por Paulo Nogueira*
“Qual a sua visão sobre jornalismo de celebridades?”, me pergunta Caio, repórter da Trip, por telefone.
“Jornalismo de celebridades bom é jornalismo de celebridades morto”, respondo.
Penso num instante se estou exagerando e logo concluo que não. Jornalismo pode não ser um sacerdócio, como alguns românticos pensam – mas também não é o comércio abjeto de fofocas e intrigas que é o jornalismo de celebridades.
O jornalismo de celebridades deseduca o leitor. Contribui para que ele permaneça no hades da ignorância que o faz acreditar que é importante saber que a atriz da novela das 8 está namorando com o galã da novela das 9.
Some publicações como as revistas Quem, Caras e Contigo, e mais as assemelhadas que copiam a fórmula, e você vai chegar a zero em dignidade jornalística. Você não vai sair do zero se acrescentar as primas-irmãs deste tipo de publicação, as colunas sociais dos jornais.
É chocante que Quem, Caras, Contigo et caterva sejam impressas no chamado “papel isento” — um velho benefício fiscal supostamente destinado a estimular a produção de conteúdo educativo.
Se o jornalismo de celebridades fosse uma escada rumo a leituras mais sérias, haveria algum sentido nele. Mas não. É uma jornada que leva do zero ao menos 1, e daí para baixo. Lamentavelmente, até a mídia digital foi infestada de jornalismo de celebridades. O que os internautas mais consomem, no mundo inteiro, são futricas – e bizarrices.
Há um notável contraponto no jornalismo digital: o Wikileaks. Passados alguns anos, eu imaginava que já teriam surgido outros Wikileaks ao estilo do de Julian Assange. Mas o combate feroz de que é vítima o Wikileaks parece ter desestimulado iniciativas do gênero. (Assange está enclaururado há meses na embaixada do Equador porque duas mulheres que quiseram dormir com ele quando ele era o “cara mais legal do mundo”, nas palavras de uma delas, o acusaram de forçá-las.)
O jornalismo de celebridades é um Big Brother em forma de notícias: não há milagre que o melhore. Rastejará qualquer que seja o formato. Na Inglaterra, como lembra o jornalista John Pilger, os tablóides começaram a morrer como alguma coisa editorialmente significativa quando se renderam ao jornalismo de celebridades. Daí a invadirem criminosamente caixas postais de pessoas em busca de furos foi apenas um passo.
Os tablóides ingleses são agressivos em relação às celebridades. São, nisso, o oposto do jornalismo de celebridades do Brasil, onde todos os personagens são lindos, íntegros e felizes.
Nenhuma das duas fórmulas – agredindo ou louvando — salva o jornalismo de celebridades da espantosa mediocridade a que ele condena a si próprio e aos leitores.
Jornalismo sem nada de educativo não é jornalismo. Exclamação. E o jornalismo de celebridades apenas deseduca.
Não sei se era exatamente isso que Caio, o repórter da Trip, esperava ouvir. Mas uma vida inteira passada em redações consolidou em mim não diria nem aquela opinião – mas aquela convicção plena, total, reluzente de tão clara e límpida.
*Paulo Nogueira é jornalista e vive em Londres. Antes de migrar para o jornalismo digital e dirigir o site Diário do Centro do Mundo foi editor assistente da Veja, editor da Veja São Paulo, diretor de redação da Exame, diretor superintendente da Editora Abril e diretor editorial da Editora Globo.
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