quarta-feira, 2 de março de 2011

Entrevista exclusiva com Vera Spolidoro, secretária de Comunicação do governo Tarso Genro

Vera  Spolidoro, Secretária de Comunicação
do Governo Tarso Genro

A secretária de Comunicação do governo Tarso Genro, recém empossado no Rio Grande do Sul, tem uma história profissional diversificada. Vera Spolidoro já trabalhou em assessoria de comunicação de entidades privadas (Fiergs) e públicas (Prefeitura de Porto Alegre, Governo Federal e Governo Estadual), em veículos impressos (Diário do Sul; grupo Gazeta Mercantil; O Sul) em veículos eletrônicos (Sul 21) e em campanhas eleitorais (a mais recente, ano passado, na coordenação da área de internet e mídias sociais da Unidade Popular pelo Rio Grande). Foi ainda dirigente do Sindicato dos Jornalistas (tesoureira e depois presidente por dois mandatos) e integro o Núcleo de Jornalistas do PT.

Na entrevista a seguir, concedida com exclusividade para o Jornalismo B, Vera fala das perspectivas de atuação da Secretaria de Comunicação do governo Tarso, da concentração da mídia no Rio Grande do Sul e das tarefas a nível estadual e nacional para a democratização da comunicação.

Jornalismo B – Qual a prioridade número um da política de comunicação do governo Tarso?
Vera Spolidoro – Na verdade são duas prioridades desenvolvidas pela Secom, uma conseqüência da outra: a inclusão digital, com expansão da banda larga no RS e, como decorrência, a ampliação do diálogo do governo com todos os gaúchos, de forma a que eles participem e influenciem o nosso governo.

Jornalismo B – Qual a tua opinião pessoal e a opinião do governo sobre a ideia de controle social da mídia?
Vera Spolidoro – Entendo que a informação, pela importância que tem na constituição da cidadania, é um direito social, assim como o acesso à saúde e à educação. Nestas duas áreas, há Conselhos originários da sociedade, previstos e regrados por lei, no sentido de fazer cumprir as determinações constitucionais de direito à saúde e à educação. Da mesma forma, acredito que devamos ter um Conselho de Comunicação, para garantir o direito à pluralidade e do acesso à informação.

Jornalismo B – Têm se espalhado por alguns Estados do país iniciativas no sentido da criação de Conselhos de Comunicação. Essa ideia pode chegar ao Rio Grande do Sul?
Vera Spolidoro – Queremos que o tema seja debatido, para chegarmos ao melhor formato de Conselho. Isso será feito no Conselhão (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social-CDES), em Grupo Temático de Comunicação que está sendo criado.

Jornalismo B – No RS temos uma das mídias mais concentradas do país, com grande predomínio do Grupo RBS. Além de ser pauta constante de movimentos sociais, esse tema já foi debatido inclusive em audiências públicas chamadas pelo Ministério Público. Como o governo Tarso vai lidar com essa situação?
Vera Spolidoro – Este deverá ser um bom tema para debate no Grupo Temático de Comunicação do CDES. A questão da concentração de mídias acontece não só no RS, mas em todo país. A desconcentração, quando ocorre, se dá por disputas de mercado, e não por atenção à cidadania e à formação plural de opiniões. Assim, vamos propor esse debate para a sociedade, via Conselhão. Ao mesmo tempo, as verbas publicitárias do governo do Estado, que chegam a mais de R$ 100 milhões se considerarmos a administração direta, indireta e empresas estatais, não serão concentradas, mas aplicadas democraticamente e com isonomia.

Jornalismo B – Serão formuladas políticas de fomento à mídia independente? Em caso positivo, de que forma isso será feito?
Vera Spolidoro – Quando afirmamos que as verbas publicitárias serão distribuídas com isonomia, estamos incluindo os vários tipos de mídia: as tradicionais, as segmentadas, as regionais e as digitais. Ao mesmo tempo, manteremos uma relação de diálogo, no sentido de oferecer permanentemente informações relacionadas às ações do governo, utilizando todas as ferramentas de comunicação e disponibilizando-as para todos os veículos.

Jornalismo B – Como o governo vai lidar com demandas originadas em encontros como as etapas regionais da Confecom, por exemplo, ou o Encontro de Blogueiros Progressistas, que se avizinha?
Vera Spolidoro – Tais demandas serão examinadas e consideradas, porque diálogo é isso. É muito cara, para nós do governo, tal relação. porque nela reside o que o governador Tarso define como uma instância pública não-estatal de participação. Os movimentos que se organizarem e buscarem diálogo encontrarão um parceiro no governo Tarso e na nossa Secretaria.

Jornalismo B – O último governo recebeu muitas críticas na gestão e no uso político da TVE. Quais as ações do novo governo em relação à emissora?
Vera Spolidoro – A Fundação Piratini deve ser cada vez mais pública e menos estatal. Há um esforço, no país, para que isso aconteça, a partir da criação da EBC-Empresa Brasileira de Comunicação. A TV Piratini e a FM Cultura estão sendo revitalizadas, dentro do espírito que defendemos de pluralidade, tanto na emissão de opiniões por parte dos veículos, como de possibilitar um espaço para que as vozes da sociedade sejam ouvidas.

Jornalismo B – Como vês a situação das políticas públicas brasileiras sobre a mídia, relacionando-as com o que vem sendo feito em países como a Argentina e a Venezuela?
Vera Spolidoro – O debate sobre a democratização dos meios alcançou o Brasil recentemente, embora desde a Constituinte, em 1987-88, já se ouvisse muitas vozes defendendo o tema. No entanto, foi no Governo Lula que se aprofundou a questão, num período em que as novas tecnologias da informação empurram as mídias para a convergência. Assim, o debate sobre democratização dos meios ampliou-se. Hoje se discute a necessidade de ofertar banda larga para acesso à internet; a disponibilização de novos espaços de transmissão de dados; a convergência entre a telefonia móvel, a internet e a televisão; e sabe-se lá que novidades surgirão, no futuro próximo. Portanto, o debate em torno das políticas públicas no Brasil deve ainda ser aprofundado. Embora nossos vizinhos latino-americanos tenham bons exemplos para oferecer, acredito que é do esforço da sociedade brasileira, em conjunto com nossos governos, que surgirá a melhor possibilidade para que o povo brasileiro tenha condições de informar e ser informado.

Postado por Alexandre Haubrich


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