sábado, 22 de dezembro de 2012

Precisamos falar sobre os EUA

A pergunta que surge depois da comoção pelo novo massacre na escola primária de Connecticut, onde morreram 28 pessoas, a maioria crianças, não é “o que será feito para conter esse flagelo norte americano”, senão “quando e onde será o próximo”. 

Uma sociedade enferma como a dos EUA, sedenta dos recursos naturais ao redor do planeta, o que implica impor os rumos bélicos ao mundo, parece não ter mais condições para torcer esta trágica realidade doméstica, tipicamente norte-americana. Em primeiro lugar porque os seus cidadãos se opõem a qualquer restrição ao porte de armas. Nos EUA, a segunda mais alta taça de homicídios por armas de fogo no mundo, existem nove armas para cada 10 habitantes, mais de 270 milhões de armas! Um número estarrecedor, um barril de pólvora em cada esquina, em cada casa, em cada escola.

Obama e qualquer político norte-americano sabe que esse tema é muito espinhoso. Em julho deste ano, na matança do cinema Aurora e em plena campanha presidencial, tanto ele quanto o seu rival fugiram da discussão do tema da proibição de armas. Agora tampouco houve medidas concretas nesse sentido, apenas declarações de pesar. 

A guerra é a locomotiva dos poderosos fabricantes de armamento que alimenta o complexo militar-industrial do país e como sabemos, para o imperialismo, a guerra é o principal objetivo da guerra, seu objetivo é apenas manter sua continuidade, motor do sistema capitalista. Parece ser que isto vale também dentro das suas fronteiras e o alvo então pode ser qualquer um, até as crianças. 

Em Tiros em Columbine (2002), o cineasta Michael Moore aborda o famoso massacre perpetrado por adolescentes, também numa pacata cidade interiorana, e a escritora Lionel Shriver em Precisamos falar sobre o Kevin (adaptada para o cinema em 2011), coloca uma mulher que reexamina, em longas cartas ao marido, a sua trajetória em busca dos motivos que podem ter transformado seu filho, Kevin, num assassino. 

Nós, cidadãos do mundo inteiro, preocupados por este cenário de insanidade, precisamos urgentemente falar sobre os EUA.

Carlos Pronzato
poeta e cineasta/documentarista
pronzato@bol.com.br
www.lamestizaaudiovisual.blogspot.com

Artigo publicado no jornal A Tarde (Salvador, Bahia), 21.12.12

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