segunda-feira, 15 de abril de 2013

Omissões da imprensa reforçam o mito da democracia racial



Uma cobertura que omite fatores diretamente relacionados às desigualdades raciais no Brasil e que privilegia um discurso contrário aos mecanismos de enfrentamento do racismo. É a conclusão que se chega a partir da análise das 101 páginas da mais completa pesquisa sobre mídia e racismo, divulgada no final de 2012, pela ANDI - Comunicação e Direitos. Intitulado "Imprensa e Racismo: uma análise das tendências de cobertura jornalística", o relatório analisou 1.602 notícias envolvendo a temática, publicadas em 45 jornais impressos das diversas regiões do país, entre 2007 e 2010.

Antes da exposição dos números, vale ressaltar a definição de racismo adotada pela ANDI. Para a entidade, trata-se do "fenômeno de discriminação negativa contra determinados indivíduos ou grupamentos humanos, que é operado e manifestado de diferentes maneiras". Dessa forma, o racismo pode ser individual, quando praticado por determinado indivíduo contra uma pessoa ou grupo de pessoas; ou institucional, quando se refere à prática de determinadas instituições, que dificutam ou impedem o acesso de grupos raciais ou étnicos a determinados serviços e benefícios.

"Está suficientemente demonstrada a contribuição do campo simbólico na (re)construção do racismo – o que inclui o universo da comunicação midiática em geral e, especificamente, do jornalismo", destaca a introdução do relatório da ANDI. Ou seja, ao ignorar os percentuais que comprovam a maior incidência de violência física contra os negros brasileiros, por exemplo, a mídia contribui para operacionalizar ou legitimar a dominação de grupamentos humanos sobre outros - a chamada violência simbólica, definida pelo sociólogo Pierre Bourdieu.

Os números comprovam

Uma das principais conclusões da pesquisa da ANDI é a clara desvinculação entre as violências físicas praticadas contra a população negra e o debate sobre o racismo. Ou seja, o discurso majoritário (83%) das reportagens analisadas pela pesquisa ignora a violência física praticada contra negros. Entretanto, dados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, comprovam que a maioria dos homicidios que ocorrem no país atinge jovens negros: em 2010, 50% das vítimas tinha entre 15 e 29 anos; destas, 75% eram negras.


Fonte: Viva Favela (via Geledés)


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