quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A cosmovisao cooperativa etnica afro e indigena


A cosmovisão cooperativa 
étnica afro e indígena 


por Clarice Tomaz*


As relações humanas são imprescindíveis para a construção da identidade social, a transição do trabalho instintivo do homem em formação para a atividade laboral coletiva permitiu o desenvolvimento da sociedade.

A cooperatividade é um instrumento universal, nata em alguns grupos, por vezes inata em outros, mas construída pela necessidade humana. Alguns povos possuem a prática da cooperação como uma filosofia, entre muitos outros cito os povos indígenas e os povos africanos, lembrando sempre que estes se dividem em muitos grupos étnicos, com diferentes especificidades também no campo da organização social.

A cosmovisão onde o mundo foi criado para todos e todo elemento que nele existe é importante, tendo o mesmo valor ao Criador faz com que estes povos respeitem e priorizem a ajuda mútua. A terra é um espaço gerador de sociabilidade, logo temos então um locus de preservação cultural que ao mesmo tempo é uma reconstrução cultural. Suas práticas cotidianas como a produção de alimentos, coleta, caça, debate e as decisões dos problemas ocorrem naturalmente na coletividade. Esta organização social está fundamentada dentro da tradição e da ancestralidade. A religião torna-se, portanto, um sistema de símbolos que define como o mundo é e estabelece uma postura que a pessoa deverá ter ao longo da sua vida. Estabelece um modo de sentir, viver e agir.

"Trata-se de aprender a viver e não de capitalizar conhecimentos".

A África sofreu fortes rupturas após a colonização do continente, o encontro com o mundo individualista ocidental e o mundo africano deu lugar a crises profundas e radicais. Os europeus em sua maioria com espírito voraz de exploração e de dominação: desprezaram a autoridade dos anciãos, desestruturaram as famílias, interferiram nas estruturas sócio-religiosas e nos espaços geográficos, começando assim um processo de destruição das identidades dos povos negros com a imposição violenta e arbitrária de uma nova cultura e mentalidade, aquela de submissão aos brancos. O mesmo ocorreu com os povos indígenas em toda a América. Ainda hoje não compreendemos o desapego material, o não acúmulo tão vivido por estes povos.

Mesmo assim, entre os negros, muitos ainda vivenciam a ética UBUNTU, filosofia africana que existe em vários países de África, que foca nas alianças e relacionamento das pessoas umas com as outras. A qual significa: "a crença no compartilhamento que conecta toda a humanidade” e ainda "Sou o que sou pelo que nós somos”.

Esta prática está no cotidiano das aldeias indígenas, na valorização da circularidade, nas rodas de capoeira, nas casas de religião de matriz africana, nas casas de meditação indígena, envolta dos elementos da natureza.


* Clarice Tomaz é assessora pedagógica na 17ª CRE / Santa Rosa (RS).

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