sábado, 3 de novembro de 2012

“Em cultura, somos um pais pequeno”


“Em cultura, somos um país pequeno”

Curador do Masp, Teixeira Coelho defende Lei Rouanet e critica desdém com o MinC

[entrevista concedida à revista CULT]

Teixeira Coelho, Curador do MASP
Como justificar a queda do orçamento do Ministério da Cultura no governo Dilma?
Teixeira Coelho – Só o MinC ou a gestão Dilma podem e devem justificar essa queda – e, creio, não o farão. O que fica ainda mais claro é a pouca ou nenhuma importância atribuída ao MinC pelo governo.


Como a retração do crescimento econômico no Brasil pode afetar os investimentos privados em cultura?
Pode afetar em muito. Cultura não é prioridade nem para o poder público, nem para a iniciativa privada. E o restante da sociedade civil tampouco se preocupa com ela. No Brasil, continua valendo a perspectiva segundo a qual cultura é gasto, quando, na verdade, é investimento. Um bom museu no Brasil devolve à sociedade pelo menos 1,5 vez o que consome em orçamento.
A miopia cultural já deixou de ser folclórica para transformar-se em omissão. E omissão cultural é crime, se não no Código Penal, pelo menos na história.


Em que a Lei Rouanet foi satisfatória e em que foi insuficiente desde 1991, quando entrou em vigor?
Ela respondeu pela dinâmica extremamente relevante da cultura nesse período. Sem ela o país teria sido, outra vez em sua história, um deserto cultural. Agora novamente, por motivos ideológicos carcomidos e fora de época, busca-se podá-la ou, se possível, eliminá-la.
As leis de incentivo fiscal à cultura, desde sua criação no final da década de 1980, consagraram o reconhecimento de que a cultura é uma questão sobretudo da sociedade civil, cabendo ao Estado papel acessório. Procura-se apagar isso da memória nacional.
Como toda lei, pode ser melhorada. [De fato] As grandes instituições públicas ou de natureza pública sofreram com o aparecimento dos novos atores culturais.
Mas o que se quer fazer agora é um recorte dos recursos da Lei Rouanet com a proposta de um pedágio que tiraria de cada projeto apoiado um valor de 20% para alimentar os cofres do MinC.
Por outro lado, as leis de incentivo ainda não conseguiram convencer os empresários e a sociedade como um todo a investir por conta própria na cultura, sem precisar de incentivos a sociedade brasileira.
Ou a sociedade brasileira como um todo é infensa e alheia à cultura, o que é uma tese respeitável, ou a economia brasileira está longe de ser a maravilha que se apregoa, não deixando margem para que se invista em cultura.
Provavelmente, ambas as hipóteses estão corretas. Não temos aqui a cultura da cultura, diversamente do que ocorre nos EUA. Por isso continuamos a ser um país pequeno.

[paulada!]

Nenhum comentário: