terça-feira, 6 de setembro de 2011

Sabado de Sol / Urgencia-Emergencia

por Sávio Hermes*

A história é simples. O cidadão teve uma semana pesada. Chuva e frio e tempo fechado e umidade e frio. Tudo o que se comentava pelos corredores e portas de elevadores era que a previsão do tempo era de que o sábado seria de sol. Então, a proposta era mesa farta e reunião familiar, conversa e mate ao sol.

Tudo resolvido. Todos, presentes. Mesa posta. Mate rodando, conversa pegando prumo. Mas entre olhares ansiosos, a coisa começou a ficar visível. O que está acontecendo? A primeira vista, procurava-se o fogão, para ver se não ficou uma boca aberta sem chama. Nada. Sensivelmente os lábios começam a indicar, tipo radar, que algo ferve, queima, evapora e assa no ar – narinas, boca e garganta.

De forma até acanhada liga-se para o 190. Este indica o número da Patram (1225) - ninguém atende. Afinal é sábado. Surge a idéia dos bombeiros, este diz que a vida é assim mesmo e não tem nada que se fazer. Rádios, jornais e televisão somente tentando entreter.

E mesmo assim para fritar um ovo ainda uso azeite. Azeite. Opa, azar. As margens do pessegueirinho estão em chamas. Pesquisei se havia alguma profecia para o fim do mundo, nesta época, onde se abririam as portas do inferno - por que o cheiro de enxofre está devastador.

Deve ser registrado. O fato acontece de sábado, 03 de setembro de 2011, das 10h até à hora em que fui tentar dormir (já no dia 04), em Santa Rosa/RS, nas áreas que transitei, ao longo do rio, acima e abaixo da fábrica de óleo. Uma sensação de queimação dos lábios, ardência dos olhos e secura da garganta, tendo situações, ainda de enjôos relatados. Sempre com um forte cheiro de enxofre. Num sábado de sol.

E voltamos a história simples. Como não deu certo o almoço em família, por causa do odor nauseabundo vindo do rio, que apenas traz o recado, de que está tudo limpo e que podemos fritar mais bolinhos em dias de chuva tóxica e que o nasonex custa só R$ 60,00 e o SUS custeia a cirurgia dos cornetos e que o cidadão saiu do sábado desanimado, estacionou num estabelecimento etílico e depois de muito exercício, resolveu voltar para casa a pé e na altura da ponte de acesso a vila glória, desmaiou, ficando praticamente dentro do rio, que estava com um aspecto esponjosamente estranho.

Depois de sonhos voluptuosos, acordou. Sentindo-se renovado, parece que todo álcool foi apenas uma jarra d água na noite passada. Notou, contudo, que havia alguns apêndices em suas costas, como umas ventosas. Mas estava muito bem, deve ter sido do tombo, do desmaio - vamos à luta companheiro.

Como a subida é íngreme, resolveu apertar o passo e de repente percebeu certa leveza em seus pés e quando olhou para baixo sentiu que estava voando. Os apêndices rasgaram sua camisa e projetaram uma turbina, como um jato propulsor. E, quando passava em frente a um mercadinho viu que no cinema municipal está passando o capitão américa.

Por favor, se a poluição é inevitável, ao menos avisem a população para saírem de suas casas e poderem ter a oportunidade de não se expor a esta carga e de suas conseqüências, que vão saber quais são. Assim como o veneno aplicado nas lavouras deve ser informado, através de sinalização - os dias de aplicação.

*Sávio Hermes é advogado.

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