terça-feira, 7 de janeiro de 2014

SAÚDE DO HOMEM




por Alexsander Kucharski*

No mês passado (N.E.: o texto foi escrito em dezembro) tivemos vários eventos referentes ao “novembro azul”. Assim como temos o “outubro rosa”, que é um mês dedicado a prevenção do câncer de mama, novembro é dedicado a prevenção do câncer de próstata. 


O câncer de próstata é um tumor em que a incidência aumenta gradativamente com o avançar da idade, principalmente após os 50 anos. Sua prevalência é maior em homens com parentes de primeiro grau que tiveram a doença. Sua evolução é lenta, o que em tese permitiria um planejamento do tratamento com certa tranquilidade, mas infelizmente muitas vezes o diagnóstico é feito tardiamente e por isso, para essas pessoas a letalidade é alta. Isso acontece devido à relação que os homens têm com seu corpo, fazendo com que retardem a ida ao médico para fazer o exame de próstata e outros exames de rotina. 

No século passado as mulheres iniciaram um grande movimento social para mudar a visão que a sociedade tinha das mesmas. Graças a este movimento as mulheres tiveram o direito a trabalhar, direitos políticos para poderem votar e serem votadas, e direitos em relação ao seu corpo. Por incrível que pareça, as mulheres não tinham direito aos cuidados consigo mesmas, a ter o número de filhos que quisessem e até mesmo ao prazer sexual. Por isso, no setor de saúde houve toda uma reestruturação para o cuidado com a mulher tais como planejamento familiar, com distribuição de métodos anticonceptivos, programas de prevenção dos cânceres de mama e colo de útero, e de pré-natal e puericultura. Por tudo isso a mulher de hoje não é a mesma de outrora. 

Os homens, por sua vez, passaram este período como espectadores passivos da evolução das mulheres, e continuaram a se comportar da mesma forma, sem questionar seu papel na sociedade.

Por isso ainda hoje existe uma ideia prevalente de que os homens (e em especial os gaúchos) devem sair em seus carros pelas ruas pensando que são os caudilhos da revolução farroupilha. São machos, cheios de testosterona, andando em alta velocidade, sempre prontos para enfrentar o perigo, e não dispensando uma boa peleia. 

Para essa figura estereotipada de homem não há espaço para qualquer tipo de sofrimento físico ou mental, nada pode abalar essa imagem de “forte”. Por isso a negação das doenças, pela não procura dos profissionais de saúde. Não fazem revisões periódicas e quando é detectado algum problema, abandonam o tratamento. 

Os homens adoecem e morrem mais por acidentes domésticos, de trânsito, da prática de esportes e de trabalho, por violência, uso de drogas (álcool, cigarro e outras), doenças sexualmente transmissíveis e doenças crônicas muito mais que as mulheres. Quem quiser comprovar vá a um baile de terceira idade e veja a proporção entre homens e mulheres. 

O homem de hoje sofre porque, ao contrário das mulheres, não fez sua mudança interna, não se atualizou, é o mesmo de sempre. E sofre calado, porque “homem não chora”. 

Por esse motivo o Ministério da Saúde lançou um programa específico para o cuidado com a saúde do homem, enfocando todos os aspectos citados anteriormente. 

O mundo mudou, e se nós, homens, não acompanharmos esses avanços vamos ficar para trás e sofrer as consequências. Nenhum homem é mais homem que outro por fumar ou beber ou usar outras “cositas” a mais, por transgredir leis de trânsito ou não levar desaforo para casa; e ninguém vai deixar de ser homem se comer umas folhas verdes nas refeições, se fizer exercícios, se admitir que as vezes sofre por dor física ou mágoa, e se de vez em quando consultar com um médico e fizer uns exames de rotina entre eles o tão temido “exame de próstata”.


*Alexsander Kucharski é médico de Família e Comunidade. Atende na Clínica Ostaclin, em Santa Rosa.

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