terça-feira, 15 de novembro de 2011

Um lugar chamado Solar Palmeiro

Foto: Nilton Santolin
por RAQUEL PIEGAS*


Sofia Amudsen, a garotinha personagem de Jostein Gaarder, certamente iria gostar de ler suas cartas no centro de Porto Alegre. Mais especificamente, em um dos jardins do Solar Palmeiro, na companhia de Batman, Jeanie e Gaby, os gatos. Em meio ao caos urbano, a filosofia ocupa as paredes do casarão, que agora é sede da Nova Acrópole.


Foi em uma sala tomada pela luz do sol que a diretora da instituição, Paula Ibarra, recebeu a reportagem do CultNews. Em um ambiente arejado, que chama a atenção pela imensidão das peças, a Nova Acrópole se instalou há exatamente 25 dias, unindo em um só lugar as três unidades que mantinha em Porto Alegre.

O objetivo da mudança é unificar o ensino de todos os cursos oferecidos pela escola, além de proporcionar aos estudantes – que também atuam como voluntários – um ambiente amplo para convivência e vivência. Isso porque a Nova Acrópole é uma escola de filosofia que ministra suas atividades à maneira clássica. Claro que isso não implica ficar acorrentado dentro de uma caverna para entender um pouco do pensamento de Platão. O método utilizado diz respeito a aplicar a filosofia no cotidiano, fazer com que o conhecimento seja vivenciado. “As escolas preparam o ser humano para a função operacional na sociedade. Esqueceu-se do desenvolvimento do homem na sua totalidade. Isso era feito pelas antigas escolas de filosofia, e a Nova Acrópole vem com essa proposta”, explica Paula.

Sem dúvidas, o Solar Palmeiro passa uma atmosfera tranquila. Nem ao menos parece que está situado no centro de Porto Alegre, no número 148 da Praça da Matriz. Cercado por árvores, cantos de pássaros e com a ajuda de um dia de primavera, o passeio pelo Solar, construído no início do século por Ricardo Wirth, é uma experiência agradável. Só de banheiros, são catorze. Há dois porões, um com acesso somente por uma passagem secreta. E há incontáveis salas, que já abrigaram a Família Palmeiro da Fontoura, inclusive suas crianças, responsáveis por travessuras que prejudicaram alguns elementos da casa.

Atirar bolinhas de papel molhadas em um dos afrescos da casa era um dos hobbies preferidos das crianças Palmeiro da Fontoura. Em uma pintura, que reproduz a entrada lateral da casa, pode-se ver a Porto Alegre do início do século XX. Na vizinhança, retratada por um autor não-revelado, é possível identificar o Teatro São Pedro e um grande bosque, que denunciava que o pátio do Solar se estendia até a Santa Casa. Na peça onde o afresco está situado, uma espécie de jardim de inverno, repousam em sofás próprios os três gatos da casa, que nos recepcionaram e nos acompanharam durante toda a matéria.

Os ensinamentos e o templo

Mesmo com a decoração improvisada e com móveis fora de lugar, o Solar Palmeiro vem ganhando ares de escola. A ideia é fazer da casa, além de um espaço de estudos filosóficos, um centro cultural, planejado para maio de 2012.

Paula Ibarra leva o CultNews pelos corredores do Solar, mostrando que todos os cantos serão ocupados. A Nova Acrópole leciona, dentro da filosofia, ciência, arte, religião e política. Entre alunos e professores, a sede de Porto Alegre, umas das 400 ao redor do mundo, conta com mais de trezentas pessoas, que se reúnem em turmas que podem variar de dez a mais de quarenta alunos. As atividades incluem grupos de teatro, dança, artes marciais, diálogos e até mesmo um chimarrão com Platão. “A filosofia é uma área integradora do conhecimento. Nós procuramos oferecer uma formação diversificada e ativa, onde as pessoas participem diretamente do aprendizado”.

Através de doações de empresas e da colaboração dos alunos, a Nova Acrópole começa a se estruturar para receber seu Centro Cultural. Todas as atividades já planejadas serão abertas ao público, e contemplarão a cultura sob a luz da filosofia. Leonardo da Vinci, Alquimia e Índia Antiga já são temas definidos. “Vamos fazer um trabalho com uma exposição a cada três meses. Teremos palestras, diálogos e convidados para discutir determinados assuntos”.

A arquitetura do Solar Palmeiro é curiosa. Ele possui três pavimentos, construídos em épocas distintas e, portanto, com a arquitetura distinta. O que predomina é o estilo neoclássico, que pode ser percebido nas janelas do segundo andar. Há um jardim convidativo a uma leitura dentro da edícula. Desocupado desde 2008, o prédio já foi restaurante, sede de partidos políticos e também da Secretaria de Cultura do Estado do RS.

Em vias de ser tombado como Patrimônio Histórico, o Solar não mantém suas características originais na totalidade, pois recebeu a Casa Cor em 1995. Algumas partes da casa precisam de restauração, que ficam esperando algum tipo de colaboração. “ Não somos subsidiados pelo governo, por partidos políticos ou por ONGS. Dependemos dos próprios membros da associação”, conta Paula. Mesmo que a ajuda venha em grande quantidade financeira, as mudanças devem ser feitas por partes, já que a Nova Acrópole não pode fechar as portas. “É uma questão de sobrevivência, porque nós nos mantemos. Temos urgência para cumprir nossas metas e deixar o local completamente pronto para receber a cultura e o público dentro de poucos meses”.

Além da mudança de local e da idealização do Centro Cultural, a Nova Acrópole começa as suas atividades na nova casa com a palestra Solar Palmeiro – o centro de Porto Alegre em evidência, nesta quarta-feira (9), às 20h. Comandado por Paula Ibarra e com a presença de Rita Chang, o evento mostrará a importância histórica da reabertura do prédio. “Pretendemos contar também a história da família Palmeiro da Fontoura, que manteve esse prédio durante três gerações. Além disso, queremos mostrar que há o que se ver em Porto Alegre, tudo é uma questão de conhecimento e de capacitação de profissionais que tragam o turismo para cá”, explica Paula.

Sem dúvidas, além de um convite à filosofia, a sede da Nova Acrópole proporciona uma tranquilidade para quem a visita. Cada canto da casa, que parece não ter fim, já foi palco de uma história. Com a ajuda dos quadros da entidade, que retratam deuses egípcios, ensinamentos renascentistas e a filosofia de povos antigos, o Solar Palmeiro ganhou ares de misticismo e de sabedoria. E, a partir de agora, ele fica de portas abertas para quem quiser fugir da correria da Capital.

*fonte: Cultnews www.cultnews.com.br

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