sábado, 24 de março de 2012

Cultura: Coluna do Schimo


o  x  i  g  ê  n  i  o


Pra começo de conversa... viva o Conselho Municipal de Cultura de Santa Rosa!!!


Deja-vu
É forçoso concluir que aprendemos muito pouco com a batalha pela preservação do Palácio Municipal (invariavelmente taxado de “Prefeitura Velha”) de Santa Rosa. Com o Clube Concórdia, a farsa trágica se repete. Pena.


E viva o Musicanto também!!!
*Sugestão de trilha sonora para acompanhar a leitura das próximas linhas: “O Silêncio das Estrelas”, de Lenine.

Giro um pouco ao revés os ponteiros do tempo para não deixar de assinalar que, em novembro último, Santa Rosa realizou mais um Musicanto. Esse idiossincrático festival alcança agora 25 edições. O que não é pouco, convenhamos. No geral, esta foi uma boa edição. Registro aqui algumas de suas particularidades.

Pratas da casa
Chamou atenção a significativa presença de músicos locais no palco da competição. Bem diferente do que ocorreu há 29 anos quando da realização do inesquecível (e insuperável) 1º Musicanto. Diferente também de 20, 15, 10 anos atrás. Essa salutar profusão de elementos musicais pratas da casa deve-se hoje à própria existência do festival. E ainda, ao progressivo aprimoramento técnico de toda uma geração formada em nossas escolas de música.
O fato dos compositores santa-rosenses Fernando Keiber, Cláudio Joner e Paulinho Rabuske utilizarem suas respectivas “turmas” para defender suas músicas corrobora essa realidade. É isso aí, rapaziada.

Bruma
Um pequeno mistério intrigou os espectadores deste Musicanto: como, quando, onde e por quem foi feita a escolha da música mais popular do cotejo? Eu me bati atrás de uma maneira de votar na bifebubalinaMinha Placa-mãe, mas dei com os burros n’água. Ninguém sabia informar nada.

Caranguejo
Lembro-me agora que os apresentadores do Festival estavam “gauderizados”. Já não havíamos superado essa fase?

Paralela
Em competição paralela à que ungiu a milonga Bendito Seja vencedora deste 25º Musicanto, o pernambucano Lenine levou nítida vantagem frente aos gaúchos Luiz Carlos Borges e Nei Lisboa. Estes artistas - todos de muy buena cepa - foram os responsáveis pelos shows de encerramento das três noites do Festival. E, como de praxe no evento, chegaram ao final de suas respectivas apresentações com uma presença de público significativamente inferior ao início das mesmas.
Pelas estatísticas compiladas por um pequeno grupo de envergonhados curtidores da boa música universal - todas baseadas no olhômetro, claro, mas nem por isso mais imprecisas que os números oficiais costumeiramente catapultados pelos eventos regionais - Lenine, o vencedor, conseguiu segurar metade do seu público inicial. Borges, em torno de 30%. E o lanterna Nei Lisboa, apenas uns 20%.

E por falar em Lenine...
Chê!, o cara matou a pau. Impressionante. Alicerçado em um verdadeiro power trio (Pantico Rocha, Guila e Jr. Tostoi - este, um Sr. Guitarrista), o pernambucano inundou o Centro Cívico com sua sonoridade mestiça e multifacetada, resultante de um diálogo intenso entre a brasilidade e o pop-rock planetário. É show para embasbacar neguinho em qualquer canto do mundo.
(Alô, alô, produção do Musicanto: faltou divulgar antecipadamente “qual era” do show do Lenine. Pouquíssima gente tinha idéia do petardo sonoro que estava por vir.)

Cartão postal
Entreouvido nas cercanias do Centro Cívico numa tarde de passagem de som do 25º Musicanto:
- Que fedentina!, meu bom.
- Insuportável.
- Não me lembrava que essa santa cidade fedia assim...
- Tu não veio ano passado?
- Não. Fazia uns cinco anos que o Musicanto não me queria.
- Então vai te acostumando. É como disse um peão lá do hotel: “É o cheiro do futuro, o tal do capitalismo chinês”.


Envidia
*Daqui em diante, um bom chamamé, ao gosto do vivente, será uma bela companhia.

Agora apresso un segundito a ampulheta e estaciono naquele período lamentavelmente escaldante do finado janeiro. Como tenho por hábito veranear aqui mesmo, nessa terra santa, a seco, tendo a urbe como horizonte - um horizonte circundado pelos indefectíveis sojais, compondo um entorno ora vicejante, a exalar um verde-esperança, ora agonizante, como o desta feita, com plantas mirradas, sedentas, fustigadas semanas a fio por um sol inclemente - busco maneiras de amenizar a modorra recorrente.

Este ano, uma vez mais, debrucei-me na janela virtual para acompanhar algumas lunas da correntina Fiesta Nacional del Chamamé e do Festival Nacional del Folklore de Cosquín. E outra vez a inveja tomou-me de assalto. Nem poderia ser diferente, pois tanto os correntinos quanto os argentinos em geral sabem celebrar suas manifestações culturais de uma maneira muito especial.

Em Corrientes, el chamamé reina. Este ano, a 22ª edição da festa que lhe presta tributo encarreirou nove longas noites de música, dança, alegria e comunhão, atraindo ao Anfiteatro Mario Del Transito Cocomarola milhares de chamameceros das mais diversas procedências (segundo o Instituto de Cultura de la Provincia de Corrientes a frequencia de público variou de oito mil a quinze mil pessoas por noitada. Mesmo que apliquemos o salutar desconto de praxe, sobra ainda muita gente. É só conferir nas imagens virtuais). Reunindo os mais respeitados artífices deste gênero musical originariamente correntino, a Fiesta recebe seu público ao ar livre, o que não deixa de ser uma maneira inteligente de aproveitar a reincidente carência de chuva desta época.

Cosquín, por sua vez, é o grande encontro da música folclórica platina. O escenario (palco) Atahualpa Yupanqui, fincado na Plaza Próspero Molina, é local sagrado para os apreciadores dos diversos gêneros e ritmos musicais gerados pela rica simplicidade das culturas moldadas nos diferentes recantos da América do Sul. É também termômetro para a aceitação ou não das inovações e mesclas que imiscuem-se nestas manifestações folclóricas. Este ano foram outras dez lunas de casa cheia, com transmissão televisiva para todo país.

Estes festivais* têm caráter de mostra (não há competição e/ou premiação entre as músicas) e catalisam um verdadeiro turismo cultural. São eventos que deixam com água na boca os que imaginam que um dia possamos novamente vir a valorizar e festejar nossa riquíssima diversidade musical, equilibrando quantidade e qualidade.


Schimo
Santa Rosa, 24 de março de 2012


*Para quem quiser encurtar caminhos aos mesmos, está aí o youtube. Ficam duas dicas:
(Raly Barrionuevo em Cosquín)
(Teresa Parodi em Corrientes)

Nenhum comentário: