quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Unidos fomos combatidos

por Sávio Hermes*

O cronista Xico Sá mencionou em recente publicação que o Brasil deixou de ser a pátria das chuteiras, para ser o país do vale tudo, em função da popularização de determinadas lutas, em ringues e arenas e todo o circo que é montado para esta atração.

Neste espetáculo, ou mesmo no antigo esporte bretão, há uma clara e nítida divisão, qual seja: de um lado os defensores do Esporte Clube Aliança, do outro os ferrenhos defensores do Paladino. Existe a figura do adversário, do inimigo, do “algo” a ser combatido, para se atingir o objetivo (garantir os três pontos fora de casa, conforme orientação do professor) e dar por encerrada a peleia, a pelada, o combate.

Notoriamente, nos dias corridos acabou-se por suprimir a figura do inimigo. Somos todos “amigos” ou ainda todos “simpatizantes”. Eventuais baixas são decorrentes do chamado fogo amigo. Todos são a favor da preservação do patrimônio histórico e cultural. Ora, se todos são a favor da preservação, quem é contra?

Santa Rosa quer salvar o Clube Concórdia. No entanto, fica a dúvida – salvar de quem? Das mãos da diretoria do clube que pretende vender o mesmo para saldar dívidas? Do atual Presidente da Câmara que em seu discurso de posse nada mencionou sobre o caso? Do Alcaide Municipal, que viu a antiga casa Zeni ir ao chão para erigir a Caixa Federal? Do Valdir, do Anderson, com sua sede por empreendimentos? Da OAB local, que ao invés de questionar o fato, requer uma concessão de área no Parque de Exposições? Da comunidade que clama por um “shopping”?

O detalhe. Existe uma campanha na rede social da internet sobre o assunto. Nos jornais, rádios e tais são eventualmente pincelados, alguns pontos sobre a preservação do patrimônio. Outro detalhe, jamais, repita-se, jamais, houve qualquer texto escrito ou comentário favorável a destruição do patrimônio histórico, a não ser nos bons tempos do mandato Vicini.

Voltando para as quatro linhas, entende-se que, se o Paladino ataca, o Aliança defende e vice-versa. Agora, imagina um jogo onde, somente o Paladino atacasse e o Aliança ficasse de braços cruzados, ou ainda, mandando beijos para a torcida acalorada nas arquibancadas. O placar final é lógico, não é mesmo. Aliança 5X0.

Lutamos unidos contra um inimigo inexistente e na grande maioria dos casos apanhamos. Não somos replicados, não somos contestados, nada é dito de forma pública e clara. O mal é o bem e o bem é o mal e os dois tomam uísque na sacada todos os dias, mas para todos os efeitos a Constituição garante, a história é linda e os cães pararam de ladrar e subiram na carroça.

A subjetivação do inimigo ou a sua coletivização, onde a culpa é de todos e a responsabilidade também, gera isso. Os amigos são os inimigos. Querer a preservação do patrimônio hoje vai implicar numa condição para o futuro. Se esta for favorável, preservam-se os amigos, se não, serão inimigos.

Por isso, o futebol se demonstra insuficiente nos tempos que se arrastam. Uma cotovelada sem o juiz ver não basta para lavar a alma nacional. É preciso uma joelhada no queixo, com um jato de sangue na câmera e uma gostosa atravessando o ringue anunciado o próximo “assauto”. Talvez a grande metáfora do momento. Queremos gladiadores na arena, por que na vida real, não sabemos contra quem lutar.

É possível preservar o patrimônio sem destruir a consciência que temos dele? Por fim, a grande utilidade pública destas linhas - está aberta a temporada de demolição de casas e pontos históricos. Comece a contagem.


(*) Sávio Hermes é advogado.

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