domingo, 20 de outubro de 2013

E ASSIM NASCE O PROBLEMA ENTRE VONTADE E DESEJO

por Leonardo Inazaki*

“Ela” simplesmente observou, não houve correspondência entre o desejo do que era sentido e a vontade de realizar este algo. “Ela” precisou agir já que o desejo era um e a vontade era outra. Mas “Ela” sabia, ainda que não tivesse se manifestado que era a única capaz de controlar os desejos e as vontades como também estabelecer a diferença de uma e de outra. 

Se a Vontade é a responsável direta por colocar a vida em movimento e por meio dela fazer do pensamento ação o desejo por sua vez se conecta diretamente aos sentimentos e as emoções. Desejamos por sentires e emoções e realizamos isto pela vontade. Neste sentido, as duas apesar de se aproximarem – por que ambas querem algo –, se apresentam de formas distintas. Até mesmo por que a vontade pode, e freqüentemente o faz contrapor-se ao desejo para evitar a consumação de algo que pode nos trazer dor ou angustia. Assim nasce o problema e as diferenças notáveis entre o significado como uma e outra se expressa no desejo do masculino e do feminino. A vontade é a categorização do desejo em ação, como “Ela” é a Lógica ou a Razão mediando estas pulsões.

No feminino o desejo se mostra camuflado, com um disfarce sutil de forma quase que indireta. É uma espécie de savoir-faire que se manifesta de forma tímida ou intencionalmente acanhada. O feminino parece desejar menos que o masculino, com um tom de intensidade relativizada, mas isto é aparente e nas aparências não se encontra a verdade. Isto pode ser explicado por este desejo feminino se expressar com maior freqüência que no universo masculino.

Na verdade, o feminino deseja ardentemente, fortemente, mas sabe quando deve moldar seus desejos em relação ao outro. Este moldar evita o conflito e frustração do feminino ao não conseguir a realização de seus desejos e vontades. Quando não consegue a realização do desejo pela ação da vontade a idéia de destruição do mundo a sua volta é de uma crueza inconsolável e avassaladora. Tudo lhe escapa, tudo é trágico e um outro desejo toma conta como forma de substituir esta frustração. Comer por exemplo. Mas se realizado ou consumado o seu desejo a idéia de poder ou de realização, algo como ter o mundo em suas mãos, é capaz de envolvê-las completamente da cabeça aos pés.

No masculino o desejo se apresenta como uma linha reta, direto, imediato. É como se o masculino estivesse possuído de uma imensa fome e tivessem que matar esta fome de forma imediata. O desejo no masculino é imediato sem espera. O masculino se sente impaciente se não consegue consumar este desejo, ou seja, o impulso deste desejo é prioritário e mais facilmente confundido com a vontade. Quanto mais rápido o masculino consome seu desejo mais depressa se desmanchará sua impaciência.

Por isto que “Ela” a razão ou a lógica não pode permanecer em estado de imobilidade diante a Vontade e o Desejo humano. Se o Desejo provém de estímulos dos sentidos e das emoções a Vontade provém do pensamento e da razão. Se o Desejo satisfaz caprichos e fantasias a Vontade satisfaz necessidades na luta pela vida. Se o Desejo é impulsivo e de difícil controle a Vontade é racional, controlada pelo pensamento, enfim, se não houver a razão mediando estes conflitos nasce o problema entre a Vontade e o Desejo.


*Graduado em Filosofia.

<> Texto publicado na edição nº 43 da Revista Afinal.


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