quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Mudanças na disputa midiática brasileira


por Alexandre Haubrich/Jornalismo B


Na forma atual do capitalismo e da luta de classes, a questão midiática é central para a disputa dos de baixo, para a luta por transformações estruturais. A opressão, disfarçada por pequenas melhorias nas condições de trabalho e pelo aparelho discursivo do capital, é uma realidade que só poderá ser extinguida com mudanças estruturais, com a mudança do sistema social, econômico e político. Nesse contexto, para avançar sobre os aparatos que precisam ser tomados – o Estado e os espaços de trabalho – é necessário avançar na consciência de classe, e, na sociedade midiatizada em que vivemos, a mídia alternativa pode e deve exercer um papel protagonista nesse caminho.

A mídia brasileira vive um momento de redefinições. Não apenas pelo aparato tecnológico disponível, algo que está acontecendo em todo o mundo. Mas também porque, no Brasil em específico, ativistas, por um lado, e a população em geral, por outro, começam, enfim, a fazer melhor uso desse aparato.

Lutadores anticapitalistas vêm conseguindo finalmente apropriar-se e fazer uso efetivo das mudanças tecnológicas. Ao mesmo tempo, a população vem passando a usar mais – e melhor – a internet, o que tem ampliado sua visão e feito com que se aproxime dos midialivristas mais ativos. O afastamento da etapa anterior, no qual os espaços de web mantinham uma espécie de comunicação em caixas, na qual pouco dialogavam pessoas e grupos com interesses iniciais diversos, aos poucos é quebrado.

Os protestos de junho e julho tiveram – e ainda têm – papel fundamental nessa aproximação. Em mais de um sentido, de mais de uma forma. Primeiro, a existência de pautas construídas por atores próximos aos midialivristas facilitou a cobertura e quase obrigou a ela, quebrando uma barreira histórica da “nova mídia alternativa”, essa dificuldade – que é, inclusive, logística – em fazer coberturas noticiosas. Se esse ganho ainda não conseguiu expandir o espaço dos protestos, chegar a eles já constitui vários passos nesse sentido. Segundo, os resultados dessa cobertura mostraram a importância desse avanço que há tempos vinha sendo debatido sem que se encontrassem soluções: abriu-se mais um canal de informação sobre o que de mais importante acontecia no país, e o leitor aproximou-se, ao mesmo tempo em que nos aproximamos do leitor.

Essa situação, de avanço da mídia alternativa, tem assustado os conglomerados de comunicação. A aproximação com a realidade, grande trunfo da mídia de esquerda, avança na disputa contra o poder político e econômico, principal arma dos grupos de comunicação dominantes na medida em que a internet torna mais baratas as coberturas e esse potencial vai sendo cada vez melhor aproveitado. A resposta vem com força, com ataques à mídia alternativa e mais ataques às lutas pela democratização da comunicação. Essa resposta vem da mídia dominante e vem também de seus lacaios nas universidades e seus parceiros nos parlamentos.

Nessa dinâmica de avanços e respostas, como podemos dar o próximo passo? Algo importante parece ser sistematizar e unir ao que já temos de preparação teórica o que, na prática, se deu ou se intensificou a partir dos protestos: trabalho coletivo dentro da mídia alternativa e fortalecimento do diálogo entre esta e os mais diversos movimentos sociais combativos, aumento e aprimoramento das coberturas e reportagens, e, mais do que isso, pensando a si própria. Essa autorreflexão é fundamental para criar autoconsciência, única forma de compreender o papel social e político que podemos e devemos desempenhar e os caminhos que se oferecem ou que precisamos abrir nesse momento histórico.


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