Observe sua cidade.
Sua sociedade.
por Mariana Corteze*
Com a agitada rotina diária e excesso de
afazeres em pouquíssimo tempo, é possível compreender que as pessoas deixam de
lado a capacidade de observar. Em um mundo que se modifica a cada instante
ainda existem resquícios que possibilitam a recordação de algo que já se
passou, mas para percebermos essas lembranças é preciso analisar o meio onde se
vive, sendo dos pequeninos detalhes até as atitudes individuais e coletivas que
nos rodeiam.
A imagem do ambiente em que vivemos
segundo Lynch (1997) é uma arte temporal que acontece em ocasiões diferentes
para pessoas diferentes, tendo as sequências invertidas, interrompidas,
abandonadas e atravessas, gerando assim a oportunidade constante da transformação
do mundo urbano numa paisagem passível da imaginibilidade. A cidade é um lugar
espacialmente organizado e nitidamente identificado, impregnado pelos
significados e relações atribuídos por cada cidadão (LYNCH, 1997), pois cada um
estabelece a sua própria rede de associações com o espaço vivencial.
Nas cidades proliferam marcas e sinais
que contam uma história visual das relações do homem com o meio, resultantes do
conjunto de valores, usos, hábitos, desejos e crenças de cada comunidade. Nesse
sentido, é possível refletir sobre experiências de olhares sobre o espaço
urbano.
A imagem da cidade é constituída pelo
espaço e decorrente da necessidade de criá-lo, tanto nas transformações
horizontais, como verticais. Essas transformações são representadas por textos
não-verbais (FERRARA, 1997) que acompanham as nossas andanças pela cidade,
produzem-se, completam-se, alteram-se ao ritmo dos nossos passos e, sobretudo,
da nossa capacidade de perceber e registrar as informações.
Sendo assim, a cidade pode deixar de ser
vista como espaço abstrato das especulações projetivas, sociológicas ou
econômicas, para ser apreendida como espetáculo, como imagem e compreender a
importância da observação da paisagem e detalhes que nela se encontram. No
entanto, cada indivíduo percebe o entorno espacial através de um olhar
particular, subjetivo, decodificando as mensagens impregnadas de filosofias,
ideologias e emoções,
mescladas
às memórias subjetivas.
Cada memória é única e constitui nossa
identidade, ou seja, “nada somos além daquilo que recordamos” (I. Izquierdo).
De acordo com Tadesco, memória é a matriz da história e os lugares necessitam
de pessoas que garantam reprodução e temporalidade da capacidade de observar.
A recordação de ambientes, objetos,
situações colaboram para (re)enquadrar os fatos temporais e evitar os seus
desvios. As narrações expressam experiências de vida; são mediações simbólicas
na interpretação do mundo e dos significados que indivíduos e grupos sociais
carregam.
Assim, é evidente a importância de parar
por um instante e observar o ambiente onde se vive. Pois é por meio da
linguagem visual que podemos estabelecer relações com o mundo, comunicar
experiências, fundar tradições comuns, subjetivar experiências, intercambiar e
se apropriar de símbolos e de memórias coletivas (Bosi, 1994).
(*) Mariana Corteze é Técnica em Design Gráfico.
<> Fale c/ a colunista: maricorteze@hotmail.com
Portifólio:
www.flickr.com/photos/maricorteze
REFERÊNCIAS
BOSI, E.
Memória e sociedade: lembrança de velhos. São Paulo, SP: Companhia das Letras,
1994.
BRANDÃO,
Vera Maria Antonieta Tordino. Labirintos da memória: quem sou? São Paulo, SP:
Editora Paulus, 2008.
FERRARA,
Lucrécia D’Aléssio. Leitura sem palavras. 4ª edição, São Paulo, SP: Editora
Ática, 1997.
LYNCH,
Kevin. A imagem da cidade. São Paulo, SP: Martins Fontes, 1997.
TADESCO,
João Carlos. Passado e presente em interfaces. Passo Fundo ,
RS: UPF
Editora, 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário