quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Coluna do Schimo


o  x  i  g  ê  n  i  o


Influências
*Sugestão de trilha sonora para acompanhar a leitura destas linhas: tua canção preferida dentre todas que 23 edições do Musicanto revelaram. De preferência, trazida ao presente por uma agulha de diamante desbravando outra vez aquele esquecido long-play.

Mais ou menos há um ano, ao participar de uma churrasqueada comemorativa ao aniversário de um primo – este ano a figura se bandeou lá pro Mato Grosso, escapando de bancar novo rega-bofe –, deparei-me com uma circunstância deveras surpreendente. 

Finalizada a carnificina, o povo espalhara-se pelo pátio e, sob a sombra do arvoredo, tentava amenizar o calor vespertino hidratando-se a rodo. Como a coisa era organizada, um piazedo já havia plugado duas violas num Giannini e começado a entreter os convivas.

O repertório desfiado não me surpreendeu – tampouco me agradou, mas reconheço que no quesito “cancioneiro”, o deslocado era eu –, já a ausência de um sotaque sulino no modo de cantar do crooner, sim. O cara parecia ter se criado chorando as pitangas lá nos cafundós de Goiás. Tudo bem, ninguém é perfeito (claro que se ele estivesse emulando o scouse accent do Ian McCulloch numa versão acústica de Bring on The Dancing Horses – Echo & The Bunnymen, moçada, lá das bandas de Liverpool – eu estaria achando o máximo, né?).

Mas a surpresa maior pintou quando uma rapariga foi empurrada ao microfone pelos amigos-da-onça de plantão e, aceitando sugestão de outrem, solicitou aos violeiros paisanos que executassem No Sangue da Terra Nada Guarani. Neca pau! Nem terra, nem sangue, nem guarani. A canção-símbolo do Musicanto não era do conhecimento da dupla. “Qualquer uma do Musicanto!”, berrou um dos presentes. Também nada. Putz! essa doeu.

Chê! onde é que essa moçada tem andado?!


O senhor do Bom Fim, enfim por aqui
*Sugestão de trilha sonora para acompanhar a leitura das próximas linhas: “Telhados de Paris”, de Nei Lisboa.

E por falar nele... tem novo Musicanto se achegando (sábado, domingo e segunda-feira, agora). E uma vez mais o Festival vem amortizar nosso passivo musical, oportunizando aos concidadãos que ainda tentam fugir do mínimo denominador comum cultural, o encontro, ainda que tardio, com a obra e a figura de Nei Lisboa.

Nei, desde o início dos anos 80, é, ao lado de Bebeto Alves, Nelson Coelho de Castro e Vitor Ramil, um dos pilares do que então se convencionou chamar Música Popular Gaúcha (uma música feita no Sul, de temática urbana, lastreada na MPB, mas sem perder de vista o pop planetário). A rarefeita presença destes cantautores nos ares e palcos do interior do Estado sinaliza um descaso criminoso com a melhor música que fomos capazes de gerar. Agora, enfim, pelas mãos de Nei Lisboa, um pouco da onda do mítico Bom Fim fin de siècle(e da Cidade Baixa e Menino Deus) aportará no privilegiado palco do Centro Cívico.

De lambuja, este 25º Musicanto nos oferece: 25 inéditas concorrentes, o "Hino Riograndense", um redivivo Tambo do Bando, Na Trilha de Gaudi (a “última” do Coelho Joner), o Borges e um pernambucano de nome Lenine. Tá bom? Ou queres que embrulhe?


Hieróglifos contemporâneos
Concomitante ao Musicanto, vai rolar na TV – via Multishow – um festival paulista denominado SUV, cuja transmissão será patrocinada por um SWU de um determinado fabricante de veículos. Então, captou?


Schimo
10.11.11

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