Por Leonardo Rodrigues*
Antes, uma entre as muitas definições do jornalista era a de reportar ao grande público informações e imagens do que acontecia nas ruas. Atualmente, qualquer adolescente com seu smartphone pode em segundos enviar fotos e textos para qualquer pessoa ou veículo, e em qualquer parte do mundo. Existem hoje aparelhos e aplicativos que permitem ao cidadão comum viver seu momento de repórter. Condições e capacitações recomendáveis à profissão passaram, com os anos, de obrigatórias para opcionais. Mas, em que momento a tecnologia relativiza o jornalismo e o ameaça?
As mudanças não apenas tornaram mais difícil conceituar os profissionais de comunicação, como trouxeram crise aos negócios. As empresas que tinham por hábito procurar profissionais com “tarimba” para a eles associar suas marcas, atualmente pesquisam referências de popularidade com o objetivo de expandir seu alcance e aumentar o número de cliques.
Os reflexos do cenário são perceptíveis. Isso porque qualquer veículo de comunicação é, antes de tudo, um negócio, e como tal preza por fontes de receita. Mas tais fontes se sustentam, e em grande parte, na publicidade, que por sua vez se abriga onde há audiência. Em paralelo, o fenômeno de as pessoas se informarem mais por redes sociais do que por veículos tradicionais de informação faz a receita com a propaganda se dispersar, em velocidade crescente. Isso obriga as grandes mídias a cortar gastos, a enxugar a folha de pagamento e, em alguns casos, ao encerramento das atividades.
Na maioria das vezes, os jornalistas não trabalham para outro jornalista. Antes, se reportam a um empresário. O fato revela hierarquia e aponta para quem tem a última palavra. A tomada de decisão é, em geral, coerente com o que ele entende por prioridade.
Não se pretende aqui sinalizar que a tecnologia e seus avanços são algo ruim. O desenvolvimento de novas ferramentas propicia um processo de quebra de paradigmas. Tal processo, por estar ainda em ebulição, promove mudanças de mercado que, neste instante, não nos permitem vislumbrar novos modelos de negócio/comunicação ainda não criados, ou mesmo imaginados. Há hoje mais dúvidas que respostas. Algo não muito palatável, mas natural do movimento de renovação na era da informação.
O comunicador moderno se percebe diante da necessidade de dar novos significados ao que já tinha por concreto. Reflexões sobre novas medições de feedbacks, sobre avaliações do que se entende por sucesso no jornalismo atual, ou ainda sobre a busca de sincronia entre ser ao mesmo tempo rentável e relevante vieram substituir outros questionamentos que faziam parte da sala de aula nas faculdades de comunicação social, como, por exemplo, a existência de imparcialidade, ou não. Os tempos são outros, as questões também. E ainda não há respostas prontas.
A ameaça ao futuro do jornalismo não está no avanço da tecnologia. Antes, os riscos se encontram se o universo acadêmico não se apresentar como espaço pensante para novas ideias e buscas (ou construção) de novas respostas. Há certo tempo, as instituições tidas por academias abriram mão do experimento e da criação. Com isso deixaram de oxigenar o mercado para apenas produzir profissionais pasteurizados e em fôrmas. É cada vez mais rara a originalidade na academia. Cada vez mais os diferenciais das faculdades evaporam, para se apresentarem como irmãs gêmeas.
É preciso ousar. O risco, o pensar, o cair e o levantar cabem à atmosfera das universidades. Elas precisam se mostrar como esperança na construção de novos horizontes. Para a comunicação, o exterminador do futuro não são as máquinas, mas a acomodação. A essas instituições roga-se ousadia para não se conformarem com o status quo. Assim como a tecnologia, devem quebrar paradigmas e assegurar vida longa ao negócio chamado comunicação.
*Leonardo Rodrigues é jornalista e chargista.
fonte: Observatório da Imprensa
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