quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Celulares e Câncer

Por que não abrir o jogo?

Por Alberto Dines em 7/10/2008 do OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br

Está na capa da edição corrente da revista The Economist (27/9) exatamente nestes termos: "Celulares e câncer". Nas páginas internas, o texto intitulado "Loucura móvel" descreve a confusão em torno de um estudo multinacional que demorou seis anos para ser completado e custou 30 milhões de dólares.

Erros metodológicos atrasaram a montagem das conclusões e persiste a controvérsia. Aqueles que não acreditam nos efeitos perniciosos das irradiações eletromagnéticas já prepararam uma manchete: "Celulares não produzem tumor cerebral". O grupo adversário vai contra-atacar: "Uso intenso de celular aumenta o risco de tumores benignos".

Enquanto a controvérsia não é esclarecida, uma publicação responsável como aEconomist não se omite e sente-se no dever de alertar o distinto público para a possibilidade de uma grave ameaça à saúde.

No verão setentrional, outro semanário – o francês L´Express – foi mais candente e mais longe em reportagem com 12 páginas e enorme chamada na capa: "Enquete sobre os verdadeiros perigos dos [telefones] portáteis" (17-23 de julho, 2008).

Quantas matérias têm sido publicadas no Brasil sobre o assunto?

Papel impresso

A resposta pode ser obtida por via indireta através de outra pergunta: "Qual é o produto eletrônico mais anunciado na mídia?". A indústria jornalística brasileira, como sempre, adota a tática do avestruz: omite-se e enfia a cabeça na areia. Prefere suprimir o debate, na esperança de que os malefícios causados pelo celular sejam desmentidos, do que oferecer às suas audiências um mínimo de informações.

Mesmo embargada pela mídia, a polêmica sobre a eventual periculosidade dos celulares corre solta nas reuniões de condomínio dos edifícios mais altos dos grandes centros urbanos. As operadoras de telefonia móvel, empenhadíssimas em ampliar o número de antenas, oferecem um bom retorno em troca de um pequeno espaço nos terraços para instalá-las.

De olho no equilíbrio das contas, os síndicos são os primeiros a abraçar a idéia. Convocadas a opinar pelas assembléias de moradores, as empresas que assessoram os condomínios não têm outra alternativa senão oferecer algum tipo de subsídio informativo a respeito da suposta periculosidade dos celulares. Estes subsídios vêm da internet, geralmente em língua estrangeira. Ou de moradores – médicos, físicos ou engenheiros eletrônicos.

Suicídio 1: para preservar o faturamento publicitário, nossa mídia foge ostensivamente da sua obrigação elementar – alertar e esclarecer.

Suicídio 2: antes que se esclareça a questão com pesquisas científicas confiáveis, a mídia resolveu apostar no celular como jornal-de-bolso, substituto da mídia impressa.

Papel impresso pode sujar as mãos, mas jamais foi denunciado como causador de doenças.

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