto, como área estratégica para formar a guerrilha.

Com base em algumas pistas, o torturador Malhães passou a aterrorizar toda a região em busca de maiores informações. Com a descoberta do plano, Fortini foi preso e torturado. Nadia, sua companheira, também foi confinada no quartel e ainda recorda o inferno dos gritos, urros e terror absoluto, no qual submergiu na noite que foi presa.

A região também é conhecida pelo famoso “Levante dos Quartéis de Três Passos”, ação em que muitos militares se rebelaram contra a Ditadura, sendo, perseguidos, presos e torturados pelo regime. O Comitê considera que a rebelião foi mais uma comprovação de que a ditadura e suas torturas não eram consenso nem mesmo dentro das Forças Armadas, mas a ascensão de um grupo que se sustentou pelo arbítrio, no controle das armas e das instituições, bem como no suporte garantido pela burguesia brasileira e o apoio internacional.

Considerando que uma grande parte da história repressiva encontra-se no interior do Estado, onde muitas vítimas da ditadura estão vivas e dispostas a falar, os membros do Comitê pretendem incentivar a criação de novos órgãos locais de apoio às Comissões. Após os atos, o Comitê Popular Memória, Verdade e Justiça vai repassar os contatos e maiores informações às Comissões Nacional e Estadual da Verdade, para melhor apuração e registro dos fatos.

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