segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

NOVIDADES DA CIRURGIA PLÁSTICA

Dr. Nelson Dutra com o cirurgião plástico Ivo Pitanguy.
por Nelson Dutra*

[texto publicado nas páginas 36 e 37 da edição #43 da Revista Afinal]








Até alguns anos atrás, a Medicina era uma profissão que exigia, de quem se dedicava a ela, muito esforço e compromisso. Isto não mudou, mas algumas coisas mudaram, e muito. Os valores e os conhecimentos milenares a respeito dos sinais e sintomas de um doente eram aprendidos na faculdade e, depois disto, cada médico ia aprender na prática como aplicar seus conhecimentos e curar seus doentes.

Hoje, isto é pouco. Acredita-se que a cada 4 anos o conhecimento médico disponível em artigos publicados, frutos da pesquisa e do descobrimento de novas técnicas, dobre de tamanho.

Assim, a Medicina desmembrou-se em várias especialidades com a finalidade de melhor atender aos pacientes. É certo que esta divisão complicou um pouco a vida das pessoas, que às vezes têm que consultar mais de um médico para resolver um problema de saúde, mas por outro lado veio a melhorar a qualidade do atendimento prestado.

Cada especialidade, aqui no Brasil, se organizou e promove regularmente congressos médicos para divulgar o conhecimento atual entre seus associados. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e suas filiadas nos estados brasileiros, promove e/ou apóia, todos os anos, aproximadamente 20 encontros deste tipo, além do congresso anual.

Hoje em dia, o médico que não freqüenta os congressos de sua especialidade vai ficando gradualmente para trás em relação aos seus colegas.

Recentemente ocorreu aquele que é o maior congresso de Cirurgia Plástica do mundo, na cidade do Rio de Janeiro. Compareceram os maiores especialistas da área para discutir, debater e divulgar aquilo que existe de mais atual no mundo da Cirurgia Plástica.

O Brasil é muito respeitado nesta especialidade no mundo todo e os plásticos americanos costumam acorrer em massa para os nossos congressos. Foram aproximadamente 3.000 profissionais entre alunos e professores, profissionais altamente qualificados e expoentes máximos da especialidade.

Foi possível conviver com verdadeiros ícones como o Dr. Ivo Pitanguy, pioneiro da cirurgia plástica brasileira e mundial, o Dr. Ives Illouz, médico francês criador da Lipoaspiração e o Dr. Sherrell Ashton, especialista em rosto, com consultório em Nova Iorque.

Há aproximadamente 50 anos atrás, o Dr. Pitanguy criou uma técnica de redução mamária que é usada até hoje, aquela que é chamada de “cicatriz do T invertido”. No entanto, a cada ano, inúmeras variações desta mesma técnica são criadas por um sem número de novos e antigos cirurgiões e, como diz um ditado da nossa especialidade, “uma só chave não consegue abrir todas as portas”.

Se cada pessoa é diferente e única, é melhor quando há várias chaves para as várias portas que existem. A lipoaspiração, que foi criada há uns 30 anos, apresentou alguns problemas no início, pois ainda não se tinha o domínio da técnica e não se sabia qual a quantidade que podia ser retirada com segurança. Hoje, já se sabe (entre 5% e 7% do total do peso corporal) - e assim os problemas não ocorrem mais no dia-a-dia.

No que diz respeito ao rosto, novas técnicas de levantamento (lifting) surgem a cada dia. No passado, para levantar as estruturas do rosto que caem com o passar dos anos, simplesmente se retirava o excesso de pele junto à orelha (na frente e atrás) e isto era suficiente. Hoje, com o avanço das novas técnicas, é possível corrigir a queda de alguns músculos da face e até do pescoço e, com isto, obter resultados mais duradouros.

No andar superior do rosto (a testa), a toxina botulínica tem dado bons resultados, podendo dispensar a cirurgia.

A retirada de pele do abdome (abdominoplastia) também tem algumas novidades, como a associação com lipoaspiração para a obtenção de resultados mais naturais.

Quanto às mamas, há um método que tem sido empregado para aumentos discretos, sem o uso de próteses, que é a injeção de gordura da própria paciente. Há alguns anos, evitávamos fazer este tipo de procedimento porque a gordura implantada poderia criar com o tempo, pequenos nódulos calcificados que poderiam ser confundidos, ao exame de mamografia, com nódulos suspeitos de câncer. Os exames radiológicos, no entanto, evoluíram e hoje não há mais este risco, estando, portanto, liberado mais um procedimento para aumentar as mamas, que vêm se somar ao já consagrado silicone.

As próteses de silicone foram criadas em 1962 e já estão em sua sétima geração. A cada ano estão com aspecto mais natural, pois a qualidade do gel interno é cada vez mais aperfeiçoada e os resultados têm sido cada vez melhores, aliado ao fato de que não há mais a necessidade de trocá-las a cada 8 ou 10 anos como no passado.

As próteses de silicone no bumbum já estão ficando seguras e a cirurgia vem aumentando sua procura ano a ano. As primeiras próteses colocadas ainda não entusiasmavam a maior parte dos cirurgiões plásticos, devido ao fato de que o plano anatômico mais adequado para sua colocação ainda não estava bem definido. Isto tem mudado e, cada vez mais, este procedimento tem feito parte da rotina dos consultórios.

Vou terminar contando uma história que ouvi do Dr. John Tebbets, o maior especialista em silicone no mundo. Ele conta que, freqüentemente, quando as pacientes estão na primeira consulta com a intenção de colocar silicone nas mamas, o pedido que ele mais ouve é:

-“Doutor, eu quero que as minhas mamas fiquem bem naturais!”...

Sempre que lhe pedem isto, ele diz, brincando:

-“Bem, se você quer “bem natural” eu posso fazer, mas quando você deitar com a barriga prá cima, elas vão se separar e vão cair cada uma para um lado”...

É quando todas elas respondem:

-“Ah, não! Então eu quero bem artificial, doutor!”...

É um jeito descontraído de explicar que o silicone nas mamas já não precisa ter o aspecto “natural”, mas é importante que a mama fique bem modelada ao invés de ficar “estufada”.

O médico pode ouvir a vontade da paciente, mas tem a obrigação de orientá-la para obter os melhores resultados.


*Dr. Nelson Lindner Dutra é Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Atende na Clínica Svelare, em Santa Rosa.


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