sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Toda generalização é burra

por João Batista Costa Saraiva

Pretendia escrever sobre a resolução do CNE que regula a idade mínima de acesso de crianças ao ensino fundamental. Seis anos. Isso gera polêmicas, em especial quando se ignora que o cognitivo e o emocional não costumam andar de mãos dadas. Sou a favor da regra, enquanto instrumento de normatização e organização. No caso presente ainda, animado por aquele ditado de que não será por muito madrugar que irá amanhecer mais cedo.
Fui Juiz da Infância e Juventude quase toda minha carreira. O tema da adolescência, da violência, da delinquência  ainda ocupa quase todo meu tempo, agora na academia. Minha carreira foi quase toda em Santo Ângelo, naquele querido chão vermelho missioneiro. 

Aposentado, me vejo morando em Porto Alegre. Vim para cá por certo por causa da mesma academia a que me dedico agora, palestras, mas especialmente pelos filhos, e também os netos .... enfim.
Mas estou aqui e não lá, também, por paixão. Aqui posso ir aos jogos do Grêmio e escapar da pasteurização que o assistir jogos de futebol pela televisão nos impõe.
O futebol é mágico, democrático, igualitário em sua emoção. Está na alma do brasileiro, onde quem o assiste se diz torcedor. Aquele que torce. Não assiste. Diz-se que o termo vem do início do século passado, quando os assistentes iam com lenços aos estádios e os torciam enquanto viam o jogo. Daí, torcedores. Portanto a torcida faz parte do jogo. Participa. Fala-se tanto do "fator local".

Nessa semana atendi a iniciativa do vereador Alberto Kopittke fui à Câmara participar sobre o debate em face o espaço geral da Arena, onde se assiste jogos em pé, e se torce. Grande iniciativa.
Estamos todos dilacerados pelo absurdo abominável do incêndio de Santa Maria e neste contexto o grave acidente ocorrido no jogo do Grêmio com a LDU, na avalanche, toma ainda maior dimensão.
Mas é preciso distinguir três focos desta questão: 
a) a violência nos estádios e a conduta de baderneiros; 
b) a possibilidade de assistir aos jogos em pé e assim participar mais ativamente do "torcer";  e, 
c) a avalanche, um fenômeno comportamental que já tem cerca de dez anos e se tornou marca da torcida do Grêmio e até vinheta de publicidade do futebol na TV.

A "solução" de colocar cadeiras no espaço atrás das goleiras é de um simplismo antidemocrático e contradiz um compromisso assumido na construção do próprio novo estádio. Viola um contrato.

Toda a generalização é burra. Há leis para responsabilizar aqueles que infringem nossas normas, seja um, dois, dez, ou mais.
Estender a proibição a todos, será como proibir o tráfego de veículos por conta dos acidentes de trânsito ou acabar com os casamentos por causa da violência doméstica.
Na Câmara um arquiteto lembrou que andar de bicicleta é perigoso. Daí as ciclovias e não a proibição das bicicletas. A torcida, a festa, a avalanche, enfim, as manifestações do torcedor fazem parte do espetáculo que é o futebol. Espaços mais baratos, para assistir aos jogos em pé, há em muitos modernos estádios europeus. Uma forma de combater a elitização do futebol enquanto espetáculo popular.
Não entendo como será possível que a reforma do Beira-Rio não contemple esta possibilidade. Aliás, creio que em ambas goleiras da Arena os espaços de trás deveriam ser sem cadeiras, oportunizado um custo de acesso mais baixo. A violência, enquanto fenômeno contemporâneo, está nas estradas, dentro de casa, e, muitas vezes, no campo de futebol ou em seus acessos. Para isso há que se responsabilizar quem a pratica.
Sem generalizações totalitárias, como nos adverte Todorov, em Inimigos Íntimos da Democracia, cuja leitura recomendo a todos. 

Como todos sabem, um Estado que se pretenda apenas com direitos, corre o risco de derivar para uma anarquia. Outro se pretenda somente com deveres fatalmente se transforma em uma tirania. A democracia está no equilíbrio entre dever e direito.
Essa coisa de tudo aqui virar grenal, não dá pra querer.



Um comentário:

Anônimo disse...

"Toda generalização é burra" é uma sentença generalista. E é preciso ser muito burro para não se dar conta disso.