quarta-feira, 31 de outubro de 2012

As artes de Arthur Bispo do Rosario

por Luciana Hidalgo

Com diagnóstico de esquizofrenia-paranóide, ele viveu recluso por meio século e morreu há 23 anos, mas sua obra atravessou os muros da instituição psiquiátrica e obteve reconhecimento


Arthur Bispo do Rosário é homenageado na 30ª Bienal de São Paulo e escolhido para representar o Brasil no Victoria & Albert Museum, em Londres, na celebração dos Jogos Olímpicos. Em novembro, a exposição segue para Lisboa, em comemoração ao ano do Brasil em Portugal e, em 2013, retorna ao país, em mostra no Rio de Janeiro e integra exposição itinerante ao interior do estado de São Paulo realizada em parceria pela Fundação Bienal e o Sesc.

Manto da Apresentação
Bispo foi autor de mais de 800 peças, feitas com diferentes materiais, como sucata e tecidos. A aplicação de objetos apropriados do cotidiano, intercalando textos, fios e outros materiais encontra em Bispo seu significado mais íntimo. O artista abalou conceitos e a própria definição de arte no Brasil, além de contribuir para expandir a utilização dos suportes, indo muito além da tinta e da tela. 

Para o curador do Museu Bispo do Rosário de Arte Contemporânea, Wilson Lázaro, curador convidado da Bienal e organizador do Livro Arthur Bispo do Rosário - Século XX (Reptil Editora), esse não é o ponto principal. "Pensar a obra do Bispo nos parâmetros da arte contemporânea no fundo é uma questão que não tem muito fundamento, porque ele criou de um modo particular. Podemos falar de uma atitude, pois ele estava se autoconhecendo por meio da obra", esclarece.

Resultado de uma parceria importante para democratização da arte contemporânea, o Sesc e a Fundação Bienal também estarão juntos em um projeto itinerante, levando as obras de alguns artistas nacionais e internacionais que participaram da 30ª Bienal de São Paulo para unidades do interior no primeiro semestre de 2013, representadas por Araraquara, Bauru e São José do Rio Preto.

Além do fato de propiciar o encontro do público que não esteve no espaço da mostra paulistana, o intento do trabalho educativo realizado no evento da capital será reproduzido nas demais cidades. Para Juliana Braga, assistente de Artes Visuais da Gerência de Ação Cultural do Sesc, "a abordagem educativa foi desenvolvida em conjunto com a visão da curadoria e isso se replicará, certamente, nas unidades do Sesc".

De acordo com Juliana Braga, o processo terá em mente o princípio citado por Luis Pérez-Oramas, curador da edição mais recente da Bienal, baseado no conceito constelar. Ou seja, não houve aposta em uma estrela, mas sim o intento de destacar grandes nomes no conjunto. "Formando, assim, grupos constelares nos quais os artistas sustentam conceitos equivalentes em suas obras", destaca. Compondo essa constelação de talentos das artes visuais, os artistas como Guy Maddin (Canadá), H. Eijkelboom (Holanda), Absalon (Israel), Elaine Reichek (Estados Unidos), Nino Cais (Brasil) e Sheila Hicks (Estados Unidos/França), juntam-se ao nome de Arthur Bispo do Rosário nesta itinerância.

Bispo do Rosário (1911-1989), morreu aos 78 anos sem ter a dimensão do impacto que seu trabalho iria provocar no Brasil e no exterior. Como homem criativo que era, deu às obras passaporte para o mundo.

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