quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Normais

por Sérgio Rubim*


A revista Veja da semana passada traz matéria de capa sobre a normalidade humana.

Obviamente, até pelo espaço dedicado ao tema, a reportagem é superficial. Porém, algumas considerações arrasadoras estão inseridas no contexto.

Uma delas, de Sigmund Freud, quando diz: “Um ego normal é uma ficção ideal”. A outra, de autoria de Thomas Szasz, psiquiatra húngaro que escreveu “O Mito da Doença Mental”, publicado em 1961, afirma que doença mental não existe e que os seres humanos têm necessidades, aspirações, vontades e valores diversos.

Sem querer polemizar sobre as duas personalidades, reconhecidas no Ocidente, mesmo quando rejeitadas, uma questão deve ser considerada: Quem fixa padrões de normalidade?

Se for a sociedade na sua dinâmica constante, a normalidade é mutante. A lei apenas enquadrada ou tipifica cada novo comportamento humano. Foi assim com a Lei do Divórcio, com a Lei de Tóxicos, a Lei dos Crimes do Colarinho Branco e outras tantas.

Mas, a discussão transcende ao aspecto legal. A questão é farmacológica em sua essência. Claro que alguns sintomas são insuportáveis para o paciente, e neste caso, a química é necessária. E há uma indústria poderosa financiando estudos, congressos e profissionais que recomendam ou prescrevem estes medicamentos aos seus pacientes. Alguns de forma criteriosa, outros de forma extorsiva. O que não se discute
é porque a psiquiatria é uma “ciência” norte-americana e que a classificação das chamadas doenças mentais é feita pela American Pshychiatric Association que publica, de tempos em tempos, um manual detalhado e atualizado das assim chamadas anomalias psíquicas.

Contudo, a normalidade vai além. Se a psiquiatria avança no Ocidente, com suas pílulas, sua terminologia e suas avaliações, traçando um perfil cada vez mais apurado do comportamento humano, o que ocorre no Oriente?

O cérebro humano tem sido um eterno mistério. Nele foi produzida toda genialidade e a barbárie dos homens. E elas coexistem no mesmo espaço psíquico.

Se tomarmos as populações da China, da Índia e da África, teremos quase 50% da espécie humana. Devemos supor, então, que sendo todos nós humanos, poderíamos ter as mesmas doenças psicossomáticas. No entanto, nestas partes do planeta, os tratamentos são outros. Passam pela acupuntura, pela ayurveda e pela fitoterapia dos negros. Além disto, todas estas as terapias admitem uma relação entre corpo e espírito.

A psiquiatria que avança sobre os ocidentais trata das anormalidades como comportamentos decididos na mente, produto da chamada sinapse cerebral alterada em sua frequência regular, quando capaz de emanar sintomas indesejados pela dor que provocam ou pela inconveniência social.

Mas, cabe uma pergunta: É pior um atormentado das idéias que choca seus semelhantes de forma desconcertante ou aquele outro, aparentemente normal, vestido de terno e gravata que chega ao poder em nome do povo e dele rouba e
permite roubar por algum tempo?

Qual destes dois normais é o mais prejudicial à sociedade?

*fonte: Blog do Canga cangarubim.blogspot.com

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