Rusga entre espanhol e brasileiro mudou planos do Fronteiras do Pensamento, que faria um debate com os dois juntos no palco
EDUARDO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

Já Thomas apresentou trechos de alguns de seus espetáculos em vídeo e, afirmando que não tinha discurso pronto, propôs responder perguntas do público. Saiu meia hora depois.
"Debates como esse não são frutíferos, portanto, vou dizer boa noite, e o resto é hipocrisia", disse o brasileiro, vaiado pelo público, que pagou mais de R$ 500 pelo pacote de ingressos das palestras ao longo deste ano. A organização do evento havia inicialmente planejado ter Arrabal e Thomas lado a lado no palco e, após a suposta conferência de cada um, haveria meia hora de debate. A programação sofreu mudanças depois d

As entrevistas coletivas com os dois convidados, que deveriam ter sido feitas em conjunto anteontem à tarde, acabaram sendo separadas. E Arrabal e Thomas não quiseram nem se cruzar em frente ao elevador.
Já na entrevista, questionado pela reportagem da Folha sobre se havia conhecido seu colega de conferência, Arrabal respondeu: "Quem é esse homem? Nunca ouvi falar. Um matemático?". Na entrevista, Arrabal lembrou sua amizade com o dramaturgo irlandês Samuel Beckett (1906-1989).
Beckett, com quem Thomas conviveu e se correspondeu, deveria ter sido ponto de interseção e de partida para as palestras de ambos. Thomas, que na sua curta palestra mostrou nos telões uma foto em que aparece conversando com Beckett, referiu-se a Arrabal como "esse homem de uma peça só e que é imitação de Beckett". "Ele, não me lembro bem o nome dele, acho que "Enrabal", tem ciúme por causa da minha relação de seis anos com o Beckett."
Mesmo sem falar diretamente sobre sua obra no cinema ou teatro, ou ainda a criação do grupo de teatro Pânico e seu envolvimento com o surrealismo, Arrabal chegou a fazer o público rir: "Sou um personagem desconhecido. Mas sabem por que estou aqui? Porque sou o dramaturgo mais representado do mundo. Porque todos os meus colegas já morreram."
Em seguida, Thomas subiu ao palco dizendo que já havia superado um pouco o teatro do ridículo, referindo-se à apresentação de Arrabal. Em outra provocação ao dramaturgo, Thomas disse: "Tinham pedido para eu não falar do Franco [ditador espanhol, durante o regime do qual Arrabal esteve preso]. Por que não?
Sou neto de vítimas do Holocausto e podem falar de Hitler comigo. Tem que brincar com a tragédia da vida."
O jornalista EDUARDO SIMÕES viajou a convite do Fronteiras do Pensamento
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