domingo, 19 de julho de 2009

É proibido silenciar

DEU NA FOLHA DE S.PAULO

É proibido silenciar

De Clóvis Rossi:

Uma vez, anos atrás, um acadêmico norte-americano especializado em América Latina (o nome se perdeu nas brumas da memória) comentou comigo que a palavra "accountability" não tem tradução fiel, precisa, nem em português nem em espanhol.

O sentido mais próximo é "prestação de contas". Mas não alcança o mais profundo do conceito, que é o de introjetar a obrigação de render contas de seus atos, especialmente se se é agente público.

Posto de outra forma: o funcionário público, de qualquer calibre, tem marcada na alma a certeza de que deve explicações ao público, mesmo quando o público não as esteja pedindo.

É essa consciência, indispensável à construção da República, que o senador José Sarney demonstra não possuir, ao recorrer a uma frase de Sêneca para calar-se. Essa história de combater o que chama de "injustiça" com "o silêncio, a paciência e o tempo" não passa de fuga às suas responsabilidades e de traição ao conceito de "accountability" que ele, como funcionário público da mais alta graduação, deveria ser o primeiro a defender.

De quebra, Sarney refugia-se na velhíssima e fajutíssima tese de perseguição da mídia. Não, senador, é perseguição dos fatos, e enquanto eles não forem total e definitivamente explicados, continuarão a persegui-lo, no Maranhão, em Brasília, onde for.

É essa fuga à "accountability" que explica os parlamentares que se lixam para a opinião pública. Ela paga os salários de todo esse "band of brothers", mas eles não se sentem compelidos a dizer ao púbico o que fazem, o que só aumenta a suspeita de que o que fazem só cabe mesmo em BOs.

sábado, 11 de julho de 2009

O réquiem tucano no RS

Do site RS Urgente do jornalista Marco Aurélio Weissheimer www.rsurgente.opsblog.org

A saída do secretário Otaviano Brenner de Moraes do primeiro escalão do governo Yeda parece marcar o início da última fase de um governo que agoniza desde o meio do ano passado mas que esteve doente desde o seu nascimento. De direito, Otaviano era o Secretário Estadual de Transparência. De fato, era o último dos homens fortes do governo fazendo as vezes de Chefe da Casa Civil, advogado de defesa da governadora e até mesmo seu porta-voz eventual. Sua saída no mesmo dia em que vieram à tona informações de que outros dois secretários estão na mira da Polícia Federal (Marco Alba, da Habitação, está sendo investigado e Rogério Porto, da Irrigação, já foi indiciado), debilita Yeda de tal forma que, nos corredores da Assembleia Legislativa, já se começa a falar em renúncia da governadora.

Embora pouco provável pela postura adotada por Yeda diante da crise – ela posa ao lado de pés de bungavília, faz uma balanço comemorativo de 30 meses mas se esconde da imprensa, segue reafirmando que o Estado vai muito bem obrigado quando todo o funcionalismo pede seu impeachment e qualifica de requentadas denúncias dos próprios partidários que a colocam como figura central de uma quadrilha – a renúncia da governadora certamente seria vista por alguns aliados como um verdadeiro alívio.

Ninguém fala publicamente isso, mas nos bastidores, lideranças dos grandes partidos que apóiam Yeda já estariam cogitando conversar com o vice-governador Paulo Feijó (DEM) sobre uma futura composição de governo. Seja por torcer pela renúncia, seja por não mais acreditar numa reabilitação política da tucana ou, ainda, por considerar que, quando todas as investigações se encerrarem, o que era para ser o “novo jeito” não terá mais jeito algum.

Quem faz estas contas deve estar levando em conta que há denúncias contra gente do governo em toda a parte, no Ministério Público Federal, no Ministério Público de Contas, no Ministério Público Estadual, no Ministério Público Eleitoral, na Polícia Federal, na Procuradoria Geral da República e até no Supremo Tribunal Federal. Qual é, afinal, o órgão que não está investigando o governo Yeda?

É mesmo muita fumaça para que seja produzida por uma fogueirinha de fundo de quintal e tudo leva a crer que o incêndio seja de grandes proporções e já possa estar comprometendo até mesmo as estruturas da mais importante e imponente construção do Estado, o Palácio Piratini. (Maneco)