quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Coluna do Schimo: o x i g e n i o


o   i  g  ê  n  i  o


Publicidade anarquista (aprendizes de Nero)
*Sugestão de trilha sonora para acompanhar a leitura destas linhas: “London Calling”, do The Clash (aquela velha cortina do Entrevero).

Ao folhear um diário rio-grandense bati os olhos num anúncio daqueles que servem, primordialmente, para inflar os egos de seus “geniais” criadores. O reclame tenta convencer o vivente da necessidade de adquirir um veículo último tipo e, de lambuja, sugere o que ele deve fazer com sua atual fubica: atear fogo! Mesmo que sua “fubica” seja um modelo 2010 ou 2009 fabricado pelo próprio anunciante, o lance é incendiar a caranga.

Nem imagino se um “arroubo de criatividade” desses vende mais ou menos unidades do espécime anunciado, mas creio que dá muito pano pra manga ao suscitar consumismo desenfreado, egoísmo, agressão ao meio ambiente, disfunção erétil, piromania, descartabilidade de bens de consumo duráveis, etc. Só isso já daria mote para um belo Resistência, né Bola?

Note-se bem o timing da moçada. Numa hora em que praças e ruas de diferentes latitudes concentram movimentos contestatórios - como a muito não se via -, e, por aqui, brigadianos são acusados de imolar pneus em nossas sempre precárias rodovias, nada mais up-to-date que transformarmos nossas fubicas em combustível para aquele sagrado churrasquinho, colaborando assim para o aquecimento da combalida economia global.

Pergunto-me ainda se o anunciante (que tem matriz justamente lá na terra de Belmondo e Fanny Ardant) lembrou de estampar essa mesma peça nos outdoors dos subúrbios parisienses, onde torrar carros - dos outros, bien sûr - é o esporte preferido da juventude local? Ou nos bairros londrinos que acabam de ser apresentados a essa nova modalidade de entretenimento? Será?


Catastrofismo gratuito
Não está fácil de entender os expertos em economia que habitam o canal Globonews. Afinal, o “problema” brasileiro não era o real mui valorizado? Por que então sua recente desvalorização frente ao dólar transformou-se no “problema”? Tá certo que nos últimos anos, por todo o planeta, os analistas econômicos tenham dado quase sempre com os burros n’água, mas esse catastrofismo barato cheira a algo mais que cegueira ou inaptidão com os números. Qual é a de vocês, caras-pálidas?


Ruídos da bola
*Sugestão de trilha sonora para acompanhar a leitura destas linhas: “Sex Machine (Part 1)”, de James Brown.

Algumas coisas mudam, meus camaradas. Por exemplo, em passado não muito remoto, boleiro que se destacava na peleja saía do vestiário abraçado num rádio de pilha, presenteado por algum patrocinador de alguma emissora AM. Lendo uma crônica do Beto Kieling, dias atrás, fiquei sabendo que os artilheiros deste Brasileirão são premiados por algum programa de TV com a deferência de escolher uma música para ser rodada no mesmo. Ao menos foi isso que entendi. Beleza.

Pois o Beto levantou o assunto porque encasquetou com o gosto musical dos boleiros. Citou um goleador que pedira uma peça que seria um híbrido de funk e sertanejo universitário. Eu, por minha vez, encasquetei com o Beto: como será que ele consegue definir o que é um “sertanejo universitário” dentre as intermináveis mazelas sonoras geradas pelo tsunami breganejo que nos assola sem trégua desde os anos 90?

A porção funk creio que não seria muito difícil de reconhecer - “funk carioca”, é sempre bom ressaltar, chupado do miami bass e não do gênero defendido com muito suor, orgulho e inspiração pelo The Godfather of Soul, Mr. Dynamite, The Hardest-Working Man in Show Business... Mr. James Brown!!!. Aliás, apenas essa apropriação indébita já configuraria um sólido motivo para que Mr. Brown relutasse muito em baixar aos sete palmos de sua atual morada.

Só para constar: esse negócio de “sertanejo universitário” cheira a marketing rasteiro e de resultado tão questionável quanto seu recheio. Se a onda era emprestar lustro e respeitabilidade a um subgênero musical desprovido de amparo crítico, parece-me que o tiro saiu pela culatra. A imagem do nosso ensino superior é que acaba sendo ainda mais banalizada. Pena.


Gravemóveis
Diferentemente do Beto Kieling, até que não ando me incomodando muito com as escolhas musicais dos boleiros - alguém até me confidenciou que o artilheiro-gente-boa Leandro Damião, quando homenageado, solicitou um AC/DC para alegrar a vida de alguns amigos. Essa figura vai longe! -, sobretudo por não conviver com os caras e por desviar-me contumazmente dos programas midiáticos em questão.

Em compensação, há certos ruídos dos quais não consigo me esquivar. Nem eu nem os demais cidadãos moradores das minhas cercanias. Temos, em nossa vizinhança, uma instaladora de som automotivo. Não é difícil imaginar a sequencia de graves, médios e agudos que se espalha pelos arredores durante o dia. Mas é na “calada da noite” que o desassossego faz-se mais presente. É muita sonzeira medonha, pneus relinchando, motos empinando, enfim, é muvuca por toda a madrugada. Tudo regalado pelos educadíssimos frequentadores de um "24 horas" que se instalou na redondeza. Coisa muito interessante, bem típico de uma cidade sem lei.


Superclássico das Américas? Mas com que roupa?
E por falar em coisa interessante, esta foi mesmo uma jogada de mestre: tornaram corriqueiro e rasteiro o que deveria ser raro e do mais alto nível técnico. Ora, realizar o embate Brasil x Argentina religiosamente duas vezes ao ano, e ainda por cima disputado por boleiros coadjuvantes, é palhaçada da grossa. Um belo desserviço à história do futebol.


Schimo
20.10.11

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